São Paulo, quinta-feira, 20 de abril de 2000


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O CASO REAL

Filme não conta toda a verdade dos processos

KATHLEEN SHARP
da "Salon"

A verdade é diferente do filme. Em se tratando de Hollywood, isso não é incomum -e não significa que o filme seja ruim.
Mas muitos dos querelantes no processo Hinkley dizem que o filme não conta a verdade sobre o que aconteceu.
O caso nunca chegou a ir a julgamento porque a Pacific Gas & Electric (PG&E), a empresa acusada de poluir a cidade, e os advogados dos querelantes concordaram em submetê-lo a arbitragem privada diante de um grupo de juízes comprados, alguns dos quais tinham mantido contatos sociais com esses advogados.
Agora muitos dos habitantes da cidade que abriram o processo se queixam de que as quantias que receberam a título de compensação foram menores do que as que mereciam. Eles dizem que os advogados ficaram com o dinheiro durante seis meses depois de concluído o acordo e que não receberam os juros referentes a esse período. Algumas dessas acusações e queixas são resultados previsíveis da chegada repentina e desigual de muito dinheiro numa cidade pequena. Mas não é fácil avaliar as queixas, porque o processo de arbitragem continua em sigilo.
"O filme é quase todo uma mentira", disse Carol Smith, uma das querelantes na vida real. "Eu gostaria que a verdade viesse à tona. Pelo que me disseram, o filme vai retratar Erin e os outros advogados como heróis. Mas cadê o resto do nosso dinheiro?"
É a mesma pergunta formulada por muitos dos 650 querelantes no caso que acabou sendo conhecido como Anderson versus PG&E. A história começou em Hinkley, cidade de cerca de 3.500 habitantes situada no deserto de Mojave, 190 km a nordeste de Los Angeles.
A cidade é cercada por laboratórios que produzem metanfetamina e fica próxima de duas bases da Marinha e um enorme centro de armas navais. Nos últimos 15 ou 20 anos, muitos dos residentes beberam, tomaram banho e nadaram em água poluída por uma substância química chamada crômio seis.
Eles sofrem de muitos problemas físicos, incluindo sangramentos nasais, doenças intestinais diversas, problemas de coluna, dentes podres e tumores. Em 1952, numa área de oito hectares próxima à cidade, a PG&E construiu uma estação de bombeamento que integrava seu enorme sistema de transmissão de gás. A estação bombeava gás natural por um gasoduto que se estendia do Texas à área da baía de San Francisco. O sistema atendia aos consumidores da PG&E em boa parte do vale central do Estado.
A empresa utilizava o crômio para impedir a corrosão por ferrugem de seu sistema de resfriamento de água. Os resíduos químicos da água eram canalizados para tanques não revestidos (a partir de 1966 a empresa passou a revestir esses tanques). Em 1987, durante uma averiguação que a empresa afirma ter sido de rotina, a PG&E constatou um vazamento de crômio na água da cidade.
No início da década de 90, a PG&E lançou um trabalho de limpeza, que custou US$ 12,5 milhões, abordando os proprietários de três fazendas e dez casas na área e oferecendo-se a adquirir seus imóveis por um preço alto.


Tradução Clara Allain


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