São Paulo, Domingo, 05 de Dezembro de 1999


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CRÍTICA

Das melhores palhetadas do gênero

LUÍS NASSIF
colunista da Folha


A partir dos anos 70, especialmente a partir dos 80, o choro desdobrou-se em algumas frentes distintas. Num plano bastante superior, surgiu uma espécie de choro erudito, harmônica e melodicamente sofisticado, que tem entre seus principais autores Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti e Sérgio Assad, sendo que Gismonti e Assad compõem principalmente para violão.
No plano popular, a nova escola carioca de choro -que teve como líder máximo o violonista Raphael Rabello e tem, entre outros, o clarinetista Paulo Sérgio Santos e o violonista Maurício Carrilho- retomou a veia evolutiva do gênero, uma linha que surgiu na segunda metade dos anos 40, influenciada pelo jazz. Esse é um ramo pouco conhecido fora do universo do choro.

Estilo sofisticado
Seus principais formuladores foram o maestro Severino Araújo (Orquestra Tabajara), Orlando Silveira, Esmeraldino, maestro Portinho e outros. Mas o mestre maior foi Radamés Gnatalli, que transmitiu as sofisticações do estilo ao grupo carioca de ex-alunos, que passa então a dominar a criação do choro a partir dos anos 80.
Finalmente, há uma linha mais tradicional, que sai de Luiz Americano, Abel Ferreira e encontra o seu ponto forte no gênio do compositor/instrumentista Jacob do Bandolim (1918-1969). O bandolinista Aleh Ferreira e, de uma forma mais ampla, o choro paulista, filiam-se a essa última vertente.
Aleh Ferreira marca presença com destaque na mais recente geração talentosa do bandolim. Está ao lado de instrumentistas hábeis como Miltinho Tachinha, em São Paulo, Jorge Cardoso, em Fortaleza, Hamilton, em Brasília, e Pedro, no Rio de Janeiro. Sem falar no gênio de Armandinho, da Bahia, este o único bandolinista da história a ombrear com Jacob do Bandolim.

Sem firulas
O estilo de Aleh é muito rápido, com palhetadas claras -que podem ser consideradas uma das melhores do gênero- e sem muitas firulas na mão esquerda.
Além da técnica e agilidade em músicas mais rápidas, é um dos melhores intérpretes de composições lentas. Sua capacidade de trinar o bandolim e de deslizar com desenvoltura a mão esquerda pelo braço do instrumento, denota sua enorme técnica.
Sua ambição, no entanto, vai além do instrumento. Em alguns CDs, Aleh se apresenta também como arranjador, com domínio correto de instrumentos de corda, especialmente violinos e celos.
Em geral, seus arranjos acabam expressando, em cordas, os movimentos do baixo do violão, ou criando, com violinos, o efeito cortina de som, muito apreciado pelos ouvintes mais tradicionais.
Embora Aleh Ferreira demonstre bom gosto como arranjador, não é esse o seu ponto forte. Desenvolve arranjos convencionais, com algumas inovações de bom gosto.
A diferença, de fato, está na técnica de interpretação do bandolim, um misto de influência mais contida de Jacob do Bandolim e de Luperce Miranda. De Jacob, Aleh retoma algumas versões dos últimos discos, mas sem o exagero de outros bandolinistas da mesma escola. De Luperce, o estilo ultra-rápido, de palhetadas leves no bandolim.
Peca um pouco ao se expor demasiadamente aos standards da música erudita, como gravar Czardas ou citações de Mozart e Beethoven, uma experiência que já foi esgotada por Altamiro Carrilho. Em compensação, tem algumas composições primorosas, como "Tristeza de um Violoncelo", nome tirado de "Tristezas de um Violão", de Garoto.




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