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TEATRO
Na peça do irlandês Brian Friel, Julia Lemmertz vive mulher que é submetida a operação para enxergar e sofre impacto da realidade
"Molly" constrói reflexão sobre cegueira
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Metáfora da condição humana
em escritores como Borges e Saramago, a cegueira surge como um
dado da realidade na peça "Molly
Sweeney - Um Rastro de Luz"
(1992), do irlandês Brian Friel.
Sem enxergar desde seus primeiros meses, uma mulher de 41
anos mergulha numa infelicidade
sem fim quando depara com a recuperação parcial da visão.
Julia Lemmertz interpreta o papel na montagem que estréia hoje
no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, uma encenação
de Celso Nunes, e na próxima semana vai ao Festival de Curitiba.
A atriz surge ao lado de Orã Figueiredo, o marido que convence
a personagem a fazer uma operação de risco; e de Ednei Giovenazzi, o oftalmologista outrora renomado que vê na paciente a chance
de recuperar seu prestígio.
"Os homens induzem Molly à
operação, não de forma maquiavélica, mas eles se esquecem de
perguntar se isso seria bom para
ela", afirma Lemmertz, 42.
"Enxergar é um aprendizado difícil para quem já viveu tanto tempo e tem que encaixar o repertório de palavras às imagens. Ela
abre o olho e não sabe o que fazer", continua Lemmertz.
Um exemplo. Em criança,
Molly ouvia dizer que seus olhos
eram azuis feito uma florzinha do
quintal de casa. No pós-operatório, o espelho lhe mostra os olhos
em tons vermelhos, por causa do
sangramento. Choque.
Por trás da lida com a deficiência, o diretor Celso Nunes afirma
que Friel toca ainda na aceitação
da diferença, da individualidade.
"A reflexão está fundamentada
nos verbos ver e conhecer. O espectador pode transpor a história
dessa mulher para a sua vida,
questionando-se sobre a visão cega, a busca de caminhos quando a
solução está mais próxima do que
se imagina", diz Nunes, 64.
"Visão Cega" era o título de outra montagem do texto em 2000,
por José Renato, com Miriam Mehler, Oswaldo Mendes e Francarlos Reis. "É importante dizer que
se trata de uma peça com três protagonistas, do contrário não poderia existir", diz Lemmertz.
O trio passa o tempo em cena,
cada um ocupando o nicho dos
respectivos personagens que não
conversam entre si; dirigem-se ao
público na forma de depoimento.
Cada um conta sua versão da
mesma história.
Molly Sweeney - Um Rastro de Luz
Quando: estréia hoje, às 19h; sáb., às
19h, e dom., às 18h; até 25/6
Onde: CCBB - teatro (r. Alvares
Penteado, 112, centro, tel. 3113-3651)
Quando: R$ 15
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