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"FOI SÓ UM BEIJO"
Aura de independente não esconde banalidade e tédio
Divulgação
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A atriz Marisa Tomei em "Foi Só um Beijo", de Fisher Stevens |
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
O cinema americano vive
tempos paradoxais. A produção independente, que surgiu
quando os filmes dos grandes estúdios estavam no fundo do poço,
chegou hoje a um estado pior que
o de Hollywood. Se ainda existem
diretores no mínimo interessantes trabalhando para a indústria
(Clint Eastwood, Tim Burton, Steven Spielberg), no campo dos independentes forjou-se um padrão
quase sempre mais engessado
que o hollywoodiano.
"Foi Só um Beijo" é exatamente
o caso: um filme baratinho, rodado em 25 dias, dirigido por um
ator da cena independente (Fisher Stevens), mas que, à vera, não
apresenta sombra de independência. Financiado e distribuído
pela Paramount Classics, a divisão de baixo orçamento da Paramount, ele mais parece ter sido
um projeto rejeitado pela divisão
dos grandes orçamentos.
Com uma estrutura fragmentada e pós-moderna, "Foi Só um
Beijo" se resume a isso: Dag (Ron
Eldard), diretor de publicidade,
dorme com a namorada de seu
melhor amigo, o ator de comerciais Peter (Patrick Breen). Está
deflagrada uma das crises mais
desinteressantes já filmadas.
Fisher Stevens vai descrevê-la
utilizando-se de uma coleção de
lugares-comuns dos filmes independentes -sobretudo aquele do
painel urbano em que esbarrões e
acasos acabam tendo repercussões drásticas. O quiprocó não
obedece à ordem convencional,
mas se apresenta em idas e vindas
no tempo, e por ora em tempos
alternativos que poderiam ter
acontecido se tal ou tal fato não tivesse se passado.
A vontade de ser diferente culmina com o uso da rotomação,
técnica de animação digital que
pinta parte da cena ou salienta detalhes dos personagens como
olhares e sorrisos. Pura maquiagem para tentar esconder o banal.
O cenário para essa história é
uma Nova York aflitivamente asséptica. "Foi Só um Beijo" consegue transformar a cidade-caldeirão em uma sopa fria e sem graça.
Melhor não crer que Nova York e
o cinema independente tenham
se transformado nisto: uma comédia romântica careta e tediosa.
Foi Só um Beijo
Just a Kiss
Produção: EUA, 2002
Direção: Fisher Stevens
Com: Marisa Tomei, Ron Eldard, Marley
Shelton, Patrick Breen
Quando: a partir de hoje nos cines Belas
Artes, Cineclube DirecTV, Frei Caneca
Unibanco Arteplex e Pátio Higienópolis
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