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GASTOS PÚBLICOS
Sem ajuda da União, centenas de cidades
seriam inviáveis do ponto de vista contábil, segundo estudo do Iedi
"Custo político" come receita de municípios
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Os 5.565 municípios brasileiros
gastam por ano cerca de R$ 10 bilhões para manter atividades consideradas "políticas". Mais da metade das cidades (57%) usa parcelas superiores a 21% da receita para sustentar esse "custo político".
Estudo inédito elaborado pelo
Iedi (Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial) revela que centenas de municípios
seriam absolutamente inviáveis
do ponto de vista contábil se tivessem que arcar com esse "custo
político" com receitas próprias.
Em muitos casos, salários de
prefeitos e vereadores só são suportáveis porque as cidades recebem repasses da União.
O trabalho mostra que há 1.609
prefeituras que têm um "custo
político" superior a 25% das suas
receitas líquidas. Se essas cidades
pudessem se ajustar, economizariam R$ 650 milhões ao ano.
O valor equivale a quatro vezes
o que os municípios gastam com
habitação, ao mesmo que consomem em transportes ou a 80% do
que aplicam em saneamento.
Critérios
O Iedi fez o levantamento com
base em dados oficiais enviados
por mais de 5.000 municípios do
país à STN (Secretaria do Tesouro
Nacional). Na média nacional, essas prefeituras gastam 21,3% de
sua receita com o "custo político".
No trabalho, o Iedi considerou
como sendo "custo político" os
seguintes itens: 1) o total de gastos
com o Legislativo; 2) despesas relacionadas ao Judiciário, relações
exteriores e "essenciais à Justiça";
3) 30% dos gastos administrativos, incluindo salários de prefeitos, secretários e funções comissionadas e; 4) 10% da despesa
contabilizada na função "encargos especiais". O total desses gastos foi contraposto à receita total
das cidades. Ela inclui todos os
impostos cobrados (como IPTU,
ISS etc.) e as transferências diretas
da União. Não foram consideradas receitas e transferências "carimbadas", como os repasses diretos para saúde e educação.
O economista Julio Gomes de
Almeida, diretor-executivo do Iedi, diz que o objetivo do levantamento é mostrar que, em muitos
casos, não é justificável a existência de milhares de municípios no
país. O funcionamento de centenas deles seria absolutamente inviável se fossem obrigados a se
manter "com as próprias pernas".
Em 1980, o Brasil tinha 3.991
municípios. Após a Constituição
de 1988, que autorizou uma série
de repasses obrigatórios às municipalidades, houve um salto para
4.491 -atingindo os 5.565 atuais.
Ao mesmo tempo, a participação dos municípios no total da receita tributária do país (ou seja, o
peso deles sobre os contribuintes)
passou de 11% em 1988 para
16,5% hoje. No início dos anos 60,
o percentual mal chegava aos 6%.
O economista José Roberto
Afonso, especialista em finanças
públicas, diz que, do ponto de vista macroeconômico, o peso dos
municípios não é grande. "Mas é
muito relevante discutir seus custos quando há enorme demanda
por mais gastos na área social."
Afonso lembra que o projeto
original da Lei de Responsabilidade Fiscal previa limitar os custos
das Câmaras municipais à arrecadação própria de cada cidade -o
que não foi aprovado. "Na prática, a Câmara existe para aprovar
orçamentos e autorizar gastos.
Não faz sentido ela custar mais do
que o que tem para gastar."
Para o economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada) Renato Vilela, não seria
adequado "tirar médias" na comparação de gastos entre os municípios, já que a legislação prevê
que cidades tão diferentes quanto
São Paulo ou Arapiraca (AL) tenham Câmara de Vereadores.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística),
entre 2002 e 2004, o número de
servidores municipais aumentou
11,1%. As prefeituras empregam
4,6 milhões de servidores no país.
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