São Paulo, segunda-feira, 13 de julho de 1998
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A desnacionalização da economia

LUÍS NASSIF

Há um processo flagrante de desnacionalização da economia, do qual a venda do Banco Real é um capítulo relevante. Trata-se de uma politica intencional de governo ou decorrência inevitável do processo de globalização?
Em 90, teve início um processo gradual de abertura da economia, negociado. Simultaneamente, o governo teria que acelerar a redução do chamado "custo Brasil", permitindo a criação de um ambiente econômico competitivo.
Falhou em relação à redução do "custo Brasil".
Em julho de 1994, na partida do Plano Real, esse processo foi interrompido bruscamente com as decisões tomadas, primeiro, nas de câmbio e juros, depois, no escancaramento do país às importações, que alteraram as regras do jogo.
De lá para cá, a desnacionalização ganhou vida própria em função de um conjunto de fatores que levaram ao enfraquecimento das empresas brasileiras em relação às estrangeiras.
Há a questão do câmbio, tirando muito da competitividade dos produtos nacionais. Mas é tema que não comporta mudanças no curto prazo.
O segundo fator é o acesso ao crédito. Em 95, para não ter que encarar a questão do câmbio de frente, o BC completou sua obra, estabelecendo uma política monetária que afastou o crédito em reais da economia, para abrir espaço para o crédito em dólares. É por aí que as multinacionais, com acesso a crédito internacional abundante e barato, encontraram espaço inédito para crescimento em cima dos setores nacionais.
Do lado do governo, houve a demora em se chegar a um consenso sobre a política industrial interna. Há meia dúzia de pessoas pensando o tema, mas não há posição homogênea. É só comparar a discrepância entre o discurso do antigo ministro da Indústria, Comércio e Turismo Francisco Dornelles, e do atual, Botafogo Gonçalves. Um, defendendo a elevação geral das alíquotas de importação; o outro, considerando a industrialização um processo anacrônico de desenvolvimento.
A rigor, há apenas dois setores com idéias claras sobre o tema -BNDES e algumas áreas da Fazenda-, mas com implementações de medidas muito morosas.
As medidas antidumping, anticontrabando, as decisões de valoração aduaneira, para impedir subfaturamento, tudo tem caminhado de forma bastante lenta em contraposição ao quadro de retração que acontece na economia interna.
Por outro lado, os grandes grupos nacionais ainda não articularam estratégias consistentes. O único setor que conseguiu definir uma política industrial clara foi o automobilístico Tomem-se o setor eletroeletrônico ou o financeiro, ou o de bebidas ou o próprio setor siderúrgico. Nenhum deles conseguiu apresentar um conjunto de princípios que permitissem, junto com o governo, definir uma política de fortalecimento das empresas nacionais.
Estratégia
Uma estratégia competitiva dos grandes grupos nacionais passa pelos seguintes pontos:
1) Nos setores que exigem escala-início de estudos visando estimular fusões e incorporações, transformação das empresas em modernas sociedades anônimas.
2) Criação de linhas de ação visando fortalecer os laços com a cadeia produtiva. Trata-se de um diferencial fantástico, principalmente porque as empresas estrangeiras que estão chegando levarão tempo até conseguir consolidar uma teia de relações econômicas.Mas os grandes grupos nacionais continuam ilhas, imunes a qualquer idéia de parceria.
3) Aprofundamento do conceito de adensamento da cadeia produtiva, identificando pontos fracos, definindo linhas de investimento junto com o BNDES. O modelo foi definido com os estudos que culminaram com a abertura de licitação para a implantação de uma fábrica de telescópios no país.
4) Aproximação com centros de pesquisa, para o desenvolvimento de tecnologia e melhoria da capacidade de inovação.

E-mail: lnassif@uol.com.br

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