São Paulo, quinta-feira, 26 de agosto de 2010

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CRÍTICA DRAMA

Sam Shepard ganha uma interpretação vigorosa

Malvino Salvador e Fernanda Machado formam bela dupla nos papeis centrais

CHRISTIANE RIERA
CRÍTICA DA FOLHA

Pela primeira vez encenada no Brasil, "Mente Mentira", de Sam Shepard, traz os elementos mais conhecidos de sua dramaturgia: histórias de amor mal resolvidas, famílias disfuncionais e ainda figuras paternas (ou a ausência de) como agentes provocadores do drama.
A cena de abertura acontece logo após o espancamento de Beth por Jake, pondo fim ao romance entre eles. "Ele matou nós dois", ela diz, enquanto se recupera no hospital, adiantando a confusão entre o casal que será refletida em suas famílias.
A partir daí, o clima ameaçador cresce em escalada. Jake e Beth voltam às suas casas da infância, criando um paralelismo nas histórias de cada família que se interpenetram sob as mãos do talentoso diretor Paulo de Moraes.
Jake desenterra as cinzas do pai, cuja morte ele desconhece, apesar de ter testemunhado. "Como é que eu podia saber de uma coisa que eu não sei?" Em outra cena, a família de Beth tenta induzir a maneira como ela lida com seus problemas mentais.
O que chama mais atenção é a maneira como o jogo de espelhamento entre os dois núcleos familiares se dá de forma fluida, por meio da dissolução das fronteiras entre os dramas em linguagem teatral simples e eficiente.
Aqui, os conflitos, embora separados, parecem interpenetrados. A cenografia bonita e versátil e a iluminação criativa quebram a distinção dos espaços, fundindo cenicamente as realidades.
Além disso, o palco suspenso revela sua maquinaria em recurso que ressalta o tema da "representação", central à trama. Como saber o que é mentira ou verdade em meio a mentes delirantes?
Malvino Salvador e Fernanda Machado formam uma bela dupla como Jake e Beth, cujo pai com seu viés mais excessivo, quase absurdo, é interpretado com perfeição por Zécarlos Machado.
Os textos de Shepard partem de um ambiente familiar, calcado em realidade mais segura para, então, desbancarem-se em desconstrução do realismo. Este movimento de crescente teatralidade vaza da dramaturgia para a interpretação vigorosa do time de atores.

MENTE MENTIRA
QUANDO sex. e sáb., às 21h30, dom., às 20h
ONDE Teatro Raul Cortez (r. Dr. Plínio Barreto, 285, tel. 2626-0261)
QUANTO R$ 60 a R$ 70
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
AVALIAÇÃO ótimo


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