São Paulo, Quarta-feira, 25 de Agosto de 1999
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Escultura de Iole de Freitas desorganiza a percepção

free-lance para a Folha


Uma escultura esvaziada na forma e plena no conteúdo é o que os paulistanos podem apreciar a partir de hoje no Gabinete de Arte Raquel Arnaud. Nessa exposição, a artista Iole de Freitas propõe uma nova corporeidade para a escultura, em que se utilize a "menor densidade possível de matéria para territorializar um corpo".
Iole apresentou pela primeira vez, no Museu de Arte da Pampulha, no começo do ano, esse seu sistema, denominado "Território Vazado". "Eram esculturas que iam cindindo o espaço, chamando a atenção para o espaço arquitetônico do museu", conta.
A leveza do trabalho, feito de tela de ferro, contrasta com o peso da ardósia, a que a tela é presa, funcionando como uma âncora.
No museu da Pampulha, as peças eram todas organizadas a partir de dois módulos: um que se estendia amplamente pelo espaço e outro que o cindia. Na exposição em São Paulo, Iole eliminou o primeiro, pela limitação espacial.
"Aqui ocorreu um empilhamento que dificulta o equilíbrio. O eixo começou a ser deslocado, em vez de ter o prumo perpendicular ao chão", explica. Ao sobrepor as esculturas de tela, a artista provocou um adensamento do espaço da escultura, que ficou achatada.
Iole conta que notou, na exposição em Belo Horizonte, que as esculturas desorganizavam a percepção das pessoas. "O espectador está simultaneamente no espaço interior de um peça e no espaço exterior de outra; portanto, não há conforto, pois ele nunca sabe se está sendo acolhido ou expelido", afirma.
Vistas em perspectiva, as novas esculturas de Iole demonstram como a artista explora sua linguagem estética. Na década de 70, ela registrava performances em sequências fotográficas e filmes experimentais, para os quais seu corpo era o suporte.
Passou a abordar o ponto de vista do corpo escultórico, fazendo peças monumentais de cobre, aço e outros metais. E agora apresenta as obras em que o corpo do espectador em seu deslocamento é que faz o trabalho se cumprir.
Na abertura hoje, Iole fará uma visita guiada às obras. (JM)


Exposição: Iole de Freitas Onde: Gabinete de Arte Raquel Arnaud (r. Arthur de Azevedo, 401, tel. 883-6322) Quando: hoje, às 20h. Seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às 14h. Até 2/10 Quanto: de US$ 3.500 a US$ 20.000


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