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CRÍTICA
Das melhores palhetadas do gênero
LUÍS NASSIF
colunista da Folha
A partir dos anos 70, especialmente a partir dos 80, o choro
desdobrou-se em algumas frentes
distintas. Num plano bastante superior, surgiu uma espécie de
choro erudito, harmônica e melodicamente sofisticado, que tem
entre seus principais autores Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti e
Sérgio Assad, sendo que Gismonti e Assad compõem principalmente para violão.
No plano popular, a nova escola
carioca de choro -que teve como líder máximo o violonista Raphael Rabello e tem, entre outros,
o clarinetista Paulo Sérgio Santos
e o violonista Maurício Carrilho- retomou a veia evolutiva do
gênero, uma linha que surgiu na
segunda metade dos anos 40, influenciada pelo jazz. Esse é um ramo pouco conhecido fora do universo do choro.
Estilo sofisticado
Seus principais formuladores
foram o maestro Severino Araújo
(Orquestra Tabajara), Orlando
Silveira, Esmeraldino, maestro
Portinho e outros. Mas o mestre
maior foi Radamés Gnatalli, que
transmitiu as sofisticações do estilo ao grupo carioca de ex-alunos,
que passa então a dominar a criação do choro a partir dos anos 80.
Finalmente, há uma linha mais
tradicional, que sai de Luiz Americano, Abel Ferreira e encontra o
seu ponto forte no gênio do compositor/instrumentista Jacob do
Bandolim (1918-1969). O bandolinista Aleh Ferreira e, de uma forma mais ampla, o choro paulista,
filiam-se a essa última vertente.
Aleh Ferreira marca presença
com destaque na mais recente geração talentosa do bandolim. Está
ao lado de instrumentistas hábeis
como Miltinho Tachinha, em São
Paulo, Jorge Cardoso, em Fortaleza, Hamilton, em Brasília, e Pedro, no Rio de Janeiro. Sem falar
no gênio de Armandinho, da Bahia, este o único bandolinista da
história a ombrear com Jacob do
Bandolim.
Sem firulas
O estilo de Aleh é muito rápido,
com palhetadas claras -que podem ser consideradas uma das
melhores do gênero- e sem
muitas firulas na mão esquerda.
Além da técnica e agilidade em
músicas mais rápidas, é um dos
melhores intérpretes de composições lentas. Sua capacidade de trinar o bandolim e de deslizar com
desenvoltura a mão esquerda pelo braço do instrumento, denota
sua enorme técnica.
Sua ambição, no entanto, vai
além do instrumento. Em alguns
CDs, Aleh se apresenta também
como arranjador, com domínio
correto de instrumentos de corda,
especialmente violinos e celos.
Em geral, seus arranjos acabam
expressando, em cordas, os movimentos do baixo do violão, ou
criando, com violinos, o efeito
cortina de som, muito apreciado
pelos ouvintes mais tradicionais.
Embora Aleh Ferreira demonstre bom gosto como arranjador,
não é esse o seu ponto forte. Desenvolve arranjos convencionais,
com algumas inovações de bom
gosto.
A diferença, de fato, está na técnica de interpretação do bandolim, um misto de influência mais
contida de Jacob do Bandolim e
de Luperce Miranda. De Jacob,
Aleh retoma algumas versões dos
últimos discos, mas sem o exagero de outros bandolinistas da
mesma escola. De Luperce, o estilo ultra-rápido, de palhetadas leves no bandolim.
Peca um pouco ao se expor demasiadamente aos standards da
música erudita, como gravar
Czardas ou citações de Mozart e
Beethoven, uma experiência que
já foi esgotada por Altamiro Carrilho. Em compensação, tem algumas composições primorosas,
como "Tristeza de um Violoncelo", nome tirado de "Tristezas de
um Violão", de Garoto.
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