São Paulo, quinta-feira, 06 de abril de 2000


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Guitarrista Taj Mahal recusa rótulo de arqueólogo sonoro

da Redação

Se o mundo acabasse e só sobrassem os discos do cantor e guitarrista norte-americano Taj Mahal, 57, seria possível remontar a história da música afro-americana. Essa verdadeira enciclopédia musical toca hoje no Bourbon Street.
Falando à Folha por telefone de sua casa em Pasadena, Califórnia, ele revela modéstia e recusa o rótulo de arqueólogo sonoro.
"Essa história de pesquisador tem sido um pouco superestimada. Na verdade, o que eu faço é ouvir todos os tipos de música com muita atenção. Adapto o que ouço ao meu estilo e daí surge a música de Taj Mahal."
No show que faz no Brasil, ele vai mostrar apenas uma das cores da sua paleta musical. Acompanhado dos brasileiros André Christovam, Flávio Guimarães, Renato Martins, Celso Pixinga, Mozart Mello e Marçalzinho, ele apresenta o aspecto mais blueseiro de sua produção.
Quem for ao show não deve esperar nada muito inovador. Taj Mahal não dá a menor bola para os guitarristas jovens que vêm emprestando um pouco de vitalidade ao centenário estilo nascido no delta do rio Mississippi.
"Não estou interessado em músicos como Johnny Lang e Kenny Wayne Shepherd. Quero saber de Corey Harris, Keb" Mo", Alvin Youngblood Hart e John Hammond", diz Mahal, relacionando os mais destacados violonistas do blues acústico atual.
Apesar desse apego à tradição, ele só vai trazer guitarras elétricas ao Brasil. Assim, fica impossível prever o repertório que o guitarrista vai executar.
É a segunda vez que Taj Mahal se apresenta no Brasil. Em 1978, tocou na primeira edição do Festival de Jazz de São Paulo.
Nascido em Nova York e batizado com o nome de Henry Saint Clair Fredericks, Mahal é filho de uma professora e cantora de música religiosa (gospel) e de um pianista e arranjador de jazz.
"Foi com os discos dos meus pais que comecei a desenvolver meu gosto eclético. Em casa, ouvíamos de Robert Johnson a Bach."
Começou a desenvolver sua paixão pelo blues nos anos 60, quando estudava na Universidade de Massachusetts.
Mas isso não foi suficiente. Mahal decidiu embarcar em um túnel do tempo sonoro. Em pleno reinado do rock e da guitarra elétrica, dedicou-se a estilos ancestrais e aprendeu a tocar instrumentos fora de moda, como o obscuro dulcimer e o mandolim (espécie de bandolim).
Em 1964, formou em Los Angeles o grupo Rising Sons, com o também guitarrista Ry Cooder.
Deu início à sua carreira solo em 1968, com um disco que leva seu nome. Os títulos de alguns trabalhos dão pistas dos estilos que ele visitou: "Recycling the Blues & Other Related Stuff" (1972), "World Music" (1993), "Señor Blues" (1997) e "Taj Mahal and the Hula Blues" (1998).
E essa busca pela tradição chegou ao paroxismo no ano passado, com o CD "Kulanjan". Com um sexteto de músicos africanos, Mahal explora a música de Mali. "Sinto-me tão sintonizado com a música dos meus ancestrais que parece que faço parte dessa banda há séculos."
Com tanta experiência, ele aguarda sem muitos temores o show que fará com músicos que praticamente conhecerá no palco. Sobre a sua preparação, ele mostra toda a sua "ansiedade": "Tenho cuidado do meu jardim, preparado pratos na minha cozinha e fumado meus charutos".
(EDSON FRANCO)


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