São Paulo, Sábado, 23 de Outubro de 1999
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"O PEQUENO TONY"
Excesso de psicologismo abafa filme

CECÍLIA SAYAD
especial para a Folha

Tome-se as raras produções holandesas exibidas no Brasil. "A Excêntrica Família de Antônia", "Caráter" e os filmes do diretor Jos Stelling ("O Ilusionista") são diferentes entre si, mas têm algo em comum: exprimem uma atmosfera nada realista povoada por personagens esquisitos.
Os de "O Pequeno Tony", que entra em circuito em São Paulo, são Kate, uma mulher dominadora e gorda que sustenta a casa, Brand, seu marido analfabeto e submisso, e Lena, a jovem e atraente professora contratada por Kate para ensiná-lo a ler.
Mas no que reside a esquisitice de tais personagens? Na verdade, eles não possuem nenhum traço de personalidade ou comportamento nunca vistos -apenas apresentam-no de maneira acentuada.
O drama desse trio não traz grandes novidades: a jovem professora seduz seu aluno, provocando ciúme na mulher deste, que, em vez de dispensar os serviços de Lena, decide utilizar o inevitável romance que terá início em benefício próprio. Ou seja, Lena pode dar a ela o filho que não teve (o pequeno Tony).
Esse plano é aos poucos exposto a Brand, que resiste à tentação e não compreende a insistência de sua mulher para que vire amante de Lena. Até que aceita o plano, os três passam a viver juntos e a situação foge do controle de Kate.
Quem passa a dominar então é Lena, e o filme vai se configurando como um estudo sobre o poder feminino -ou sobre a fragilidade masculina.
Brand não tem vontade própria: faz o que a mulher ou a amante mandam. Ele é uma espécie de filho de Kate, que lhe dá ordens e sustenta a casa. Com relação a Lena, é um aluno humilhado. Sua fixação por seios, finalmente, simboliza a força que o caráter maternal das mulheres exerce sobre ele.
A substituição de Kate, que lembra mais uma mãe, por Lena, mais sensual, poderia marcar um amadurecimento de Brand. Mas esse amadurecimento não passa do estágio daquele vivenciado por meninos que transferem a fixação que têm pela mãe para a professora de primário.
Brand nunca deixa de ser apenas a peça de um jogo em que o que está em disputa não é tanto o homem, mas o poder que se tem sobre ele.
Conflitos já desgastados, exaustivamente discutidos em qualquer manual de psicologia, só são palatáveis se abordados de forma surpreendente ou se acrescidos de novas constatações.
"O Pequeno Tony" peca pela falta dessas atenuantes, correndo o risco de passar despercebido.


Avaliação:   


Filme: O Pequeno Tony Título original: The Little Tony Produção: Holanda, 1998 Direção: Alex van Wandermam Com: Alex van Wandermam, Annet Malherbe Quando: em cartaz no cine Espaço Unibanco 4


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