São Paulo, segunda-feira, 13 de julho de 1998
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Zagallo vê 'trauma Ronaldinho'

ALEXANDRE GIMENEZ; JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO; MARCELO DAMATO; MÁRIO MAGALHÃES; NOELLY RUSSO; RODRIGO BERTOLOTTO
ENVIADOS ESPECIAIS A SAINT-DENIS

Treinador, que deve deixar a seleção, exalta-se ao falar sobre a escalação de Ronaldinho e declara que vai seguir carreira

O técnico Zagallo falou ontem implicitamente como ex-técnico da seleção brasileira, bateu boca com um jornalista durante a entrevista coletiva, retirou-se, voltou e justificou a derrota, em parte, pelo "trauma" da "situação vivida" pelo atacante Ronaldinho.
"Eu não vou parar, eu não vou parar", afirmou Zagallo, emocionado, sobre a sua carreira de técnico. Ele disse que o seu contrato com a CBF termina no dia 9.
Como a entidade planejou antes da Copa, Zagallo será afastado -talvez haja algum amistoso de despedida ou outra homenagem, mas uma nova comissão técnica será formada para a Copa de 2002.
Logo após o jogo, Zagallo disse: "Desde o início do jogo pensei que a vitória seria da França, principalmente após o 1 a 0, quando eu vi que iria chegar o 2 a 0. No segundo tempo melhoramos muito, mas a taça ficou em boas mãos".
Com lágrimas nos olhos, Zagallo afirmou ter "ficado triste por não dar a glória do penta a todos os brasileiros".
Indagado sobre a sua saída da seleção, disse: "Não posso responder, com tanta emoção. Não é o momento oportuno".
Antes da entrevista coletiva, Zagallo abraçou e trocou beijos com o técnico francês Aimé Jacquet.
"Vou precisar de duas vidas para ganhar os títulos do Zagallo. Tamanha coragem, alegria, determinação, como jogador e como técnico, é o que me faz apreciá-lo. É um desportista", disse Jacquet.
Zagallo exaltou-se quando foi questionado sobre Ronaldinho, que foi escalado na decisão do Mundial fora de sua melhor condição física.
Antes, Zagallo disse: "Eu estava torcendo para o primeiro tempo acabar. Hoje tivemos um trauma grande, por causa do Ronaldo".
"Não era para o Ronaldo ter jogado. Demos a escalação sem ele. Houve grande abatimento psicológico. A equipe estava presa, amarrada. Ronaldo não iria jogar. Demos a escalação sem ele."
"Depois, ele pediu para jogar. Disse 'eu quero'. Ele estava buscando a artilharia, poderia ter uma luz durante o jogo."
Quando a CBF divulgou a lista com Ronaldinho na reserva, o assessor de imprensa da Fifa Ricardo Setyon, a serviço da seleção durante a Copa, perguntou a Zagallo do que se tratava.
"Eu menti ao Ricardo, dizendo que era estratégia para confundir, mas na verdade não era. Omiti uma situação. Foi um momento triste na nossa concentração, com a situação do Ronaldo."
Zagallo, transtornado, respondeu: "Entrou porque entrou. Você quer baixar o nível, quer aparecer. Estou aqui porque sou homem, vocês devem muito a mim. Sou homem, tenho dignidade, moral. Precisa ter educação com os franceses aqui".
A seguir, Zagallo, vermelho e com raiva, se retirou. Menos de cinco minutos depois, voltou, repetindo várias vezes a expressão "prejuízo psicológico", se referindo ao caso de Ronaldinho.
"Mas isso, em hipótese alguma, pode servir como desculpa para a derrota. Levamos novamente gols de bola parada, que podem acontecer em qualquer situação", afirmou ele.

Texto Anterior: Último suspiro do século
Próximo Texto: Técnico lembra Pelé na preleção
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.