UOL


São Paulo, quinta-feira, 29 de maio de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA

Compositor reúne "subversivos" como Otavio Donasci e Walter Franco para oficina-montagem de caráter popular

Tragtenberg desconstrói para criar ópera

DA REPORTAGEM LOCAL

O cantor e compositor Lívio Tragtenberg se afina com os desafios. No início do ano, ele apresentou um projeto-provocação para o Centro Experimental de Música do Sesc Consolação: uma oficina-montagem que resultasse num espetáculo que subvertesse a noção erudita da ópera e explorasse seu potencial popular.
Tragtenberg recebeu sinal verde. Chamou outros "subversivos", como o videocenógrafo Otavio Donasci, conhecido por projetos cênicos como "Viagem ao Centro da Terra", que conduzia o público sob o túnel do rio Pinheiros; e os compositores Walter Franco e Arnaldo Antunes, também dados aos experimentalismos na música popular (os dois criaram letras exclusivas para o evento).
O resultado desse encontro é o projeto "24 Óperas por Dia: Óperas-Minuto, Óperas-Clip", apresentado a partir de hoje no teatro Sesc Anchieta.
Desde março, Tragtenberg comanda o curso no CEM com instrumentistas, cantores e coralistas de diferentes estilos, formações e idades. Interessava-lhe essa desconstrução, a ausência de uniformidade.
O conceito de coexistência foi determinante. Dos alunos selecionados aos artistas convidados, todos tiveram voz e vez na criação, inclusive letras e arranjos. Tragtenberg evitou o dirigismo para aflorar um tratamento mais popular.
A idéia é retratar as horas na vida de um morador de uma cidade alhures, que pode ser São Paulo. Em suma, são cenas curtas sobre situações divertidas e poéticas do cotidiano, num dia imaginário de uma grande metrópole.
Não estão lá as 24 horas redondas, mas pelo menos a metade delas, permitindo a longa jornada que vai da aurora ao anoitecer; do garoto que desperta olhando pelo buraco da fechadura ao homem adulto que repete o mesmo gesto à noite, transformando a leitura de cada um desses instantes.
Há a hora do ronco, a hora atrás do emprego, a hora atrás do almoço, a hora do trânsito, do crepúsculo, da lua, dos gatos, dos pesadelos e do cuco, entre outras.
Otavio Donasci criou e dirigiu a videocenografia-performática em que as imagens ganham vida deslocando-se através dos corpos dos participantes e as paredes do teatro Anchieta.
Costurando as cenas, há o mestre de cerimônias, também ele uma videocriatura, que na verdade é representada por dois atores (um expressa os movimentos, outro voz e imagem simultâneas), respectivamente Achileu Nogueira Neto e Sergio Portella.
O resultado é o tom fradesco, entremeado aqui e ali por versos do poeta Murilo Mendes. A farsa, acredita Tragtenberg, estabelece melhor comunicação com o público, sem destoar da crítica. Os músicos, inclusive, são "explorados" até no quesito interpretação teatral com esquetes cômicas.
O projeto é também uma afirmação da tradição musical do país que está sendo esquecida, segundo o compositor, por conta dos musicais "com a cara da Broadway, inclusive os espetáculos ditos nacionais".
(VALMIR SANTOS)


24 ÓPERAS POR DIA: ÓPERAS-MINUTO, ÓPERAS-CLIP. Direção: Lívio Tragtenberg. Videocenografia: Otavio Donasci. Assistente musical: Lucila Tragtenberg. Com alunos do CEM-Sesc Consolação. Onde: Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 3256-2281). Quando: hoje, amanhã e sáb., às 21h; dom., às 19h. Quanto: entrada franca (retirar ingressos com antecedência).


Texto Anterior: Alemão John Boch prega a interatividade
Próximo Texto: "Isaurinha Garcia, Personalíssima": Peça prefigura o musical brasileiro
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.