São Paulo, segunda-feira, 03 de abril de 2000


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HOMENAGEM
Exposição tímida reúne fotografias, cartas e escritos
Biblioteca do Memorial lembra os 100 anos de Mário Pedrosa

especial para a Folha

As comemorações do centenário de nascimento de Mário Pedrosa (1900-1981) começam tímidas. Hoje, a biblioteca do Memorial da América Latina abre uma exposição com cerca de 60 fotografias e reproduções de cartas e ofícios escritos e/ou dirigidos ao militante trotskista e crítico de arte Pedrosa -como crítico, considerado por muitos "o nosso maior".
A mostra traz imagens de Pedrosa num internato suíço onde iniciou sua formação -e onde já apareceriam suas primeiras idéias de alteridade e nacionalismo, dois de seus temas fundamentais- e também fotos de seus últimos dias, em Ipanema.
Como nota curiosa, a reprodução de um anúncio de repressão ao comunismo dos anos 30 mostra o rosto de um jovem Pedrosa entre outros proscritos pelo regime getulista.
Numa vitrine, vêem-se cartas, ofícios e capas de livros de (e sobre) Pedrosa, o que serve apenas como "teaser", já que não é possível folheá-los. A tese de 1949 -"altamente polêmica, como tudo que escreveu", nas palavras de Otília Arantes, principal exegeta da obra de Pedrosa-, sobre os efeitos deletérios da presença da missão francesa no Brasil de 180 anos atrás, está lá, em versão original. Mas não é possível lê-la.
Ciosa da despretensão da homenagem, Leonor Amarante, diretora do setor de publicações do Memorial, explica: "A mostra surgiu como complemento a uma mesa-redonda que realizaremos no dia 25. Ela não conta exatamente com uma curadoria, tendo material reunido de dois institutos diferentes".
Amarante se diz admiradora da obra de Pedrosa, a quem pessoalmente entrevistou para o jornal "O Estado de S.Paulo". "Tinha uma visão muito lúcida da arte brasileira."
O crítico, célebre por ter sido capaz de equilibrar dois ideários aparentemente contraditórios -um claro engajamento político e um entendimento da arte como "exercício experimental de liberdade"-, é lembrado por Amarante também num momento crucial da cultura brasileira, a criação da Bienal de São Paulo.
"Lembro de sua posição contra Vilanova Artigas e alguns artistas modernistas brasileiros, que viam a Bienal como um sinal de subordinação à arte estrangeira."
Exilado pelo Estado Novo getulista e pelo regime de exceção de 64, Pedrosa participou da criação do Instituto de Estudos Latino-Americanos e do Museu da Solidariedade, no Chile. O que talvez ajude a explicar a afinidade do Memorial com esse grande pensador brasileiro do século 20.

Livro
A Edusp lança, no dia 25, também no Memorial, "Modernidade Cá e Lá", quarto volume da editora da série de ensaios de Mário Pedrosa, sempre organizados por Otília Arantes. "Modernidade" sucede "Política das Artes", "Forma e Percepção Estética" e "Acadêmicos e Modernos".
(PAULO VIEIRA)
Exposição: Mário Pedrosa - 100 Anos
Onde: Memorial da América Latina -Biblioteca Victor Civita (av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, Barra Funda, tel. 3823-9611)
Quando: seg. a sex., 9h às 18h; sáb., 9h às 15h; até dia 29 (mesa-redonda no dia 25, 20h, com Aracy Amaral, Ferreira Gullar, Lélia Abramo, Otília Arantes e José Castilho Marques Neto)
Quanto: grátis


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