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São Paulo, domingo, 22 de junho de 2003

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"IBERÊ CAMARGO"

Exposição reconstitui trajetória do artista gaúcho, morto em 94, por meio de quadros e desenhos

Pinturas conduzem à sombra e ao didatismo

Divulgação
Detalhe de "Lapa" (1947), obra de Iberê Camargo que está em exposição na Pinacoteca do Estado


FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

Tem vida própria a pintura? A retrospectiva de Iberê Camargo (1914-1994) na Pinacoteca cria um percurso sombrio e didático por quadros e desenhos que reconstituem a trajetória do artista gaúcho.
As sete salas expositivas são ordenadas de forma axial: parte-se do meio em direção às extremidades opostas. Entrada e fundos exibem a produção nostálgica dos três últimos anos do septuagenário. Caminhamos rumo à morte.
"Solidão" (1994) é o centro da mostra. Três vultos violáceos perdem o contorno durante o crepúsculo do painel final.
Numa ponta da galeria, está a série cética "Tudo te É Falso e Inútil". Entre 92 e 93, Camargo fez cenas com figuras encarquilhadas contemplando valores do próprio passado: o cavalete de pintura, o modelo vivo, carretéis e bicicleta tantas vezes retratados por ele.
Noutra, a gravidade da volta ao pó. "No Vento e na Terra" (91) é um velho caído em paisagem desolada de tinta grossa.
Entretanto a visita em ziguezague aos núcleos intermediários revela o experimentalismo dinâmico do profissional de ateliê. Logo na entrada, dois grupos recuperam a pintura juvenil. Num deles, três paisagens de 41: o gesto marcante obriga os borrões de tinta a se ordenar em vistas, como em "Jaguari".
Mas é no auto-retrato de 43 que adivinhamos a profissão de fé do modernista brasileiro. Como aluno de Guignard naquele ano, Iberê Camargo traçou leve a feição contra um fundo montanhoso e aéreo ao estilo do mestre.
O engajamento em questões nacionais circunstancia o abstracionismo das décadas de 50 e 60. Ele adere ao debate construtivo do pós-guerra, embora mantenha a necessidade da expressão gestual. Assim, nunca enveredou pela geometria pura, embora flerte com ela, como na "Dinâmica de Carretéis" (1960).
Os anos 70 e 80 assistem à volta das figuras reprimidas. Primeiro são os carretéis que retornam à superfície opaca do "Andamento 1" (1973). Depois, a imagem de si mesmo ressurge saída de tubos espremidos no "Auto-Retrato" de 1984.
A melancolia então vai ganhando a cena final, multiplicando-se nos personagens da "Fantasmagoria 4" (1987) e do "Outono no Parque da Redenção" (1984).
A curadoria mostra uma vida auto-referente de tintas e telas.


Iberê Camargo
   

Quando: de ter. a dom.: das 10h às 17h30. Até 27/7
Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, Bom Retiro, região central, tel. 229-9844)
Quanto: R$ 4 (entrada franca aos sábados)



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