São Paulo, terça-feira, 16 de maio de 2000


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CARNAÚBA
Pesquisas testam novas aplicações, como o uso do pó da palmeira para a fabricação de "plásticos ecológicos"
Preço faz produtor trocar a cera por caju

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A cera da carnaúba ainda ocupa um papel de destaque na pauta de exportações dos principais Estados produtores. No Ceará, maior exportador do produto no país, a cera já liderou as vendas externas, mas hoje permanece em quinto lugar (US$ 28 milhões e 8,6 mil t em 99), atrás da castanha-de-caju, calçados, tecido e lagosta.
No Piauí, que ocupa o segundo lugar nas vendas, a cera é o seu principal produto exportado (US$ 15 milhões e 5,6 milhões t em 99).
"Em algumas cidades do Piauí, os gaúchos estão desenvolvendo plantações de soja em antigos carnaubais", afirma David Jacob, gerente comercial da PVP, empresa exportadora da cera.
A queda dos preços da cera no mercado internacional desmotiva a atividade extrativista. No maior município cearense produtor de carnaúba, Granja (360 km ao norte de Fortaleza), os produtores já estudam com o Banco do Nordeste alternativas de sobrevivência.
Eles se queixam dos baixos preços pagos pelos exportadores. Já existem pessoas que deixaram os carnaubais de lado para investir no caju e na mandioca, produtos valorizados na região.
Os armazéns pagam hoje R$ 50 por uma arroba (15kg) da cera de melhor qualidade (tipo 1).
O diretor comercial da PVP diz que, com a desvalorização do real em 99, os distribuidores norte-americanos reduziram os pedidos do produto para forçar uma queda de preços da cera no Brasil.
"O produtor percebe o jogo e também segura a cera para vender na entressafra quando os preços são maiores", diz Jacob.
Segundo o presidente do Sindicarnaúba, Francisco Osler Machado, a indústria da cera enfrenta hoje uma crise e não recebe incentivos governamentais.
"Quando existia a CFP (Companhia de Financiamento da Produção), havia financiamento ao produtor para garantir o preço mínimo. Hoje ele é zero." A CFP é a atual Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
O agrônomo Eugênio Araújo, da Embrapa, afirma que hoje no Nordeste não existe o interesse de cultivar carnaúba. Ele alerta para o manejo incorreto na colheita. "Os produtores não dão repouso para a planta. Isso compromete sua capacidade de florar novamente", alerta Araújo.

Pesquisa
Como matéria-prima, a carnaúba acompanhou a evolução dos produtos desenvolvidos pela indústria no século 20. A cera ainda hoje é usada na fabricação de objetos tradicionais como velas e fósforos. Recentemente passou a ser utilizada na composição de remédios para doenças cardíacas.
Os pesquisadores ainda procuram novas aplicações da cera vegetal. "Por ser um produto natural, ela tem um espaço garantido. Não vai ser de uma hora para outra que a carnaúba perderá seu valor", afirma o químico Nestor Fritscher, que processa a cera no Rio Grande do Sul para uso na indústria de calçados.
A PVP, empresa exportadora no Piauí, diz que é a fornecedora exclusiva de cera de carnaúba para uma indústria farmacêutica norte-americana que utiliza o produto como um liberador gradual de um remédio adotado no tratamento de doenças cardíacas.
O presidente do Centro de Exportadores do Piauí, Antônio Machado Lima, diz que a cera está sendo testada como um substituto biodegradável (que não polui o meio ambiente) do plástico.
"O pó da carnaúba e a fécula (goma) extraída da mandioca produzem copos e pratos de plástico ecológico", diz Lima.


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