São Paulo, quarta-feira, 24 de junho de 1998
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Venceu a unanimidade

JANIO DE FREITAS

Ver Marselha e depois perder. Da Marselha luminosa e acariocada, um cronista mais lírico por certo está falando.
Da derrota opaca, os vários especialistas estão forçados a falar, espero que com a disposição mais apropriada para o que testemunharam.
Ocupo-me da vaia. Nem sei desde quando não ouvia, assim ao vivo, sem a intermediação pouco confiável dos recursos manipuláveis da TV, tamanha vaia.
O antijogo estava ainda nos 7min do segundo do tempo, quando a torcida brasileira iniciou, com a adesão imediata dos noruegueses, mais uma prova eloquente da burrice contida na afirmação, legada por Nelson Rodrigues, de que toda unanimidade é burra.
Foi uma vaia unânime, na sonoridade como na convicção. Precisa, justa e tomara que os destinatários a tenham considerado também humilhante.
A torcida brasileira, pelo que dizia em outro coro, ao final do jogo, parece não considerar os seus craques capazes de sentir-se humilhados: "mercenários, mercenários, mercenários".
Havia no estádio muito mais brasileiros do que se esperava, em se tratando de um jogo indiferente para a já obtida classificação do Brasil.
E o custo da viagem a Marselha, para as caravanas vistas em Paris, haveria de pesar contra o comparecimento.
Nenhum desses fatores previstos por jornalistas se confirmou, seguindo a praxe de tais previsões.
Em certo sentido, o sacrifício, se houve, foi recompensado.
A seleção afinal encontrou um time que, embora longe de admirável, tem uma defesa razoavelmente organizada, um certo esquema geral e compensa, com a determinação, o trato ainda áspero da bola por seus jogadores.
A torcida viu a seleção que os dois jogos anteriores não deixaram perceber.
A seleção resultante do pouco número de treinos, das numerosas indecisões de Zagallo para a formação do time e, é lógico, da falta de personalidade tática.
O oposto, portanto, da vaia organizada, objetiva e inteligentemente unânime que lhe foi aplicada.

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