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JANIO DE FREITAS
Um bom ano
Mais do que nunca, as
aparências estão criando
enganos. A corrupção descoberta na aliança PT/Valério tem
causado, ou aumentado muito,
um desânimo devastador. Se o
Brasil tem jeito ou não tem, ainda está por sabermos, e nada
promete a resposta para breve,
mas a atual crise não contribui
para uma solução negativa desse suspense secular. Bem ao contrário.
Hoje entramos em ano eleitoral, com escolhas para a deteriorada Câmara, para o Senado
sem adjetivos indispensáveis,
para os governos estaduais menos ou mais discutíveis, e para a
Presidência há tanto tempo à
espera de um presidente, não só
o ocupante do cargo. Basta pensar nas dimensões que hoje teria
o sistema PT/Valério, para influir nas eleições, e imaginar do
que a crise está livrando o país.
A rigor, nem se pode imaginar
o estágio a que chegariam os
tentáculos e o poder desse sistema de corrupção, se chegasse ao
ano de decisões eleitorais plenamente instalado e experiente no
uso dos cofres de ministérios, de
estatais, de vários fundos de
pensão, com apoio de bancos e
outros interesses privados. Tudo
o que se revelou até agora situa-se apenas em 2003 e 04, anos de
introdução e familiarização dos
novos poderosos com as possibilidades - no caso, sobretudo as
piores - oferecidas por seus domínios. A eficácia plena do esquema destinava-se a 2006.
Meu distante companheiro de
velhas redações, o hoje novelista
de sucesso Aguinaldo Silva comunica aos noveleiros que o seu
desalento com o Brasil da crise o
faz mudar-se para Portugal. Decisão admirável. Não há o que
criticar, e há muito a estimular,
nos que decidam ir-se: o Brasil é
muito cansativo. Mas que não
se saia pela crise, que constitui
um momento de reação e, por
mínima que seja, de melhoria.
Como ano da crise, 2005 foi
muito melhor do que 2003 e 04,
anos felizes da sociedade PT/
Valério. O que lembra uma dívida nacional que Antonio Palocci e seu pessoal, tão dedicados a
alegrar os credores do Brasil,
preferem ignorar.
A antipatia é veneno resistente. E cercou Roberto Jefferson
pelo menos desde suas atitudes
na defesa de Collor. Daí que não
lhe seja reconhecido, na medida
e do modo devidos, o mérito de
explodir um sistema de gangsterismo político que nem se imagina aonde levaria a democracia
iniciante e o próprio país. A
aparência arrogante e audaciosa de Roberto Jefferson talvez
não seja só aparência, pode justificar a antipatia que o cerca,
mas não lhe retira a relevância
inigualada no ano brasileiro de
2005. Prestou ao Brasil um serviço extraordinário.
Tudo isso para dizer que 2005
foi um bom ano, graças à crise e
apesar do governo Lula. E, agradecido a quem veio até esta linha e suportou linhas de outros
dias, desejar-lhe 2006 com Sorte,
a que tudo decide.
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