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O CASO REAL
Filme não conta toda a verdade dos processos KATHLEEN SHARP
da "Salon"
A verdade é diferente do filme.
Em se tratando de Hollywood, isso não é incomum -e não significa que o filme seja ruim.
Mas muitos dos querelantes no
processo Hinkley dizem que o filme não conta a verdade sobre o
que aconteceu.
O caso nunca chegou a ir a julgamento porque a Pacific Gas &
Electric (PG&E), a empresa acusada de poluir a cidade, e os advogados dos querelantes concordaram em submetê-lo a arbitragem
privada diante de um grupo de
juízes comprados, alguns dos
quais tinham mantido contatos
sociais com esses advogados.
Agora muitos dos habitantes da
cidade que abriram o processo se
queixam de que as quantias que
receberam a título de compensação foram menores do que as que
mereciam. Eles dizem que os advogados ficaram com o dinheiro
durante seis meses depois de concluído o acordo e que não receberam os juros referentes a esse período. Algumas dessas acusações
e queixas são resultados previsíveis da chegada repentina e desigual de muito dinheiro numa cidade pequena. Mas não é fácil
avaliar as queixas, porque o processo de arbitragem continua em
sigilo.
"O filme é quase todo uma
mentira", disse Carol Smith, uma
das querelantes na vida real. "Eu
gostaria que a verdade viesse à tona. Pelo que me disseram, o filme
vai retratar Erin e os outros advogados como heróis. Mas cadê o
resto do nosso dinheiro?"
É a mesma pergunta formulada
por muitos dos 650 querelantes
no caso que acabou sendo conhecido como Anderson versus
PG&E. A história começou em
Hinkley, cidade de cerca de 3.500
habitantes situada no deserto de
Mojave, 190 km a nordeste de Los
Angeles.
A cidade é cercada por laboratórios que produzem metanfetamina e fica próxima de duas bases da
Marinha e um enorme centro de
armas navais. Nos últimos 15 ou
20 anos, muitos dos residentes beberam, tomaram banho e nadaram em água poluída por uma
substância química chamada crômio seis.
Eles sofrem de muitos problemas físicos, incluindo sangramentos nasais, doenças intestinais diversas, problemas de coluna, dentes podres e tumores. Em
1952, numa área de oito hectares
próxima à cidade, a PG&E construiu uma estação de bombeamento que integrava seu enorme
sistema de transmissão de gás. A
estação bombeava gás natural por
um gasoduto que se estendia do
Texas à área da baía de San Francisco. O sistema atendia aos consumidores da PG&E em boa parte do vale central do Estado.
A empresa utilizava o crômio
para impedir a corrosão por ferrugem de seu sistema de resfriamento de água. Os resíduos químicos da água eram canalizados
para tanques não revestidos (a
partir de 1966 a empresa passou a
revestir esses tanques). Em 1987,
durante uma averiguação que a
empresa afirma ter sido de rotina,
a PG&E constatou um vazamento de crômio na água da cidade.
No início da década de 90, a
PG&E lançou um trabalho de
limpeza, que custou US$ 12,5 milhões, abordando os proprietários
de três fazendas e dez casas na
área e oferecendo-se a adquirir
seus imóveis por um preço alto.
Tradução Clara Allain
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