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COMENTÁRIO
A marca da Dinamarca
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
Tradição e modernidade,
narração e abstração, clássico
e popular: o programa que o lendário Balé Real da Dinamarca traz
ao Brasil promete (para ficar nos
binarismos) variedade e continuidade, cada noite em novas combinações.
Fundada em 1748, a companhia
tem seu nome associado ao do coreógrafo August Bournonville
(1805-79). Filho do bailarino francês Antoine Bournonville (1760-1843), que emigrou para Copenhague em 1792, ele se formou na
França e retornou ao seu país em
1830, para atuar como primeiro
bailarino do Balé Real até 1848.
Depois tornou-se "maître" de balé e coreógrafo até 1877. Criou
inúmeras obras, em que elevou o
papel masculino à mesma importância do feminino. Entre as
maiores virtudes de seu trabalho,
estão a nova fluidez e precisão de
cada parte do corpo.
O terceiro ato de sua coreografia
"Napoli" (1842) retorna ao Brasil
nessa quarta visita dos dinamarqueses: é um "divertissement", a
celebração do casamento de Teresina e do pescador Gennaro, inspirada em danças populares como a tarantela. Teresina foi carregada pelo mar, durante uma tempestade. Retida por Golfo, espírito
das águas, ela reencontra Gennaro. O amor dos dois os salva.
Pode parecer banal, para nosso
ceticismo; mas a coreografia trouxe novos ares na época: não só pelos pescadores no lugar de príncipes e princesas, mas também pelos batimentos vibrantes dos pés,
em oposição à extrema leveza
normalmente associada às sapatilhas de ponta.
Também de um grande nome
da dança -Georges Balanchine
(1904-83)- é a outra coreografia,
"Who Cares?", de 1970, com música de George Gershwin (1898-1937). A dança clássica bebe algo
aqui dos musicais ("Who Cares?"
é uma das canções no musical "Of
Thee I Sing") e une os glamourosos anos 20-30 com os irrequietos
70, sob a imagem dos arranha-céus de Manhattan. "Love's the
only thing that matters" (o amor é
a única coisa que importa).
"Adagietto", de John Neumeier
(1942) -ex-integrante do Balé
Real, atual diretor do Balé de
Hamburgo-, explora uma linguagem neoclássica, em que as
"emoções redefinem os movimentos", ecoando a célebre música de Gustav Mahler (1860-1911).
Outras criações a serem apresentadas nessa temporada em São
Paulo: "Triplex" e "Nômade" de
Tim Rushton, atual diretor do
New Danish Dance Theatre;
"Flight to Budapest", de Alexei
Ratmansky, também bailarino do
Balé Real, onde fez sua estréia como coreógrafo em 1999; e "The
Wish", do australiano Stanton
Welsh. Tudo somado, uma boa
mistura: clássicos antigos e modernos mais algumas novidades.
Programa para agradar gregos,
troianos e paulistanos.
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