São Paulo, segunda-feira, 13 de julho de 1998
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Gravadora reuniu a nata da música mundial

DO "LE MONDE"

75, Rockefeller Plaza, Nova York. Depois de Abbey Road, em Londres, esse é provavelmente um dos endereços mais conhecidos no mundo da música popular. Ele está inscrito nas capas e nas etiquetas dos LPs de 33 rpm da Atlantic Recording Corporation, empresa fundada em Washington, em 1947, por Ahmet Ertegun. Investimento na época: US$ 10 mil.
Os primeiros discos foram lançados em 1948. E pouco importa se a empresa mudou para outro endereço. Cercado por um glorioso status de selo independente, atualmente integrado ao grupo WEA, a marca registrada continua sendo o 75, Rockefeller Plaza.
Nos anos 50, 60 e 70, a companhia refletia as evoluções musicais -e às vezes sociológicas- dos Estados Unidos. Graças a seus fundadores e produtores, engenheiros de som e colaboradores diversos, a Atlantic praticamente não perdeu nenhuma corrente do blues, rhytm'n'blues ou jazz antes de acompanhar o percurso dos grandes nomes do rock.
Apenas a música country ficou ausente por um longo período de um catálogo que havia feito do ecletismo sua regra. Um gênero que Nesuhi Ertegun não apreciava nem compreendia totalmente.
Bastidores
Os homens que construíram o som, a imagem e a especificidade da Atlantic se chamam Jerry Wexler, Tom Dowd, Jerry Leiber e Mike Stoller, autores de eternos sucessos, Arif Mardin, Phil Spector, antes de voar com suas próprias asas como gênio do som, David Geffen, Joel Dorn...
Sob a batuta de Nesuhi e Ahmet Ertegun, eles ficaram por trás dos controles dos gravadores, foram a campo, repararam novos talentos e mostraram a algumas de suas estrelas qual caminho tomar (de agradável vocalista de jazz, Aretha Franklin se tornou referência máxima como cantora de soul).
Eles compuseram e fizeram arranjos de canções que conquistaram o público e o mundo.
Ahmet Ertegun, que não sabe ler nem escrever partituras, assobia ele mesmo, em frente aos gravadores, as músicas que escutava nos anos 50 e que deram a base para os compositores e letristas.
O gosto de Ahmet Ertegun pelas vozes e o de Nesuhi pelos solistas de jazz foi o que permitiu aos músicos negros norte-americanos coexistirem sob a mesma sigla.
Solomon Burke, Percy Sledge, The Coasters, Ray Charles, Aretha Franklin, Otis Redding, Roberta Flack, Wilson Pickett...Todos, em plena ascensão e no melhor de suas carreiras, produziram pela Atlantic a quintessência do soul.
O Modern Jazz Quartet, Charles Mingus, John Coltrane, Roland Kirk, Ornette Coleman fizeram mais do que passar pela Atlantic. Gravaram ali algumas de suas obras-primas.
Eddie Harris, Art Blakey com Thelonius Monk, Duke Ellington, Lennie Tristano, Jimmy Giuffre, Keith Jarret, Art Ensemble of Chicago e Gil Evans completam o premiado time de jazz da gravadora.
Rock
Led Zeppelin e os Rolling Stones permitiram que a Atlantic dominasse a cena do rock mundial durante os anos 70. Os dois grupos são de origem inglesa, mas a América os considera como seus. Crosby, Stills, Nash e Young deram uma voz melodiosa à contestação doce dos anos hippies. Os australianos do AC/DC fizeram soar o sino pesado do heavy metal.
É claro que há alguns vazios em cada um dos gêneros de atuação da Atlantic. Miles Davis nunca fez parte da casa, nem James Brown, ou Elvis Presley -nem mesmo os Beatles.
Ahmet Ertegun sempre lamentou isso. Mas ele diz que, gentilmente, quis deixar um pouco para os concorrentes.

Tradução Luiz Antonio Del Tedesco

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