São Paulo, segunda-feira, 18 de junho de 2001

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TEATRO

Começa hoje workshop com a companhia escocesa da qual o brasileiro Mauricio Paroni de Castro é diretor-associado

Suspect Culture expõe sua criação cênica

Jefferson Coppola/Folha Imagem
Mauricio Paroni de Castro (à dir.) e os ingleses Graham Eatough e Nick Powell (no reflexo, da esq. para a dir.), que dão workshop


VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Nascidos no norte da Inglaterra, o diretor teatral Graham Eatough, 30, e o compositor Nick Powell, 31, têm a feição de cantor pop, mas não são. O segundo, de fato, foi tecladista da banda de rock britânica Strangelove, extinta em 1998, após cinco anos de estrada.
Ambos fazem parte da companhia escocesa Suspect Culture, de Glasgow, fundada há 11 anos. Pela primeira vez, o Brasil toma contato com o processo de trabalho de Eatough e Powell. De hoje até o próximo domingo, eles realizam workshop na cidade, na Carmina Escola para Formação de Atores, que fica no Itaim Bibi.
Junta-se aos dois o encenador brasileiro Mauricio Paroni de Castro, 40, diretor-associado da Suspect desde 1998.
Formado pela escola de arte dramática Piccolo Teatro di Milano, Paroni de Castro reveza trabalhos entre a Itália e o Brasil desde 1985. Sua última montagem por aqui foi "Restos Humanos Não-Identificados - A Verdadeira Natureza do Amor", encenada no Rio, em 1999.
A afinidade com a Suspect Culture decorre da disposição que diz ter encontrado nos seus jovens integrantes, cinco anos atrás, para renovar a linguagem cênica a cada montagem.
O espetáculo nasce por meio de cursos similares realizados em outros países, sobretudo europeus. A pesquisa com a cultura local é determinante.
"A companhia foi citada pelo jornal "The Times" como uma das mais corajosas da cena atual, por causa da sua disposição em misturar, em adotar uma perspectiva multicultural", diz Paroni de Castro. Completam o núcleo o dramaturgo britânico David Grieg e o ator espanhol Andres Lima.
O último espetáculo da Suspect, "The Golden Ass" ("O Asno de Ouro" ou "O Jegue de Ouro", como prefere Paroni de Castro), adaptação do clássico de Apuleio, é emblemático da vocação da companhia para a pesquisa.
Sob um cenário montado com sucatas, "Golden Ass", que estreou em 2000, se pretende uma crítica à subordinação das culturas periféricas à cultura anglo-saxã. O livro da canadense Naomi Klein, "No Logo", sobre a juventude politicamente ativa, também serve de estímulo.

"Política do indivíduo"
Graham afirma que o teatro inglês dos anos 90 concentrou-se na "política do indivíduo", privilegiando temas como sexualidade e religião -cita, por exemplo, Declan Donnellan, que dirigiu "Angels in America" em Londres, texto do americano Tony Kushner. "Esqueceram de olhar para a transformação econômica que estava em curso e desembocou na globalização, contra a qual resistimos", diz o diretor.
A inspiração para a próxima montagem, a partir do respectivo workshop, é um conto do escritor argentino Jorge Luis Borges, "História do Guerreiro e da Cativa", do livro "O Aleph". Segundo Paroni de Castro, trata-se de uma reflexão sobre a dicotomia barbárie-civilização. Estão previstas atividades na Estação Ciência da USP e na vila inglesa de Paranapiacaba (SP).

WORKSHOP - Com a companhia escocesa Suspect Culture (Graham Eatough, Nick Powell e Mauricio Paroni de Castro). Destinado a atores, músicos e demais interessados em teatro, profissionais ou amadores. Quando: de hoje ao dia 24 (seg. a sex., das 18h30 às 23h; sáb. e dom., das 14h30 às 19h). Onde: Carmina Escola de Formação de Atores (r. Jacuricy, 81, Itaim Bibi, tel. 3078-6999, atendimento das 17h30 às 23h). 30 vagas. Quanto: R$ 180.



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