|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÚSICA
Compositor reúne "subversivos" como Otavio Donasci e Walter Franco para oficina-montagem de caráter popular
Tragtenberg desconstrói para criar ópera
DA REPORTAGEM LOCAL
O cantor e compositor Lívio
Tragtenberg se afina com os desafios. No início do ano, ele apresentou um projeto-provocação para
o Centro Experimental de Música
do Sesc Consolação: uma oficina-montagem que resultasse num
espetáculo que subvertesse a noção erudita da ópera e explorasse
seu potencial popular.
Tragtenberg recebeu sinal verde. Chamou outros "subversivos", como o videocenógrafo Otavio Donasci, conhecido por
projetos cênicos como "Viagem
ao Centro da Terra", que conduzia o público sob o túnel do rio Pinheiros; e os compositores Walter
Franco e Arnaldo Antunes, também dados aos experimentalismos na música popular (os dois criaram letras exclusivas para o
evento).
O resultado desse encontro é o
projeto "24 Óperas por Dia: Óperas-Minuto, Óperas-Clip", apresentado a partir de hoje no teatro Sesc Anchieta.
Desde março, Tragtenberg comanda o curso no CEM com instrumentistas, cantores e coralistas de diferentes estilos, formações e
idades. Interessava-lhe essa desconstrução, a ausência de uniformidade.
O conceito de coexistência foi
determinante. Dos alunos selecionados aos artistas convidados, todos tiveram voz e vez na criação, inclusive letras e arranjos. Tragtenberg evitou o dirigismo para aflorar um tratamento mais popular.
A idéia é retratar as horas na vida de um morador de uma cidade
alhures, que pode ser São Paulo.
Em suma, são cenas curtas sobre
situações divertidas e poéticas do
cotidiano, num dia imaginário de
uma grande metrópole.
Não estão lá as 24 horas redondas, mas pelo menos a metade delas, permitindo a longa jornada que vai da aurora ao anoitecer; do
garoto que desperta olhando pelo
buraco da fechadura ao homem
adulto que repete o mesmo gesto
à noite, transformando a leitura
de cada um desses instantes.
Há a hora do ronco, a hora atrás
do emprego, a hora atrás do almoço, a hora do trânsito, do crepúsculo, da lua, dos gatos, dos pesadelos e do cuco, entre outras.
Otavio Donasci criou e dirigiu a
videocenografia-performática em
que as imagens ganham vida deslocando-se através dos corpos dos
participantes e as paredes do teatro Anchieta.
Costurando as cenas, há o
mestre de cerimônias, também
ele uma videocriatura, que na
verdade é representada por
dois atores (um expressa os
movimentos, outro voz e imagem simultâneas), respectivamente Achileu Nogueira Neto e Sergio Portella.
O resultado é o tom fradesco,
entremeado aqui e ali por versos do poeta Murilo Mendes. A
farsa, acredita Tragtenberg, estabelece melhor comunicação
com o público, sem destoar da
crítica. Os músicos, inclusive,
são "explorados" até no quesito interpretação teatral com esquetes cômicas.
O projeto é também uma
afirmação da tradição musical
do país que está sendo esquecida, segundo o compositor, por
conta dos musicais "com a cara da Broadway, inclusive os
espetáculos ditos nacionais".
(VALMIR SANTOS)
24 ÓPERAS POR DIA: ÓPERAS-MINUTO, ÓPERAS-CLIP. Direção:
Lívio Tragtenberg. Videocenografia:
Otavio Donasci. Assistente musical:
Lucila Tragtenberg. Com alunos do
CEM-Sesc Consolação. Onde: Sesc
Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, tel.
3256-2281). Quando: hoje, amanhã e
sáb., às 21h; dom., às 19h. Quanto:
entrada franca (retirar ingressos com
antecedência).
Texto Anterior: Alemão John Boch prega a interatividade Próximo Texto: "Isaurinha Garcia, Personalíssima": Peça prefigura o musical brasileiro Índice
|