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"EU NÃO TENHO MEDO"
Em seu novo longa, diretor napolitano faz metáfora do lado sombrio de um passado brilhante
Gabriele Salvatores filma inocência perdida
Divulgação
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Cena de "Eu Não Tenho Medo", novo longa-metragem de Gabriele Salvatores, que se passa em um campo de trigo no sul da Itália |
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
A história se passa nos
campos de trigo de um distrito rural do sul italiano, mas, como notou um jornalista britânico
na première do filme, o cenário
remete mais aos trigais de Iowa,
nos EUA. Não por acaso.
A culpa não é apenas do diretor
de fotografia Italo Petriccione,
mas de seu maior empregador, o
diretor napolitano Gabriele Salvatores (Oscar de filme estrangeiro
por "Mediterrâneo"). "Eu Não
Tenho Medo" é mais um filme da
dupla que parece feito sob encomenda para o público norte-americano acostumado -o brasileiro
não deve se incomodar, exceto
talvez pelo fato de ver seu país novamente citado como paraíso da
criminalidade.
Mais uma história de inocência
perdida: um grupo de crianças
atravessa, de bicicleta, uma paisagem idílica que esconde um segredo. Imagem cindida de uma
infância dourada que encontrará
sua melhor metáfora nos recortes
traçados por uma colheitadeira.
"Eu Não Tenho Medo" é um
desses filmes cujo fundo da imagem parece trazer sempre outra
imagem: mantenham-se as bicicletas, troque-se o trigal por um
quintal e o estranho garoto saído
de um cativeiro subterrâneo por
um extraterrestre -voltamos a
um clássico de Spielberg. A diferença é que, em termos de manipulação emocional, Gabriele Salvatores não passa de um aprendiz
de feiticeiro.
Estamos nos anos 70 para deleite dos figurinistas. Época das Brigadas Vermelhas e da onda de seqüestros políticos na Itália, mas o
seqüestro que agita o filme não
parece ter conotação política.
Salvatores pratica a política do
avestruz, mas, no buraco em que
se mete, ele talvez pretenda ver
uma metáfora do lado sombrio de
um passado resplandecente. Não
chega a tanto. Seu filme tem, ao
menos, o mérito de ser fiel à percepção de seu protagonista.
Se as reações de Michele (Giuseppe Cristiano), um garoto de
dez anos, nos surpreendem volta
e meia é porque seguem suas próprias demandas de criança. É assim que ele acaba numa encruzilhada, entre o conluio dos adultos
e a solidariedade com a infância.
Eu Não Tenho Medo
Io Non Ho Paura
Direção: Gabriele Salvatores
Produção: Itália/Espanha/Inglaterra,
2003
Com: Giuseppe Cristiano
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