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São Paulo, domingo, 22 de junho de 2003

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COMENTÁRIO

A marca da Dinamarca

INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

Tradição e modernidade, narração e abstração, clássico e popular: o programa que o lendário Balé Real da Dinamarca traz ao Brasil promete (para ficar nos binarismos) variedade e continuidade, cada noite em novas combinações.
Fundada em 1748, a companhia tem seu nome associado ao do coreógrafo August Bournonville (1805-79). Filho do bailarino francês Antoine Bournonville (1760-1843), que emigrou para Copenhague em 1792, ele se formou na França e retornou ao seu país em 1830, para atuar como primeiro bailarino do Balé Real até 1848. Depois tornou-se "maître" de balé e coreógrafo até 1877. Criou inúmeras obras, em que elevou o papel masculino à mesma importância do feminino. Entre as maiores virtudes de seu trabalho, estão a nova fluidez e precisão de cada parte do corpo.
O terceiro ato de sua coreografia "Napoli" (1842) retorna ao Brasil nessa quarta visita dos dinamarqueses: é um "divertissement", a celebração do casamento de Teresina e do pescador Gennaro, inspirada em danças populares como a tarantela. Teresina foi carregada pelo mar, durante uma tempestade. Retida por Golfo, espírito das águas, ela reencontra Gennaro. O amor dos dois os salva.
Pode parecer banal, para nosso ceticismo; mas a coreografia trouxe novos ares na época: não só pelos pescadores no lugar de príncipes e princesas, mas também pelos batimentos vibrantes dos pés, em oposição à extrema leveza normalmente associada às sapatilhas de ponta.
Também de um grande nome da dança -Georges Balanchine (1904-83)- é a outra coreografia, "Who Cares?", de 1970, com música de George Gershwin (1898-1937). A dança clássica bebe algo aqui dos musicais ("Who Cares?" é uma das canções no musical "Of Thee I Sing") e une os glamourosos anos 20-30 com os irrequietos 70, sob a imagem dos arranha-céus de Manhattan. "Love's the only thing that matters" (o amor é a única coisa que importa).
"Adagietto", de John Neumeier (1942) -ex-integrante do Balé Real, atual diretor do Balé de Hamburgo-, explora uma linguagem neoclássica, em que as "emoções redefinem os movimentos", ecoando a célebre música de Gustav Mahler (1860-1911).
Outras criações a serem apresentadas nessa temporada em São Paulo: "Triplex" e "Nômade" de Tim Rushton, atual diretor do New Danish Dance Theatre; "Flight to Budapest", de Alexei Ratmansky, também bailarino do Balé Real, onde fez sua estréia como coreógrafo em 1999; e "The Wish", do australiano Stanton Welsh. Tudo somado, uma boa mistura: clássicos antigos e modernos mais algumas novidades. Programa para agradar gregos, troianos e paulistanos.



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