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"O COORDENADOR"
Espetáculo revela dramaturgo sul-americano em palco brasileiro
Lenise Pinheiro/Folha Imagem
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Cena da peça "O Coordenador", de Benjamim Galemiri, encenada pela Odeon Companhia Teatral |
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Benjamim Galemiri é um
dramaturgo-cineasta: parte
de locações, não de tramas complexas. Chileno de origem judaica, herdando o inevitável humor
paranóico de Kafka, surgiu com
grande estardalhaço em 1993 no
8º Festival do Instituto Chileno
Norte-Americano de Cultura,
com "O Coordenador", este mesmo texto que estreou no Brasil no
último Festival de São José do Rio
Preto, que tinha justamente a
América como tema.
A maturidade de um continente
é justamente a de escapar ao que
se espera dele. A trama de Galemiri poderia acontecer em qualquer cidade: quatro funcionários
de níveis diversos da hierarquia
são mantidos presos no elevador
por um estranho funcionário, que
joga com os medos e as fantasias
de todos. A metáfora política é
clara: o poder é mantido pela retórica, o que dá margem às vezes a
uma certa verborragia. Mas a tensão, com dinâmica de psicoterapia de grupo, é relançada com
constantes mudanças de tom:
passa-se de um humor do teatro
do absurdo a um erotismo soturno, em torno do estupro da única
mulher entre os reféns.
A Odeon Companhia Teatral,
de Belo Horizonte, impõe respeito por sua equipe fixa e produtiva.
O diretor Carlos Gradim, que costuma se arriscar em textos fortes,
segura as rédeas da trama, apesar
de deixar às vezes o tom soar um
pouco declamado. O destaque entre o elenco é Yara de Novaes, que
dá conta do personagem mais difícil, que oscila entre a arrogância
e o vulnerável, sendo sensual.
O cenário de André Cortez impressiona muito por sua tecnologia, um estilizado e instável elevador, mas talvez por seu grande
impacto inicial acaba parecendo
subutilizado.
O grande mérito da montagem
é o de revelar não só um dramaturgo, mas todo um universo teatral sul-americano, ainda pouco
explorado nos palcos nacionais.
O Coordenador
Texto: Benjamin Galemiri
Direção: Carlos Gradim
Com: Nivaldo Pedrosa, Yara de Novaes
Onde: teatro Sérgio Cardoso (r. Rui
Barbosa, 153, Bela Vista, tel. 288-0136)
Quando: sex. e sáb., às 21h; e dom. às
19h
Quanto: R$ 20
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