São Paulo, Quarta-feira, 25 de Agosto de 1999
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"Novíssimos" dos 90 se reúnem

FERNANDO OLIVA
da Redação


Mais uma das gerações 90 da arte brasileira solta hoje outra de suas crias. Depois da Geração 90 de Adriana Varejão, Jac Leirner e Rosângela Rennó, e da de Rivane Neuenschwander, Marepe e Raquel Garbelotti, a mostra que começa hoje no MAC-Ibirapuera reúne artistas recentemente incorporados pelo projeto Tendências Contemporâneas, que a curadora Katia Canton realiza desde 96 com o apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
A exposição relaciona três célebres nomes da arte contemporânea brasileira (Lygia Clark, Tunga e Carlos Fajardo, que também têm obras na mostra) a cada um dos jovens artistas.
Apesar do título rebuscado ("Heranças Contemporâneas 3 -Desfetichização, Fantasmática e Pensamento"), a coletiva merece ser vista, principalmente pelas obras dos artistas "emergentes", como Tonico Lemos e Sonia Guggisberg, e dos "novíssimos" -Marcus Vinícius, Renata Pedrosa, Lourdes Colombo e Christina Moraes estão entre as mais instigantes promessas.
Se a visita acontecer hoje, tanto melhor, já que Moraes, Colombo e Alexandre da Cunha apresentam performances durante o vernissage, a partir das 20h.
Associada a Lygia Clark, por fazer com que o corpo tenha participação decisiva na obra, a artista Lourdes Colombo critica os lugares-comuns da representação feminina. Os mitos da sensualidade, sexualidade e sedução são colocados em xeque pelas fotos, vídeos e uma performance em que ela começa passando batom nos lábios, para depois ir cobrindo todo o rosto. O resultado é monstruoso e transforma a artista numa figura que ao mesmo tempo atrai, repele e intriga.
Renata Pedrosa, "tributária" da obra de Tunga, desenha -com grafite, mertiolate e fita Micropore (espécie de curativo cor de pele)- pequenas formas à semelhança de flores, folhas e frutos. O melhor vem depois, quando os desenhos são transformados em objetos tridimensionais ("Como se eu quisesse ver como ficariam no espaço", diz Pedrosa), esculturas de fibra de poliéster, recobertas de veludo sintético.
Sonia Guggisberg, associada pela curadora a Carlos Fajardo, colocou sobre as paredes do MAC largas camadas de feltro que, dobradas ou enrugadas, escorrem da parede para o chão e criam intrigantes relações entre a superfície e seu próprio peso.
Às vezes se tem a impressão que alguns jovens artistas estariam melhor com outro "padrinho". O trabalho de Guggisberg, por exemplo, parece mais à vontade se confrontado com o de Lygia Clark do que com o de Fajardo (como quer a curadoria), seja porque lida com a superfície de um corpo orgânico, que parece vivo, seja porque carrega algo da fase neoconcreta de Lygia.
Mas questionar -e até contrariar - as escolhas da curadoria também faz parte desse tipo de exposição. O espectador tem direito de escolher (ou inventar) seu percurso. Como explica Canton, os artistas não foram divididos por grupos justamente para permitir que você respire ares próprios e faça suas escolhas.
Também hoje no MAC começa "Testemunhos", mostra com obras de Marina Godoy e Eide Feldon, sob curadoria de Silvia Meira.


Mostra: Heranças Contemporâneas 3 Artistas: Solange Pessoa, Christiana Moraes, Lourdes Colombo e Tonico Lemos (relacionados a obras de Lygia Clark); Alexandre da Cunha, Renata Pedrosa e Carlos Arouca (Tunga); Marcus Vinícius, Theresa Amaral e Sonia Guggisberg (Carlos Fajardo) Onde: MAC (pq. Ibirapuera, pavilhão Ciccillo Matarazzo, 3º piso, tel. 573-5255)
Vernissage: hoje, a partir das 19h Quando: de ter. a dom., das 12h às 18h Quanto: entrada franca


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