São Paulo, domingo, 28 de junho de 1998
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França enfrenta 'célebre e enigmático Paraguai'

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LENS

Goleiro Chilavert, grande astro da seleção paraguaia, é o único jogador do time rival de hoje conhecido entre os franceses

Título do jornal esportivo francês "L'Equipe" para o jogo de hoje da França, em Lens: "O Paraguai, mas o que é isso?".
É a mais explícita indicação de que os franceses (jogadores, comissão técnica e mídia) ainda não saíram da surpresa de ter como adversário, nas oitavas-de-final, a seleção paraguaia, tida como a mais fraca do Grupo D, que incluía Espanha e Bulgária, além da classificada Nigéria.
O texto de "L'Equipe" reforça a sensação de surpresa: "O Paraguai é, desde quarta-feira à noite (quando a classificação se definiu na chave), o mais célebre e o mais enigmático dos países".
O goleiro e um dos poucos astros do time, José Luis Chilavert, devolve o desconhecimento dos franceses em relação a sua equipe com um show de autoconfiança:
"Eliminar a França? Qual é o problema? Podemos ganhar de qualquer um", provoca Chilavert.
O próprio treinador francês, Aimé Jacquet, confessa: "Nós não imaginávamos que eles passassem às oitavas-de-final".
O capitão do time, Didier Deschamps, vai mais longe: parece não imaginar sequer que o Paraguai existisse. Deschamps, jogador da Juventus de Turim, conta que seu companheiro de equipe, o uruguaio Montero, lhe fala muito do Uruguai. "Mas do Paraguai?", espanta-se Deschamps.
Mas o técnico brasileiro do Paraguai, Paulo César Carpegiani, não vê motivos para tanto desconhecimento nem tanta surpresa.
Carpegiani credita justamente ao êxodo de seus jogadores (19 dos 22 convocados atuam no exterior) a melhoria no futebol paraguaio.
"Isso permitiu fazer progressos muito rapidamente. O Paraguai já não é um time que depende unicamente de lançamentos longos e de uma correria louca e cega", diz.
Ao que parece, só há um integrante da comissão técnica francesa que conhece o Paraguai. É Christian Damiano, um dos "espiões" à disposição de Jacquet para observar rivais.
O observador foi ver o Paraguai ganhar da Nigéria (3 a 1) e voltou com o diagnóstico de que se trata de uma "equipe-camaleão". Ou seja, "modifica constantemente sua disposição em campo, em função do adversário e das circunstâncias", afirma.
Damiano também reserva o elogio mais caloroso para o único jogador paraguaio conhecido dos franceses, Chilavert. "É dos melhores do mundo, no mesmo nível de Barthez (o goleiro titular da França)", depõe o "espião".
Pelo menos um dos jogadores franceses, o lateral Candela, não esconde a satisfação com o fato de ter que jogar contra o "Paraguai-o-que-é-isso?": "É bem mais fácil do que a Espanha", acredita Candela, opinião compartilhada pela mídia francesa, em geral, por mais cautelosa que ela se mostre em face da imprevisibilidade do futebol.
Mas outro zagueiro, Thuram, não entra no coro do "já ganhou". Ao contrário, prefere lembrar que, na Eurocopa de 1996, a seleção francesa também entrara como favorita e acabou eliminada pela República Tcheca.
O técnico Jacquet passou os dois últimos dias vendo teipes dos jogos do Paraguai, como o faz habitualmente antes de suas partidas.
Mas não parece disposto a adotar o suposto estilo camaleão dos rivais. Ou seja, não vai reforçar, em princípio, o ataque para enfrentar o compacto bloco defensivo paraguaio (um só gol tomado em três jogos).
Jacquet volta a usar os titulares da defesa, todos poupados no jogo contra a Dinamarca, mas não pode contar ainda com sua maior estrela, o armador Zinedine Zidane, que cumpre a segunda e última partida de suspensão.
Conforma-se o jornal "L'Equipe": "A vida sem Zidane pode ser melhor concebida quando o adversário é o Paraguai".

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