VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Dentro da programação dos 20 anos do Centro Cultural São Paulo, o grupo Teatro União e Olho Vivo (Tuov) estréia hoje o espetáculo "João Cândido do Brasil - A Revolta da Chibata".
A montagem teve pré-estréias em sua sede, no Bom Retiro, e em cidades como Guarulhos e Santo André. O diretor César Vieira afirma que essas apresentações forneceram subsídios para a concepção final que o público confere em duas sessões gratuitas, hoje e amanhã, na sala Jardel Filho.
Com dramaturgia de Vieira -em colaboração com o elenco-, a peça trata do levante dos marinheiros ocorrido no Rio em 1910. Centenas de marujos liderados pelo gaúcho João Cândido Felisberto (1880-1969) rebelaram-se contra as condições de trabalho.
O episódio evidenciou os maus tratos, o "regime de escravidão" ao qual os homens da Marinha do Brasil eram submetidos. Sob ordens do presidente Marechal Hermes da Fonseca, as autoridades recuaram, mas revidaram posteriormente com tortura e assassinato de marujos, prostitutas e operários. Quem sobreviveu à violência foi preso e, depois, forçado à internação em hospital psiquiátrico, caso de João Cândido.
"A escolha de César Vieira equivale a um convite para olhar nossa história sem excluir os marginalizados pelas ideologias oficiais. Como sabemos, todas as providências foram tomadas para apagar da memória nacional a ação dos revoltosos de 1910 na Marinha de Guerra; para vilipendiar os seus participantes e tentar promover o esquecimento coletivo", afirma o crítico de literatura Antonio Candido. O projeto também foi acompanhado pelo filho do líder da Chibata, Adalberto Nascimento Cândido, que procura preservar a memória do pai.
A curta temporada no Centro Cultural São Paulo marca a doação do acervo do grupo para a Divisão de Pesquisas/Idart da instituição. Fotos, reportagens e outros itens compõem 36 anos de história do União e Olho Vivo.