São Paulo, sábado, 18 de setembro de 2004

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Grinspum reúne sua "antologia"

JANAINA ROCHA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

As obsessões não mudam. Os lugares do espaço e do tempo na criação de desenhos e esculturas são, em resumo, essa inquietação que persegue a artista plástica Ester Grinspum, arquiteta de formação, durante os 25 anos de sua carreira. Parte disso estará presente nas obras selecionadas para a exposição que se chama "Uma Antologia", a partir de hoje, na Pinacoteca do Estado.
Porém, tempo e espaço não são noções de compreensão imediatas. "A arte não está aí para reiterar a realidade. E meu trabalho não quer cumprir essa função", diz. "A vontade de compreender coisas como o tempo, o lugar, o que é possível e o que deve ser feito pelo homem hoje, isso só se reafirma em mim ao longo dos anos. Esse é o meu percurso, minha escolha."
A mostra reúne 20 obras da artista, entre elas desenhos, esculturas, objetos e duas instalações. O ineditismo fica por conta da série de esculturas de vidros redondos, que variam de medidas: há pequenos de 16 cm, outros maiores de 30. Todos criados este ano.
Mas, por outro lado, tudo soa novo, já que a possibilidade de se observar um "panorama de uma produção contemporânea" é uma situação rara, seja nos museus ou nas galerias no Brasil, inclusive para Grinspum. Segundo ela, apenas na França, em 1998, viu parte de sua produção reunida, algo que dava conta de uma década.
Embora ela acredite que não seja uma artista de rupturas, de negações, Grinspum enxerga a realização do novo trabalho, os vidros, como o segundo momento radical de transformação em seu trabalho. Assim como em 1989, quando expôs sua primeira escultura, "O Duplo e o Tempo", instalação apresentada na Bienal de 1989, e a série "Os Duplos", em que os desenhos eram quase brancos, hoje os vidros surgem também "apagando" parte de seu repertório.
"Os objetos que fiz até o momento, que tiveram madeira, corpo, volume, balanço, equilíbrio, agora ficaram completamente transparentes, invisíveis", comenta. "Por exemplo: depois dos duplos, eu jamais voltei a fazer um desenho como antes, com aquarela, cor, narrativa."
Radicalismo? Escolha? Grinspum está, como observa, numa cilada. "Como retomarei um peso, depois de ter trabalhado com um vidro, uma coisa quase etérea?" Para ela, escultura e desenho têm uma relação dialética. Contudo, o desenho surge depois da escultura como tentativa analítica da autora da compreensão de seu trabalho. E o que seria então ele, depois do invisível? Ela ainda não tem resposta. Talvez o público aponte alguma. Por enquanto, uma observação do curador da mostra, Tadeu Chiarelli:
"Contra essa corrente focada no desejo de comunicação direta, a partir de códigos passíveis de serem assimilados por todos, Grinspum opôs um vocabulário premeditadamente obscuro, subjetivo, constituído tanto de ícones vindos da história da arte quanto aqueles de sua própria formulação".


ESTER GRINSPUM - UMA ANTOLOGIA.
Onde: Onde: Pinacoteca do Estado de São Paulo (pça. da Luz, 2, tel. 3229-9844).
Quando: abertura sáb., das 11 às 14h; de ter. a dom., das 10h às 17h30; até 14/11.
Quanto: R$ 4 (grátis aos sábados).



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