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São Paulo, sábado, 14 de junho de 2003

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"FOI SÓ UM BEIJO"

Aura de independente não esconde banalidade e tédio

Divulgação
A atriz Marisa Tomei em "Foi Só um Beijo", de Fisher Stevens


PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

O cinema americano vive tempos paradoxais. A produção independente, que surgiu quando os filmes dos grandes estúdios estavam no fundo do poço, chegou hoje a um estado pior que o de Hollywood. Se ainda existem diretores no mínimo interessantes trabalhando para a indústria (Clint Eastwood, Tim Burton, Steven Spielberg), no campo dos independentes forjou-se um padrão quase sempre mais engessado que o hollywoodiano.
"Foi Só um Beijo" é exatamente o caso: um filme baratinho, rodado em 25 dias, dirigido por um ator da cena independente (Fisher Stevens), mas que, à vera, não apresenta sombra de independência. Financiado e distribuído pela Paramount Classics, a divisão de baixo orçamento da Paramount, ele mais parece ter sido um projeto rejeitado pela divisão dos grandes orçamentos.
Com uma estrutura fragmentada e pós-moderna, "Foi Só um Beijo" se resume a isso: Dag (Ron Eldard), diretor de publicidade, dorme com a namorada de seu melhor amigo, o ator de comerciais Peter (Patrick Breen). Está deflagrada uma das crises mais desinteressantes já filmadas.
Fisher Stevens vai descrevê-la utilizando-se de uma coleção de lugares-comuns dos filmes independentes -sobretudo aquele do painel urbano em que esbarrões e acasos acabam tendo repercussões drásticas. O quiprocó não obedece à ordem convencional, mas se apresenta em idas e vindas no tempo, e por ora em tempos alternativos que poderiam ter acontecido se tal ou tal fato não tivesse se passado.
A vontade de ser diferente culmina com o uso da rotomação, técnica de animação digital que pinta parte da cena ou salienta detalhes dos personagens como olhares e sorrisos. Pura maquiagem para tentar esconder o banal.
O cenário para essa história é uma Nova York aflitivamente asséptica. "Foi Só um Beijo" consegue transformar a cidade-caldeirão em uma sopa fria e sem graça. Melhor não crer que Nova York e o cinema independente tenham se transformado nisto: uma comédia romântica careta e tediosa.


Foi Só um Beijo
Just a Kiss
  Produção: EUA, 2002 Direção: Fisher Stevens Com: Marisa Tomei, Ron Eldard, Marley Shelton, Patrick Breen Quando: a partir de hoje nos cines Belas Artes, Cineclube DirecTV, Frei Caneca Unibanco Arteplex e Pátio Higienópolis



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