|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA
Longa holandês, indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro deste ano, é adaptação de best-seller homônimo
"Irmãs Gêmeas" sustenta-se em novelão antibélico
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO
Por mais que avançasse na
idade, a velhice não limpava o
passado de Leni Riefenstahl
(1902-2003). Negou até o último
instante que não sabia nada sobre
o assassinato em massa de judeus.
De nada adiantou. Morreu com a
alcunha de "cineasta do nazismo"
estampada em seus obituários.
É sua imagem que vem à mente
em "Irmãs Gêmeas", dramalhão
holandês que concorreu ao Oscar
de melhor filme estrangeiro neste
ano, baseado num best-seller.
As irmãs do título são Anna e
Lotte, meninas separadas na infância após a morte dos pais. A
primeira fica na Alemanha e é
criada por "ignorantes" tios que
levam uma árdua vida rural.
Futuro melhor tem Lotte, que é
levada para a Holanda, onde cresce sob o cuidado de parentes
abastados. As duas, antes unha e
carne, sofrem, já que são impedidas de manter contato.
Já adolescentes, conseguem furar o bloqueio imposto pelas famílias e vão se encontrar. O ambiente, no entanto, já não é mais o
mesmo. A Alemanha de Anna vê
a ascensão de Hitler, que prepara-se para a Segunda Guerra.
Após o clichê número um --
irmãs separadas na infância-,
chegamos à questão central do filme. A intenção do longa, criar
uma mensagem edificante e antibelicista, começa a tomar forma.
Fica claro por que vemos os gêmeos com mais diferenças físicas
entre si desde que Arnold Schwarzenegger fez par com Danny De
Vito em "Irmãos Gêmeos".
Depois que chega à Alemanha,
Lotte fica chocada ao descobrir
que Anna tem preconceitos com
judeus. O plano esquemático é
simples e usa generalizações históricas. Enquanto Lotte é a mulher que teve uma boa instrução e
abomina qualquer tipo de racismo, sua irmã teve uma criação
miserável e poucos estudos, portanto aderiu rapidamente ao ideário do nazismo.
O filme vai intercalando cenas
deste período com seqüências nos
dias atuais. Vemos as duas já velhinhas num spa, novamente separadas e irreconciliáveis.
"Irmãs Gêmeas" difere-se de
outros filmes sobre o nazismo por
não trazer cenas passadas em
campos de concentração ou outras referências explícitas de violência. A guerra é vista sob uma
perspectiva individual.
Ao espectador não é deixado
muito espaço para pensar, já que
as metáforas que o longa cria gritam: não há vencedores numa
guerra, todo saem perdendo. Ou
então: dois mundos tão iguais são
separados pelo horror, nunca é
tarde para reunir duas metades de
um mesma realidade.
Nos dias atuais, Anna irá afirmar que "não sabia de nada" sobre o Holocausto. "Irmãs Gêmeas" propõe o perdão. Como cinema, é apenas correto. Os membros da Academia e os roteiristas
de novelas televisivas agradecem.
E Leni Riefenstahl permanece
ambígua.
Irmãs Gêmeas
De Tweeling
Direção: Ben Sombogaart
Produção: Holanda/Luxemburgo, 2002
Com: Thekla Reuten, Nadja Uhl
Quando: a partir de hoje nos cines
Bristol 5 e Lumière 1
Texto Anterior: Curtas: Sessão surpresa fecha Festival Próximo Texto: Cinesesc exibe hoje cenas de um casamento, por François Truffaut Índice
|