São Paulo, domingo, 16 de junho de 2002

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ESTRÉIA

Engenho Teatral mostra "Pequenas Histórias que à História Não Contam" em sala construída no Campo Limpo

Teatro Móvel leva peça à periferia de SP

PEDRO IVO DUTRA
DA REDAÇÃO

A substanciais quilômetros da Broadway paulistana, epíteto dado à Bela Vista pela concentração de entretenimento, aterrissa, numa praça da zona sul, um objeto circular, ainda não bem identificado, que deixou ressabiada a vizinhança. Em vez de cair dos céus, foi trazido por dez caminhões.
O mistério, em parte desvendado durante a semana para escolas e convidados, encerra-se por inteiro hoje para a população local. Trata-se de uma sala de teatro, também destinada a outros fins artísticos. É o Teatro Móvel, que se instala para ficar por um ou dois anos no Campo Limpo.
Ao lado de uma igreja evangélica -cujos horários de alguns cultos batem com os das apresentações-, o espaço conta com uma platéia de 200 lugares, em arena de três faces, banheiros, cozinha, camarins e coxias. Sustentado por 14 arcos de ferro, abarcando 26 metros de diâmetro e nove metros de altura no centro, lembra um iglu pela lona ainda bem branca, que já foi azul em outros tempos. Pesa 40 toneladas.
Para montar todo esse aparato, foram necessários dois meses e meio de trabalhos. Na última quinta-feira, havia cinco homens contratados pela prefeitura dando-lhe os últimos retoques.

Teatro e hip hop
"Pequenas Histórias que à História Não Contam". Eis o título da peça de inauguração, destinada a adolescentes. Já para ontem, aliás, estava programada a performance de uma posse (nome dado a uma reunião de rappers, grafiteiros e de outras "disciplinas" ligadas ao movimento hip hop).
O texto, segundo seu autor e diretor, Luiz Carlos Moreira, 52, usa a linguagem épica para demonstrar certos mitos vendidos pela mídia aos jovens: a ascensão pelo estudo, que garantiria emprego a todos, e a procura por carreiras tais quais o futebol, a música ou a moda como motor de melhora social. As personagens são o pagodeiro, o craque, o jovem viciado, o mendigo, a modelo. Um apresentador, como nos programas de auditório, amarra os monólogos da juventude confusa em suas aspirações e perspectivas.
Além das noites de hip hop aos sábados, durante a semana o "iglu" estará aberto, principalmente a escolas. Um ônibus pode buscar e trazer grupos. Correndo paralelas às atividades, oficinas de teatro, rap, DJ e dança de rua se realizam há dois meses no galpão da Occa (Organização de Cultura e Cidadania). Serão transferidas ao Teatro Móvel.
Uns conseguem emprego, outros enfrentam reprovação familiar ou têm problemas para se locomover até a praça. Aos poucos, segundo o monitor da oficina teatral, Nelson Galvão, 33, vai se formando o grupo final, assíduo. "Um deles teve de nos abandonar, vinha do Capão Redondo a pé."
O grupo Engenho faz trabalhos na periferia ou em bairros menos próximos ao circuito convencional desde 1993. Em seus giros, já esteve na Vila Carrão, no Jardim São Paulo e em Pirituba. A contagem de público começou em 96: 135 mil pessoas.
O investimento é de cerca de R$ 1 milhão, havendo patrocínio de Centro Empresarial São Paulo, shopping Morumbi, Panamby, cia. Santa Cruz e do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, da prefeitura.


PEQUENAS HISTÓRIAS QUE À HISTÓRIA NÃO CONTAM. Texto e direção: Luiz Carlos Moreira. Com: grupo Engenho. Onde: Teatro Móvel (pça. João Tadeu Priolli, s/nš, tel. 5841-9915, também para agendamento de espetáculos). Quando: de seg. a qui., às 20h; dom., às 18h. Entrada franca.


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