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Crítica/"O Guardião"
Narrativa tensa mostra o vazio da política
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Ruben (Julio Chávez),
guarda-costas de um
ministro, é praticamente um homem invisível.
Seu papel, em grande medida,
consiste em passar despercebido enquanto abre portas, espera em ante-salas e corredores,
vigia os ambientes por onde
passa ou passará seu chefe.
A partir do ponto de vista
desse ser descolorido, vemos
não tanto a política argentina,
mas os bastidores, as zonas
mortas, os "entreatos" da atividade política, que se apresenta
então como ritual desprovido
de conteúdo. É por frestas de
portas, por fragmentos de conversas telefônicas, que entrevemos um pouco desse impenetrável universo.
Mas Ruben é um ser de carne
e osso, com sua irmã problemática, sua sobrinha, seus rancores calados. Esse mundo interior em quieta ebulição vai sendo construído pelo espectador
à medida que acompanha as tarefas do guardião.
A tensão, que justificará o desenlace surpreendente, não se
nutre dos golpes baixos do cinema convencional (música
enfática, montagem paralela),
mas do laconismo do personagem, da parcimônia com que
nos é mostrada sua vida.
Lição de rigor e precisão, a
narrativa desse primeiro longa
"solo" do argentino Rodrigo
Moreno foi comparada, com algum exagero, ao cinema ascético do francês Robert Bresson.
Não chega a tanto, mas justifica
a esperança numa carreira das
mais brilhantes.
O GUARDIÃO
Direção: Rodrigo Moreno
Produção: Argentina/França/Alemanha, 2006
Onde: amanhã, às 15h10, no Frei Caneca Unibanco Arteplex - sala 2; seg., às
19h, no Cinemark Metrô Santa Cruz
- sala 9; e sáb. (18), às 13h, no Memorial da América Latina
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