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"ISAURINHA GARCIA, PERSONALÍSSIMA"
Peça prefigura o musical brasileiro
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
"Isaurinha Garcia, Personalíssima" cumpre uma tarefa difícil: ser um dos precursores do musical brasileiro, gênero
que vem se estabelecendo nos últimos anos, fruto híbrido do musical da Broadway e do teatro de
revista.
Sem os recursos técnicos e materiais do "show business" americano, que tem recebido investimentos maciços por ocasião de
sua instauração no Brasil -enquanto o equivalente nacional é
divulgado como "grandioso" só
por poder contar com música ao
vivo-, o musical brasileiro evitaria por outro lado o ufanismo automistificador graças a uma tendência à ironia, a uma elegia à
"bagunça" na qual o crítico modernista Alcântara Machado via a
base de um teatro nacional.
Esta montagem, assim, se equilibra entre o precário e o luxuoso,
entre a exaltação do mito da "primeira rainha do rádio Paulista"
- com tudo que o titulo já soa
defasado- e a maneira sem-cerimônia com que a própria Isaurinha fazia questão de se apresentar. A "personalíssima" é mostrada falando palavrões com sotaque
do Brás, bebendo conhaque, desde o primeiro teste no rádio até a
última carta de fã e, sobretudo,
misturando desalentos afetivos
com suas interpretações.
O texto de Júlio Fischer deixa
transparecer uma pesquisa sólida
e uma agilidade cinematográfica
que, reunindo melodrama e comédia, só deixa escoar a tensão
dramática por ocasião dos números musicais. Estes, embora satisfazendo a expectativa de uma reprodução dos antigos shows de
Isaurinha, acabam roubando o
foco da narrativa para o "cover"
bem feito pela fã confessa Rosamaria Murtinho, que já havia encarnado com êxito Chiquinha
Gonzaga. Com precisão e simpatia, Murtinho aproveita bem os
muitos recursos de seu papel.
Infelizmente, cedendo à precariedade dramatúrgica do teatro
de revista, outras personagens são
pouco mais que caricaturas vivas,
seja por evocações aproximadas
de figuras públicas como Cauby
Peixoto, seja por clichês de gosto
duvidoso como "o amigo homossexual" ou "a assistente comunista".
A diretora Jacqueline Laurence
consegue uma boa dinâmica de
cenas com elementos cenográficos polivalentes -que reproduzem o glamour da época, o que
não é garantia de bom gosto-
mas ao "grande elenco" só resta
confiar no carisma pessoal e na
voz. Nesta estreita margem de
manobra, Alexandre Moreno, como Vassourinha, se destaca.
A montagem cai na exaltação
aberta em dois momentos: na
"apoteose" do primeiro ato, que
evoca com eficácia o mito Isaurinha, e na participação especial do
produtor-idealizador Rick Garcia, fazendo seu próprio papel de
neto, em participação compreensível, mas que poderia ser evitada.
Em todo caso, assinalando em
sua atual temporada no Cultura
Artística um maior investimento
no musical brasileiro, "Isaurinha
Garcia...", sem blefes e evitando
quando possível o mau gosto, é
um começo prudente para um gênero a ser acompanhado.
Isaurinha Garcia, Personalíssima
Texto: Julio Fischer
Direção: Jacqueline Laurence
Com: Rosamaria Murtinho, Taís Araújo
Onde: Teatro Cultura Artística (r. Nestor
Pestana, 196, tel. 3258-3616)
Quando: de qui. a sáb., às 21h; dom., às
18h; até 29/6
Quanto: de R$ 25 a R$ 60
Patrocinadores: Sofisa, CCE,
Volkswagen, Rio Sul
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