São Paulo, quarta-feira, 01 de janeiro de 2003

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ELIO GASPARI

O primeiro balanço do fim do governo de Lula

Quando os presidentes tomam posse, é comum que se procure prever o que vão fazer. A verdade -é uma pena dizer isso num dia de esperança como hoje- é que nem eles sabem. Todos têm vontades, desejos e planos. São sempre os melhores, assim como são sempre as melhores as explicações que apresentam quando vão-se embora.
Diante disso, neste dia de desejos, aqui vai um projeto de artigo (inteiramente plagiado) para ser publicado no último dia de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva:
"Lula retornou ontem a São Bernardo do Campo tendo tornado a sociedade brasileira mais segura. Tanto para aqueles que viviam em condições de vulnerabilidade social, quanto para banqueiros, empresários e fazendeiros que sentiam-se ameaçados tanto pelas crises econômicas como pelos solavancos da política. Dias depois de sua chegada ao palácio, ele prometeu "um país onde ninguém ficará de fora". Essa foi sua obra. Deixou o palácio sabendo que incorporou ao Brasil milhares de comunidades que ciscavam a periferia do capitalismo nacional.
Paradoxalmente, Lula deixou o governo sem ter alterado substancialmente a curva da distribuição de renda. Seus cupons de combate à fome conseguiram estimular a produção agrícola, mas foi a criação de empregos que levou comida para a mesa dos pobres. Algumas iniciativas socialmente bem-sucedidas vieram dos projetos deixados por seu antecessor. As mudanças que seu governo conseguiu nas relações trabalhistas produziram um novo mercado de mão-de-obra, mais estável. Seus fóruns conseguiram acomodar interesses conflitantes. Interferiu na economia, muitas vezes controlando a concorrência. Chegou a impedir que grandes cadeias de lojas fizessem promoções que poderiam provocar a falência das pequenas casas de comércio dos bairros ou das pequenas cidades.
Foi acusado de querer usar ferramentas microeconômicas para consertar problemas macroeconômicos. Na verdade, ele buscou a retomada do desenvolvimento a qualquer preço, para derrubar o desemprego. Essa sempre foi sua prioridade, e Lula nunca deixou de repeti-la. Prometeu aumentar em 20% a renda dos brasileiros. Quando lhe perguntaram quando essa meta seria atingida, disse que só Deus sabia. Conseguiu alcançá-la.
Uma parte do seu êxito derivou da tenacidade com que lutou pela proteção da produção nacional. Tanto para vendê-la no exterior quanto para impedir que fosse devastada pelas importações. Todos se lembram do discurso em que anunciou sua política: "Nossas relações de de comércio internacional são uma prioridade. Acima delas, só está o nosso objetivo de criarmos uma economia nacional sólida".
Inúmeros projetos de Lula resultaram em fracassos, mas, como diz o filósofo William James, o mundo não está pronto, nem vai ficar pronto. Seu desempenho deve ser julgado pelo que conseguiu trazer de novo para a sociedade brasileira, não por aquilo que fez de errado. O experimentalismo social do mandarinato de Lula teve uma característica básica: quis construir um país onde ninguém fosse excluído de seus benefícios e privilégios. Fez assentamentos para lavradores sem terra e manteve acampamentos para famílias de agricultores quebrados, como os personagens do romance nordestino ou de "As Vinhas da Ira", de John Steinbeck.
Acima de tudo, Lula deu a milhões de brasileiros um sentimento de segurança social que eles nunca haviam usufruído. Com isso, fez com que esses milhões de cidadãos passassem a viver de outra maneira o fato de serem brasileiros.
Vistos isoladamente, quase todos os seus programas deram errado. O que deu certo foi o conjunto".
Esse artigo foi inteiramente plagiado. Descontando as referências nominais a Lula, todas as informações nele contidas (todas) foram retiradas das 17 páginas do capítulo "O que o New Deal fez", do historiador David M. Kennedy, em seu livro "Freedom from Fear" ("Sem medo do medo", inédito em português.)
As comparações entre personagens da história são sempre perigosas, mas, se Franklin Roosevelt não tivesse feito o que fez nos anos 30 do século passado, os Estados Unidos não seriam hoje o que são.


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