São Paulo, Terça-feira, 03 de Agosto de 1999
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SAFRA 98/99
Produção deverá crescer 28%, mas não impede importação
Preço do algodão cai 22% em dólar para o produtor

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Colheita de algodão em Mato Grosso, que deve ter uma safra de 224 mil t de pluma nesta temporada


da Reportagem Local

Nos últimos quatro meses, principal período de comercialização do algodão nacional, o preço pago ao produtor caiu 22%, em dólar, comparado aos praticados no mesmo período de 1998.
Ao mesmo tempo em que assiste à desvalorização do seu produto, o cotonicultor brasileiro pagou pelos fertilizantes, em média, 40% a mais nesta safra, devido à desvalorização do real, que provocou alta de preços dos produtos importados, como é o caso da grande maioria dos insumos agrícolas.
Muitos produtores brasileiros acumulam dívidas em dólar, parte delas com vencimento no mês que vem. Algumas empresas de insumos, porém, estão aceitando o algodão como moeda de pagamento e repassando o produto para a indústria têxtil.
Os preços do algodão em vigor atualmente são os mais baixos dos últimos três anos.
O produtor Fernando Maggi, de Mato Grosso, está desanimado com a cultura. Nesta safra, ele dobrou a área destinada ao algodão. "Mesmo assim não tive lucro."
Maggi irá colher 6.438 t de algodão em pluma em uma fazenda de 5.800 ha de algodão, em Sapezal (MT). Em outra, na região de Rondonópolis (MT), em 4.000 ha, o cotonicultor deverá colher 5.175 t. As duas fazendas empregam 380 pessoas.
Segundo Maggi, o custo de produção do algodão é de US$ 1.200/ ha. Cada ha tem a produtividade média de 72 arrobas (15 kg).
"A grande vantagem aqui do Centro-Oeste é a alta produtividade", diz Maggi. O problema, diz ele, é que o custo de produção era de US$ 850/ha antes da mudança cambial. Diz estar conseguindo cerca de US$ 16/arroba. "Desse jeito, devo continuar com a mesma área na próxima safra. Se continuar", ressalta.
Para a próxima temporada, o governo já anunciou no seu plano de safra que irá aumentar o preço mínimo do algodão, passando de R$ 7 (algodão em caroço) para R$ 8 e de R$ 24,50 (pluma) para R$ 28,60.

Importação
O aumento da produção de algodão no Brasil nesta safra não irá excluir o país da dependência externa. O algodão está ocupando cerca de 696,7 mil ha, o que representa uma redução de 20,8%.
Graças à alta produtividade (2.156 kg/ha, recorde), os cotonicultores brasileiros deverão colher 525,8 mil t de algodão em pluma, acréscimo de 27,9%. O número, contudo, é considerado superestimado pelo mercado.
Pelo menos 270 mil t de algodão deverão ser importadas pelas indústrias, o que deverá custar cerca de US$ 370 milhões.
A demanda mundial de algodão encontra-se estável. Enquanto o consumo cresceu 4,8% de 91 até o ano passado, a produção em todo o mundo sofreu recuo de 4,7%.
A fibra sintética aumentou sua participação em 6,4%, de 93 a 96.
"Há uma tendência no mercado mundial de substituição da fibra natural (algodão) pela sintética", diz Valter Vertini Galan, especialista em algodão, pesquisador do Cepea/Esalq/USP, de Piracicaba (SP). Ele acredita numa retomada de preços do algodão a partir deste segundo semestre no país.


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