São Paulo, quarta-feira, 13 de outubro de 2004

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"O COORDENADOR"

Espetáculo revela dramaturgo sul-americano em palco brasileiro

Lenise Pinheiro/Folha Imagem
Cena da peça "O Coordenador", de Benjamim Galemiri, encenada pela Odeon Companhia Teatral


SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

Benjamim Galemiri é um dramaturgo-cineasta: parte de locações, não de tramas complexas. Chileno de origem judaica, herdando o inevitável humor paranóico de Kafka, surgiu com grande estardalhaço em 1993 no 8º Festival do Instituto Chileno Norte-Americano de Cultura, com "O Coordenador", este mesmo texto que estreou no Brasil no último Festival de São José do Rio Preto, que tinha justamente a América como tema.
A maturidade de um continente é justamente a de escapar ao que se espera dele. A trama de Galemiri poderia acontecer em qualquer cidade: quatro funcionários de níveis diversos da hierarquia são mantidos presos no elevador por um estranho funcionário, que joga com os medos e as fantasias de todos. A metáfora política é clara: o poder é mantido pela retórica, o que dá margem às vezes a uma certa verborragia. Mas a tensão, com dinâmica de psicoterapia de grupo, é relançada com constantes mudanças de tom: passa-se de um humor do teatro do absurdo a um erotismo soturno, em torno do estupro da única mulher entre os reféns.
A Odeon Companhia Teatral, de Belo Horizonte, impõe respeito por sua equipe fixa e produtiva. O diretor Carlos Gradim, que costuma se arriscar em textos fortes, segura as rédeas da trama, apesar de deixar às vezes o tom soar um pouco declamado. O destaque entre o elenco é Yara de Novaes, que dá conta do personagem mais difícil, que oscila entre a arrogância e o vulnerável, sendo sensual.
O cenário de André Cortez impressiona muito por sua tecnologia, um estilizado e instável elevador, mas talvez por seu grande impacto inicial acaba parecendo subutilizado.
O grande mérito da montagem é o de revelar não só um dramaturgo, mas todo um universo teatral sul-americano, ainda pouco explorado nos palcos nacionais.


O Coordenador
   
Texto: Benjamin Galemiri
Direção: Carlos Gradim
Com: Nivaldo Pedrosa, Yara de Novaes
Onde: teatro Sérgio Cardoso (r. Rui Barbosa, 153, Bela Vista, tel. 288-0136)
Quando: sex. e sáb., às 21h; e dom. às 19h
Quanto: R$ 20



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