São Paulo, segunda-feira, 13 de julho de 1998
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Derrota foi mais um capítulo da era de incertezas

DA REPORTAGEM LOCAL

Vice foi mais um capítulo da era de incertezas
A perda da Copa do Mundo para os franceses foi apenas mais um capítulo da era de incertezas que representou a gestão de Mario Zagallo à frente da seleção.
Desde que assumiu oficialmente como sucessor de Carlos Alberto Parreira, em dezembro de 1994, o treinador teve uma trajetória inconstante, marcada por muitas críticas e poucos elogios, alguns sucessos discretos e outros fracassos marcantes.
Até nos momentos em que a seleção esteve aparentemente bem, como nesta Copa, não se enxergava uma equipe "pronta", com um sistema tático que espelhasse os conceitos do seu treinador.
Desde a reestréia de Zagallo no cargo, em dezembro de 94 (ele já havia sido técnico em 70 e 74 e auxiliar de Parreira em 94), a seleção jogou 87 vezes. Obteve 66 vitórias, 12 empates e 7 derrotas -aproveitamento de vitórias de 76%.
Duas destas derrotas (ou 28,5% do total) foram na França. Desde 74, o Brasil não perdia duas partidas em um mesmo Mundial.
Para além dos números gerais, entretanto, há uma caminho atribulado, ponteado por decisões polêmicas e experiências estéreis.
Uma das maiores evidências desta constatação foi a indefinição em relação ao time titular.
Nesta última "era Zagallo" foram testadas dezenas de formações, com uma rotatividade, principalmente no meio-campo, que há muito não se via.
Até a convocação oficial para a Copa, em 5 de maio, não sabia-se qual era o time titular do Brasil.
Numa atitude surpreendente, no dia do anúncio da lista, Zagallo não só incluiu o meia Giovanni (fora da seleção havia um ano) no grupo, como o escalou no time titular para a estréia no Mundial.
Sendo assim, o time que enfrentou a Escócia só havia jogado duas partidas junto -os dois últimos amistosos antes do Mundial, contra Athletic Bilbao e Andorra.
E, na Copa, ela não chegou a existir nem por 90 minutos completos. Após um primeiro tempo apagado contra os escoceses, Giovanni foi sacado na segunda etapa e não voltou mais ao time na Copa, substituído por Leonardo.
Caso Zagallo deixe a seleção, seu saldo de conquistas, desde 94, incluirá a Copa Umbro (95), a Copa América-97 e a Copa das Confederações (98).
Entre os fracassos, incluem-se a eliminação da Olimpíada-96 (Atlanta) para a Nigéria, a perda da Copa América 95 e o desempenho na Copa Ouro, este ano, nos EUA, na qual o Brasil empatou com Guatemala e Jamaica e foi eliminado pela seleção da casa.
A repercussão negativa do fiasco nos EUA prenunciou a perda de poder do técnico brasileiro.
Durante algumas semanas, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, chegou até a estudar a possibilidade de demitir Zagallo.
Teixeira desistiu da idéia, mas impôs a Zagallo um auxiliar direto. O ex-jogador Zico foi anunciado como coordenador técnico da seleção no dia 4 de março.
Durante um bom tempo, Zagallo atribuiu os altos e baixos de sua equipe à escassez de treinos.
Reportagem da Folha de 20 de maio deste ano mostrou que a alegação do técnico era uma falácia.

Texto Anterior: Futebol instrumentalizado
Próximo Texto: Programação da volta ao Brasil fica indefinida
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.