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TEATRO/CRÍTICA
Didatismo limita alcance de "O Fingidor"
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Quando estreou em 1999, "O
Fingidor" foi uma grata surpresa, que lançava Samir Yazbek
enquanto um dramaturgo promissor. Dirigindo, produzindo e
mantendo sua fé no texto, Yazbek
conseguiu para ele uma carreira
privilegiada, que agora culmina
nesta bem cuidada temporada do
Tuca, depois de uma consagradora turnê internacional. Sem diminuir os muitos méritos do espetáculo, é preciso agora afirmar que
Yazbek escapou da má sorte de
estrear com sua obra-prima.
O texto tem um ponto de partida instigador, sendo uma parábola sobre o criador que, mesmo festejado pela obra, é menosprezado
enquanto pessoa; e, para esSa tese, nada melhor que a esquizofrenia artística de Fernando Pessoa.
Muito já se viu nos palcos o poeta
discutindo com seus heterônimos, e aqui estão eles de novo, em
alucinação. Desta vez, porém, a
idéia de fazê-lo encarnar pessoalmente um personagem -o simplório datilógrafo Jorge Madeira- para auxiliar o pedante crítico José Américo em um ensaio
sobre sua obra tem o frescor de
uma piada inteligente: o crítico só
endossa o consagrado e desconfia
do anônimo.
O texto assim celebra Pessoa no
que ele tem de melhor, sua capacidade de tirar poesia dos pequenos
eventos cotidianos, aceitando
com dor a mediocridade da vida.
É uma bela introdução a sua obra,
e pode se comemorar o fato de
que ele tenha sido escolhido pelo
Programa Nacional de Biblioteca
da Escola para ser distribuído para alunos da rede pública.
Essa responsabilidade didática
cobra seu preço. O conceito "heterônimo", por exemplo, é explicado pelo crítico a seu datilógrafo,
em um dos muitos efeitos cômicos que a situação permite, mas
assim mesmo soando forçado.
Várias citações de poemas se justificam como antologia, sendo difícil encontrar sempre uma justificativa verossímil para os personagens se porem a recitar.
Assim, o único personagem redondo é Fernando Pessoa. Levado com uma técnica e um carisma
chaplinianos por Hélio Cícero,
talvez em sua melhor performance, a discreta anarquia do poeta é
apaixonante. Douglas Simon, por
outro lado, no papel bem mais limitado do crítico José Américo,
tem pouco mais a fazer além de
ser convencional, a exemplo da
abnegada irmã Henriqueta, feita
com delicadeza por Talita Castro,
e mesmo a discreta empregada
Amália, que exige pouco da grande Mariana Muniz, com o mérito
sobretudo de evitar o melodrama.
Os heterônimos, supérfluos na
trama, se destacam pela engenhosidade dos figurinos de Elena Toscano, em tema e variações que definem claramente a essência de
cada um. A encenação de Yazbek,
eficiente no uso de painéis deslizantes, se desgasta pela repetição,
apesar de bem amparadas pela
luz de Celso Marques e trilha de
Raul Teixeira.
É um espetáculo marcante, dentro de suas poucas pretensões iniciais. É preciso, no entanto, evitar
que Yazbek seja celebrado pelo
que ele tem de mais prudente. Os
seus textos seguintes têm mais desenvoltura, e o seu melhor ainda
está por vir.
O Fingidor
Quando: sex. e sáb., às 21h; dom., às
19h; em cartaz até 7/5
Onde: Tuca (r. Monte Alegre, 1.024,
Perdizes, tel. 3670-8455)
Quanto: R$ 12 a R$ 30
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