|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARNAÚBA
Pesquisas testam novas aplicações, como o uso do pó da palmeira para a fabricação de "plásticos ecológicos"
Preço faz produtor trocar a cera por caju
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A cera da carnaúba ainda ocupa
um papel de destaque na pauta de
exportações dos principais Estados produtores. No Ceará, maior
exportador do produto no país, a
cera já liderou as vendas externas,
mas hoje permanece em quinto
lugar (US$ 28 milhões e 8,6 mil t
em 99), atrás da castanha-de-caju,
calçados, tecido e lagosta.
No Piauí, que ocupa o segundo
lugar nas vendas, a cera é o seu
principal produto exportado
(US$ 15 milhões e 5,6 milhões t
em 99).
"Em algumas cidades do Piauí,
os gaúchos estão desenvolvendo
plantações de soja em antigos carnaubais", afirma David Jacob, gerente comercial da PVP, empresa
exportadora da cera.
A queda dos preços da cera no
mercado internacional desmotiva
a atividade extrativista. No maior
município cearense produtor de
carnaúba, Granja (360 km ao norte de Fortaleza), os produtores já
estudam com o Banco do Nordeste alternativas de sobrevivência.
Eles se queixam dos baixos preços pagos pelos exportadores. Já
existem pessoas que deixaram os
carnaubais de lado para investir
no caju e na mandioca, produtos
valorizados na região.
Os armazéns pagam hoje R$ 50
por uma arroba (15kg) da cera de
melhor qualidade (tipo 1).
O diretor comercial da PVP diz
que, com a desvalorização do real
em 99, os distribuidores norte-americanos reduziram os pedidos
do produto para forçar uma queda de preços da cera no Brasil.
"O produtor percebe o jogo e
também segura a cera para vender na entressafra quando os preços são maiores", diz Jacob.
Segundo o presidente do Sindicarnaúba, Francisco Osler Machado, a indústria da cera enfrenta hoje uma crise e não recebe incentivos governamentais.
"Quando existia a CFP (Companhia de Financiamento da Produção), havia financiamento ao produtor para garantir o preço mínimo. Hoje ele é zero." A CFP é a
atual Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
O agrônomo Eugênio Araújo,
da Embrapa, afirma que hoje no
Nordeste não existe o interesse de
cultivar carnaúba. Ele alerta para
o manejo incorreto na colheita.
"Os produtores não dão repouso
para a planta. Isso compromete
sua capacidade de florar novamente", alerta Araújo.
Pesquisa
Como matéria-prima, a carnaúba acompanhou a evolução dos
produtos desenvolvidos pela indústria no século 20. A cera ainda
hoje é usada na fabricação de objetos tradicionais como velas e
fósforos. Recentemente passou a
ser utilizada na composição de remédios para doenças cardíacas.
Os pesquisadores ainda procuram novas aplicações da cera vegetal. "Por ser um produto natural, ela tem um espaço garantido.
Não vai ser de uma hora para outra que a carnaúba perderá seu
valor", afirma o químico Nestor
Fritscher, que processa a cera no
Rio Grande do Sul para uso na indústria de calçados.
A PVP, empresa exportadora
no Piauí, diz que é a fornecedora
exclusiva de cera de carnaúba para uma indústria farmacêutica
norte-americana que utiliza o
produto como um liberador gradual de um remédio adotado no
tratamento de doenças cardíacas.
O presidente do Centro de Exportadores do Piauí, Antônio Machado Lima, diz que a cera está
sendo testada como um substituto biodegradável (que não polui o
meio ambiente) do plástico.
"O pó da carnaúba e a fécula
(goma) extraída da mandioca
produzem copos e pratos de plástico ecológico", diz Lima.
Texto Anterior: Nordeste: Carnaúba resiste ao domínio do sintético Próximo Texto: Palmeira é fonte de renda para 200 mil nordestinos Índice
|