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"Volta ao Dia..." apóia intimismo em Cortázar
DA REPORTAGEM LOCAL
A peça começa com duas mulheres que adentram um espaço
sugerido como um apartamento.
Aparentemente, Ana e Margrit
não se conhecem. Aparentemente, estão de passagem. Em viagem,
talvez.
Eis o ponto de partida para a sucessão de cenas não-lineares em
que essas duas personagens de
"Volta ao Dia..." vão expor instantes ridículos e poéticos da vida
cotidiana, principalmente no plano íntimo que irão dividir com o
espectador.
As personagens interagem entre si e, por momentos breves, desenvolvem solos que reúnem depoimentos das próprias atrizes,
Maureen Miranda (Ana) e Christiane de Macedo (Margrit), além
de fragmentos de contos e romances do escritor argentino Júlio Cortázar (1914-1984), tudo
costurado pela dramaturgia de
Marcio Abreu, que também assina a direção.
"Volta ao Dia..." foi considerado um dos principais destaques
do Fringe 2003, a mostra paralela
do Festival de Teatro de Curitiba.
De lá para cá, a montagem conquistou os principais prêmios do
Paraná, cumpriu temporada no
Rio e foi vista em um festival da
Argentina meses atrás.
Finalmente, poderá ser acompanhada em São Paulo, numa
curta temporada de um mês, a
partir de hoje, no teatro Aliança
Francesa. Abreu, 32, que já trabalhou com Felipe Hirsch, como
também as atrizes, decidiu utilizar o material estético e temático
de Cortázar como ponto de partida na realização de "um trabalho
que não transpõe determinado
texto dele, mas reflete sua obra como um todo".
Imagens
Como recurso narrativo, ele entremeia os diálogos com projeção
de imagens de filme super-8 rodado pelo próprio diretor com as intérpretes. Foi ao ler uma frase do
escritor argentino que Abreu teve
a idéia de montar a peça:
"Quando não se tem muita certeza de nada, o melhor é criar deveres para si mesmo, como
bóias." Está lá no conto "O Perseguidor". A época era 1999, justamente quando adaptou e dirigiu
em Curitiba o espetáculo "Adeus,
Robinson!", texto radiofônico de
Cortázar.
"Há muito que as certezas absolutas, fortes indicadores de ignorância, poder, moralismo, religiosidades desesperadas, preconceito e desamor, não me seduzem
mais. A dúvida pode ser um fator
de paralisia, sono, enfermidade e
morte, mas, com grande dose de
risco, talvez seja o fator de propulsão, o que gera o movimento,
mostra a inquietação, tonifica os
músculos do corpo", escreve
Abreu sobre a montagem.
Universo feminino
Para a atriz Christiane de Macedo, 41, "Volta ao Dia..." lhe cobra
uma performance técnica apurada, acima da conta, justamente
por tocar em questão delicadas
que dizem respeito ao universo
feminino. Mas não só.
"A gente fala de coisas muito comuns, mas íntimas, como comentar e mostras as partes do corpo
que mais incomodam a personagem, ou fazer xixi, simplesmente,
mas tudo sem apelação, sem cair
no vulgar", diz Macedo, 20 anos
de carreira.
"No teatro, tem a questão da
imagem e da palavra. Nesse trabalho, a gente tanto se expõe como
imagem quanto reforça a ação
com a palavra. É muito difícil conciliar", afirma a atriz.
Marcio Abreu é carioca, mas está radicado há 15 anos em Curitiba. Também é ator. Na capital paranaense, fundou o grupo Resistência de Teatro (1992-1999).
Agora, integra a Companhia Brasileira de Teatro. Simples e direto
assim.
(VS)
VOLTA AO DIA...
Dramaturgia, roteiro e
direção: Marcio Abreu. Com: Maureen
Miranda e Christiane de Macedo. Cenário
e figurinos: Teca Ficinski. Iluminação:
Nadja Naira. Música original e
sonorização: Octavio Camargo. Quando:
estréia hoje, às 21h; qua. e qui. às 21h.
Onde: teatro Aliança Francesa (r. General
Jardim, 182, tel. 3123-1753). Até 25/3.
Quanto: R$ 20.
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