São Paulo, segunda-feira, 13 de julho de 1998
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500 mil tomam as ruas de Paris

JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

Torcedores passaram todo o domingo usando as cores francesas nas ruas e exibindo confiança na sua seleção

A avenida Champs Elysées, ao céu aberto, um salão de carnaval que os próprios franceses não acreditavam que festejariam. "On a gagné, on a gagné!" (ganhamos, ganhamos), gritava Jean-Bernard Falco, em meio a cerca de 500 mil torcedores.
O rosto do artilheiro da noite, Zinedine Zidane, foi projetado num dos pilares do Arco do Triunfo. Por volta da meia-noite (19h em Brasília), os carros não circulavam mais. A multidão festejava a conquista da Copa. Outros grupos pulavam diante do Hotel de Ville (prefeitura), um dos três locais da cidade em que foi instalado um grande telão. A noite em Paris prometia ser longa.
Na saída do Stade de France, a comemoração era mais silenciosa. A torcida dos novos campeões do mundo estava boquiaberta com a facilidade dos 3 a 0.
"Acreditava que ganharíamos, mas só depois da prorrogação", dizia Serge Raffay, vestido da cabeça aos pés como um galo.
O ânimo da torcida estava elevado durante praticamente todo o domingo. Por volta das 11h30 -pelo horário parisiense, o jogo começou às 21h-, as duas calçadas da avenida Champs Elysées já tinham um tom carnavalesco, com uma ampla predominância das cores da bandeira francesa.
Um torcedor, 100 metros abaixo da praça da Etoile, descia fantasiado de Copa do Mundo, com dois buraquinhos para orientar seus passos. Sobre o globo dourado, duas bandeiras da França.
"Vamos ganhar do Brasil por 2 a 1", dizia, com imensa convicção, Fabrice Kepigeon, com o rosto àquelas horas já pintado com o "bleu-blanc-rouge" e uma buzina de ar comprimido numa das mãos. "On va gagner!" (ganharemos), repetia aos berros.
Por volta das 14h, no boulevard Montparnasse, um grupo de cerca de 50 jovens, muito semelhante ao que havia festejado na noite de quarta-feira a vitória da França contra a Croácia, entregava-se a um amistoso carnaval.
Buzinaço
Duas horas depois, Paris era tomada por um buzinaço intermitente. Nas imediações da praça da Republique, carros com teto solar aberto passavam em cortejo com a bandeira francesa desfraldada.
A barulheira da torcida francesa aumentava conforme se chegava perto do Stade de France. Os dois grandes cruzamentos mais próximos, a Porte de la Chapelle e a Porte de Clignancourt, haviam se tornado ponto de confraternização de pedestres com torcedores que circulavam de automóvel.
"On va gagner!", gritavam.
Todo vestido de azul, rosto pintado, cartola (obviamente) com as cores da França, Frédéric Arnauld arriscava seu palpite: "Será uma vitória apertada. Mas a França leva essa de 1 a 0".
Safdar Kadebwai entrou no estádio com seu filho de sete anos. Arriscou como palpite 2 a 0 para a equipe dos "bleus". A criança achou que fosse sorteio e não entrevista a um jornal brasileiro.
"O que é que vamos ganhar?"
"A Copa do Mundo, filho."
Ficou com o prêmio.
A seleção francesa deve descer hoje os Champs-Elysées em caminhão do corpo de bombeiros. Será em princípio às 11h, no horário local. O desfile honroso estava marcado desde sábado, por iniciativa do presidente da República, Jacques Chirac. Ocorreria mesmo se a França perdesse para o Brasil.
Descer os Champs-Elysées possui um valor simbólico muito forte no país.
Em 1945, foi o trajeto feito pelo general Charles De Gaulle e as tropas da França Livre, após a debandada dos ocupantes nazistas.
A avenida, a mais famosa de Paris, já está decorada para outro desfile, o de amanhã, 14 de Julho, a data nacional francesa. Serão comemorados os 209 anos da Queda da Bastilha. A tribuna de honra, na praça da Concórdia, é reservada ao presidente, governantes estrangeiros convidados e diplomatas.

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