São Paulo, sábado, 21 de outubro de 2006

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Crítica/"O Guardião"

Narrativa tensa mostra o vazio da política

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Ruben (Julio Chávez), guarda-costas de um ministro, é praticamente um homem invisível.
Seu papel, em grande medida, consiste em passar despercebido enquanto abre portas, espera em ante-salas e corredores, vigia os ambientes por onde passa ou passará seu chefe.
A partir do ponto de vista desse ser descolorido, vemos não tanto a política argentina, mas os bastidores, as zonas mortas, os "entreatos" da atividade política, que se apresenta então como ritual desprovido de conteúdo. É por frestas de portas, por fragmentos de conversas telefônicas, que entrevemos um pouco desse impenetrável universo.
Mas Ruben é um ser de carne e osso, com sua irmã problemática, sua sobrinha, seus rancores calados. Esse mundo interior em quieta ebulição vai sendo construído pelo espectador à medida que acompanha as tarefas do guardião. A tensão, que justificará o desenlace surpreendente, não se nutre dos golpes baixos do cinema convencional (música enfática, montagem paralela), mas do laconismo do personagem, da parcimônia com que nos é mostrada sua vida.
Lição de rigor e precisão, a narrativa desse primeiro longa "solo" do argentino Rodrigo Moreno foi comparada, com algum exagero, ao cinema ascético do francês Robert Bresson.
Não chega a tanto, mas justifica a esperança numa carreira das mais brilhantes.


O GUARDIÃO    
Direção: Rodrigo Moreno
Produção: Argentina/França/Alemanha, 2006
Onde: amanhã, às 15h10, no Frei Caneca Unibanco Arteplex - sala 2; seg., às 19h, no Cinemark Metrô Santa Cruz - sala 9; e sáb. (18), às 13h, no Memorial da América Latina


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