|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Obsessão mobiliza personagens
DA REPORTAGEM LOCAL
Finda o terceiro sinal e lá está
Alberto Guzik lendo o jornal, não
no papel de crítico, mas de ator.
A cena inicial de "O Horário de
Visita", que estréia hoje no teatro
do Centro da Terra, sintetiza a
transição de Guzik para o palco.
Foram 35 anos empenhados do
lado de cá, no exercício da crítica,
sobretudo no "Jornal da Tarde"
(até dois anos atrás), ou nas aulas
de teatro que ministrou, por
exemplo, na Escola de Arte Dramática da USP, onde também
cursou interpretação em 66.
Uma das produções em que
atuou foi "O Processo", adaptação de obra de Kafka, pelo Núcleo
2 do Teatro de Arena, em 67.
Hoje, Guzik sobe ao palco para
interpretar Edson, pai de família
amoroso, mas uma carranca
quanto aos sentimentos e desejos
-seus ou das novas gerações.
É um "chefe de família" intransigente, moralista e bastante apegado ao passado recente que lhe
cutuca o coração sem dó.
A avalanche chega numa tarde
de sábado, quando ele e a mulher,
Ana (Tuna Dwek, de "Vidros Partidos"), únicos moradores do
apartamento, recebem uma visita
(de Marcelo Médici, de "Terça Insana") que lhes fará desenterrar
os medos e embrulhar o chá das
cinco no estômago. Ainda assim,
algumas passagens são patéticas.
O texto de Sérgio Roveri é encadeado por situações que, se mais
reveladas, prejudicam a recepção
da história pelo espectador. É difícil traçar uma sinopse.
Além do casal de classe média,
cerca de 50 anos cada um, e da visita misteriosa, mas nem tanto, há
uma quarta personagem, Flavinha (Rejane Arruda, de "Valsa Nš
6"), cuja gana juvenil vai equilibrar a perversão da língua nas cenas de embate em que Edson parece jogar contra todos.
"É sobre a intolerância. A intolerância de sexo, de raça, de religião, enfim, a não-aceitação do
diferente", diz Guzik, 59. "Meu
Deus, e como há edsons por aí, todos conhecemos um! E nós mesmos introjetamos atitudes assim
às vezes sem nos darmos conta."
Segundo o ator, o público vai se
reconhecer nesses personagens
movidos por paixões obsessivas.
"O Horário de Visita" é a segunda peça de Roveri, 42, encenada
na cidade ("Vozes Urbanas" segue no Espaço Satyros 1).
Ruy Cortez, 28, assina a direção
do espetáculo, de estrutura mais
realista que as suas encenações
para a poesia dos textos "Ophélias" e "A Casa Antiga", ambos do
dramaturgo Eduardo Ruiz.
Laura Carone criou os figurinos
e a cenografia, uma sala que sugere o confinamento físico e simbólico de quem a habita.
Sobre voltar ao palco mais de
três décadas depois, o também
dramaturgo e romancista Alberto
Guzik ("Risco de Vida") diz que
"é como andar de bicicleta". O
corpo não se esquece.
(VS)
O HORÁRIO DE VISITA - De: Sérgio
Roveri. Direção: Ruy Cortez. Com: Alberto Guzik. Onde: teatro do Centro da Terra (r. Piracuama, 19, tel. 3675-1595). Quando: estréia hoje, às 21h; sáb., às 21h, e dom., às 19h. Quanto: R$ 20. Até 5/10.
Texto Anterior: Teatro: Pia Fraus mira tragédia cênico-visual Próximo Texto: Dança: Espetáculo reinventa a ordenação do corpo Índice
|