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"O PEQUENO TONY"
Excesso de psicologismo abafa filme
CECÍLIA SAYAD
especial para a Folha
Tome-se as raras produções
holandesas exibidas no Brasil.
"A Excêntrica Família de Antônia", "Caráter" e os filmes do
diretor Jos Stelling ("O Ilusionista") são diferentes entre si,
mas têm algo em comum: exprimem uma atmosfera nada
realista povoada por personagens esquisitos.
Os de "O Pequeno Tony",
que entra em circuito em São
Paulo, são Kate, uma mulher
dominadora e gorda que sustenta a casa, Brand, seu marido
analfabeto e submisso, e Lena,
a jovem e atraente professora
contratada por Kate para ensiná-lo a ler.
Mas no que reside a esquisitice de tais personagens? Na verdade, eles não possuem nenhum traço de personalidade
ou comportamento nunca vistos -apenas apresentam-no
de maneira acentuada.
O drama desse trio não traz
grandes novidades: a jovem
professora seduz seu aluno,
provocando ciúme na mulher
deste, que, em vez de dispensar
os serviços de Lena, decide utilizar o inevitável romance que
terá início em benefício próprio. Ou seja, Lena pode dar a
ela o filho que não teve (o pequeno Tony).
Esse plano é aos poucos exposto a Brand, que resiste à
tentação e não compreende a
insistência de sua mulher para
que vire amante de Lena. Até
que aceita o plano, os três passam a viver juntos e a situação
foge do controle de Kate.
Quem passa a dominar então
é Lena, e o filme vai se configurando como um estudo sobre o
poder feminino -ou sobre a
fragilidade masculina.
Brand não tem vontade própria: faz o que a mulher ou a
amante mandam. Ele é uma espécie de filho de Kate, que lhe
dá ordens e sustenta a casa.
Com relação a Lena, é um aluno humilhado. Sua fixação por
seios, finalmente, simboliza a
força que o caráter maternal
das mulheres exerce sobre ele.
A substituição de Kate, que
lembra mais uma mãe, por Lena, mais sensual, poderia marcar um amadurecimento de
Brand. Mas esse amadurecimento não passa do estágio daquele vivenciado por meninos
que transferem a fixação que
têm pela mãe para a professora
de primário.
Brand nunca deixa de ser
apenas a peça de um jogo em
que o que está em disputa não é
tanto o homem, mas o poder
que se tem sobre ele.
Conflitos já desgastados,
exaustivamente discutidos em
qualquer manual de psicologia,
só são palatáveis se abordados
de forma surpreendente ou se
acrescidos de novas constatações.
"O Pequeno Tony" peca pela
falta dessas atenuantes, correndo o risco de passar despercebido.
Avaliação:
Filme: O Pequeno Tony
Título original: The Little Tony
Produção: Holanda, 1998
Direção: Alex van Wandermam
Com: Alex van Wandermam, Annet
Malherbe
Quando: em cartaz no cine Espaço
Unibanco 4
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