São Paulo, sábado, 11 de julho de 1998
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Perigo, perigo!

JUCA KFOURI

Ao contrário do que se supunha, eis que está instalado o perigoso clima do "já ganhou".
Na torcida é normal e não tem importância.
Na imprensa é recorrente e faz parte do clima de quem veio à França para torcer e considera antipatriótica qualquer crítica.
Mas entre a comissão técnica e os jogadores é o que basta para prenunciar uma derrota.
O capitão Dunga terá muito trabalho nas próximas horas para impedir semelhante desvario.
Ao lado de Taffarel, Cafu, Aldair e Bebeto (que jogaram a final de 1994), e de Leonardo e Ronaldo (que não jogaram mas lá estavam), Dunga sabe que um jogo não se ganha na véspera.
O estranho é que todos os adversários da seleção nesta Copa (exceção feita à Holanda que, de fato, era um bicho-de-sete-cabeças) foram superdimensionados antes dos respectivos jogos.
E exatamente o time anfitrião, invicto, com a melhor defesa da competição e com a torcida a seu favor, é dado como derrotado.
Não resta dúvida que em partidas normais, e em campo neutro, a seleção brasileira deve ganhar sete da francesa, empatar duas e perder uma.
Só que este não é um jogo normal, será disputado no campo francês e pode ser exatamente aquele marcado para perder.
Desnecessário citar todas as vezes nas quais o favorito, o melhor time, não ganhou a Copa.
Prevalecesse o favoritismo e o Brasil estaria se preparando para festejar o heptacampeonato em Paris -mas tanto em 1950 quanto em 1982, o melhor perdeu.
A cautela agora não fará mal algum, ao contrário.
Melhor seria, por exemplo, se os jogadores e a comissão técnica elegessem como objetivo comum dar moral a um Roberto Carlos para que ele, enfim, desencantasse diante dos franceses.
Arma mortífera que até agora não funcionou, o lateral parece ter sido contaminado pela mesma doença que vitimou seus colegas espanhóis -muito marketing e pouca bola (só Rivaldo, Ortega, Vieri, Mijatovic, Karembeu, Suker, o ótimo lateral croata do Bétis, Jarni, e o goleiro romeno do Salamanca, Stelea, não pegaram esta nova gripe espanhola).
Será fundamental que a arrogância cebefeana não tome conta do ambiente entre os jogadores.

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