São Paulo, Sábado, 19 de Junho de 1999
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TEATRO
"Equilíbrio" confirma lendas de Tonia e Walmor

Divulgação
Os atores Tonia Carrero e Walmor Chagas em cena da peça "Um Equilíbrio Delicado", em cartaz no teatro Alfa


NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

No teatro de câmara que é o Alfa B, é possível apreciar em todos os detalhes a qualidade da interpretação de Walmor Chagas, um dos maiores atores que o país já teve, e os traços exatos do humor e beleza de Tonia Carrero, provavelmente a mais linda atriz que já pisou num palco brasileiro.
É claro que o tempo passou, ambos se afastaram do teatro, mas estão lá, confirmadas, as duas lendas de décadas atrás.
O que marca em Walmor Chagas são as minúcias da atuação, a inteligência de sua construção. No teatro de câmara é possível atentar a cada gesto, cada relutância de efeito cômico de seu Tobias, cujos dramas familiares o tornaram patético e tragicômico. A maneira como reage às exigências de Agnes, sua mulher, e como se escusa de decidir seja o que for.
Embora com atuação em chave diferente, ele se molda com perfeição à Agnes de Tonia Carrero, a mulher, mãe e irmã que atravessa "Um Equilíbrio Delicado" esforçando-se em não ficar louca, é o que diz, mas principalmente em não permitir a autodestruição do marido, da filha e da irmã mais nova. Sua Agnes é um poço de "equilíbrio delicado", como vai o título, mas não sem o repertório de humor e a facilidade, o domínio da comédia que, mais que tudo, sustentaram seu renome.
Ainda que seja um texto engenhoso, "Um Equilíbrio Delicado" não é o melhor do autor americano Edward Albee -de resto, aliás, quase sempre frustrante, sobretudo se comparado aos anteriores de mesma linha realista, como Tennessee Williams ou Arthur Miller. É uma comédia dramática algo óbvia, até superficial.
Mas não importa, já que as ótimas atuações, não só do casal central, mas de todo o elenco, em inflexões diversas e ricamente conflitantes, valem o espetáculo.
Note-se, por exemplo, a entrada do amigo Harry (Luís de Lima), sua síndrome de pânico desenhada para o ridículo, o riso. Ou ainda, melhor, como se desenvolve a "amizade" com Tobias, ambos os atores no limite indefinido entre a sinceridade do sentimento e a inteira hipocrisia.
Não é diferente com Ítala Nandi, a irmã que não admite o alcoolismo e que, de fato, surge como o ser mais lúcido em cena, ainda que de corpo cambaleante e língua descontrolada; nem com Camilla Amado, a amiga de quem escorre egoísmo, mas não sem sinais conflitantes de franqueza, até lealdade; e Clarice Niskier, que faz a filha "jovem" de quase 40 anos, ainda dependente e histérica exigindo seu quarto de menina.


Avaliação:     


Peça: Um Equilíbrio Delicado
Direção: Eduardo Wotzik
Quando: qui. e sex., às 21h; sáb., às 18h e 21h; dom., às 20h
Onde: teatro Alfa, sala B (r. Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel. 5693-4000)
Quanto: R$ 40 (qui.), R$ 45 (sex. e dom.) e R$ 50 (sáb.)


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