São Paulo, sábado, 04 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA

Longa holandês, indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro deste ano, é adaptação de best-seller homônimo

"Irmãs Gêmeas" sustenta-se em novelão antibélico

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO

Por mais que avançasse na idade, a velhice não limpava o passado de Leni Riefenstahl (1902-2003). Negou até o último instante que não sabia nada sobre o assassinato em massa de judeus. De nada adiantou. Morreu com a alcunha de "cineasta do nazismo" estampada em seus obituários.
É sua imagem que vem à mente em "Irmãs Gêmeas", dramalhão holandês que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro neste ano, baseado num best-seller.
As irmãs do título são Anna e Lotte, meninas separadas na infância após a morte dos pais. A primeira fica na Alemanha e é criada por "ignorantes" tios que levam uma árdua vida rural.
Futuro melhor tem Lotte, que é levada para a Holanda, onde cresce sob o cuidado de parentes abastados. As duas, antes unha e carne, sofrem, já que são impedidas de manter contato.
Já adolescentes, conseguem furar o bloqueio imposto pelas famílias e vão se encontrar. O ambiente, no entanto, já não é mais o mesmo. A Alemanha de Anna vê a ascensão de Hitler, que prepara-se para a Segunda Guerra.
Após o clichê número um -- irmãs separadas na infância-, chegamos à questão central do filme. A intenção do longa, criar uma mensagem edificante e antibelicista, começa a tomar forma.
Fica claro por que vemos os gêmeos com mais diferenças físicas entre si desde que Arnold Schwarzenegger fez par com Danny De Vito em "Irmãos Gêmeos".
Depois que chega à Alemanha, Lotte fica chocada ao descobrir que Anna tem preconceitos com judeus. O plano esquemático é simples e usa generalizações históricas. Enquanto Lotte é a mulher que teve uma boa instrução e abomina qualquer tipo de racismo, sua irmã teve uma criação miserável e poucos estudos, portanto aderiu rapidamente ao ideário do nazismo.
O filme vai intercalando cenas deste período com seqüências nos dias atuais. Vemos as duas já velhinhas num spa, novamente separadas e irreconciliáveis.
"Irmãs Gêmeas" difere-se de outros filmes sobre o nazismo por não trazer cenas passadas em campos de concentração ou outras referências explícitas de violência. A guerra é vista sob uma perspectiva individual.
Ao espectador não é deixado muito espaço para pensar, já que as metáforas que o longa cria gritam: não há vencedores numa guerra, todo saem perdendo. Ou então: dois mundos tão iguais são separados pelo horror, nunca é tarde para reunir duas metades de um mesma realidade.
Nos dias atuais, Anna irá afirmar que "não sabia de nada" sobre o Holocausto. "Irmãs Gêmeas" propõe o perdão. Como cinema, é apenas correto. Os membros da Academia e os roteiristas de novelas televisivas agradecem. E Leni Riefenstahl permanece ambígua.


Irmãs Gêmeas
De Tweeling
  
Direção: Ben Sombogaart
Produção: Holanda/Luxemburgo, 2002
Com: Thekla Reuten, Nadja Uhl
Quando: a partir de hoje nos cines Bristol 5 e Lumière 1



Texto Anterior: Curtas: Sessão surpresa fecha Festival
Próximo Texto: Cinesesc exibe hoje cenas de um casamento, por François Truffaut
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.