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Grinspum reúne sua "antologia"
JANAINA ROCHA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
As obsessões não mudam. Os
lugares do espaço e do tempo na
criação de desenhos e esculturas
são, em resumo, essa inquietação
que persegue a artista plástica Ester Grinspum, arquiteta de formação, durante os 25 anos de sua
carreira. Parte disso estará presente nas obras selecionadas para
a exposição que se chama "Uma
Antologia", a partir de hoje, na Pinacoteca do Estado.
Porém, tempo e espaço não são
noções de compreensão imediatas. "A arte não está aí para reiterar a realidade. E meu trabalho
não quer cumprir essa função",
diz. "A vontade de compreender
coisas como o tempo, o lugar, o
que é possível e o que deve ser feito pelo homem hoje, isso só se
reafirma em mim ao longo dos
anos. Esse é o meu percurso, minha escolha."
A mostra reúne 20 obras da artista, entre elas desenhos, esculturas, objetos e duas instalações. O
ineditismo fica por conta da série
de esculturas de vidros redondos,
que variam de medidas: há pequenos de 16 cm, outros maiores
de 30. Todos criados este ano.
Mas, por outro lado, tudo soa
novo, já que a possibilidade de se
observar um "panorama de uma
produção contemporânea" é uma
situação rara, seja nos museus ou
nas galerias no Brasil, inclusive
para Grinspum. Segundo ela, apenas na França, em 1998, viu parte
de sua produção reunida, algo
que dava conta de uma década.
Embora ela acredite que não seja uma artista de rupturas, de negações, Grinspum enxerga a realização do novo trabalho, os vidros,
como o segundo momento radical de transformação em seu trabalho. Assim como em 1989,
quando expôs sua primeira escultura, "O Duplo e o Tempo", instalação apresentada na Bienal de
1989, e a série "Os Duplos", em
que os desenhos eram quase
brancos, hoje os vidros surgem
também "apagando" parte de seu
repertório.
"Os objetos que fiz até o momento, que tiveram madeira, corpo, volume, balanço, equilíbrio,
agora ficaram completamente
transparentes, invisíveis", comenta. "Por exemplo: depois dos
duplos, eu jamais voltei a fazer
um desenho como antes, com
aquarela, cor, narrativa."
Radicalismo? Escolha? Grinspum está, como observa, numa
cilada. "Como retomarei um peso, depois de ter trabalhado com
um vidro, uma coisa quase etérea?" Para ela, escultura e desenho
têm uma relação dialética. Contudo, o desenho surge depois da escultura como tentativa analítica
da autora da compreensão de seu
trabalho. E o que seria então ele,
depois do invisível? Ela ainda não
tem resposta. Talvez o público
aponte alguma. Por enquanto,
uma observação do curador da
mostra, Tadeu Chiarelli:
"Contra essa corrente focada no
desejo de comunicação direta, a
partir de códigos passíveis de serem assimilados por todos, Grinspum opôs um vocabulário premeditadamente obscuro, subjetivo, constituído tanto de ícones
vindos da história da arte quanto
aqueles de sua própria formulação".
ESTER GRINSPUM - UMA ANTOLOGIA.
Onde: Onde: Pinacoteca do Estado de
São Paulo (pça. da Luz, 2, tel. 3229-9844).
Quando: abertura sáb., das 11 às 14h; de
ter. a dom., das 10h às 17h30; até 14/11.
Quanto: R$ 4 (grátis aos sábados).
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