São Paulo, segunda-feira, 13 de julho de 1998
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Le jour de gloire est arrivé

JANIO DE FREITAS

Podia-se esperar que a França ganhasse, porque futebol, afinal de contas, é jogo. Mas que a França jogasse melhor seria um contra-senso supor. Não que o Brasil tivesse feito, ao longo da Copa, um futebol merecedor de confiança, por pouca que fosse e para nem falar da impossibilidade de aplauso isento.
A França, porém, mostrou sempre um futebol amarrado, fosco e tosco, cujos resultados favoráveis vieram muito menos de feitos seus, tão poucos e apenas furtivos, que dos não-feitos de seus adversários. Há, nisso, mérito inegável de sua defesa, atestado por haver levado apenas dois gols nos seus sete jogos até o título. Mas nisso está, também, a comprovação do seu apelo a uma defesa tão concentrada, que compensasse a mediocridade, ou a inexistência mesma, da sua força de ataque.
Os dois primeiros gols franceses contra o Brasil, ambos de córner e quase cópia um do outro, não fugiram à mera ocasionalidade. Nenhum dos dois foi a culminação de uma jogada. Pela primeira vez, no entanto, o ataque francês foi ataque, tanto no sentido de ofensividade, como de ação (bem) conjugada.
Um presente, claro, do meio-campo e da defesa do Brasil. E aí está o incompreensível. Desde o primeiro jogo da Copa, e até o último, sem interrupção sequer temporária, a defesa brasileira esteve desestruturada, insegura, como aqui mesmo se registrou tantas vezes - o que prova ter sido algo perceptível por qualquer um. Por que essa continuidade intocada, até - foi isso, sim, que o meio-campo e o ataque francês provocaram - o vexame irreparável.
Defesa envolvida desde os primeiros 30 segundos do jogo, quando os franceses iniciaram uma série de quase gols. Como complemento da ineficácia na retaguarda e no meio, só aos 21min o Brasil fez a sua primeira conclusão objetiva contra o gol francês, com um chute do apagado Roberto Carlos. Apenas 5 min depois, a França começava a transformar em aritmética a superioridade que já lhe dava o direito à taça.
Foi um jogo à altura da Copa, por parte dos franceses. Foi uma Copa que a França organizou com inteligência, precisão e bom gosto, para dizer tudo em uma palavra, francesa.

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