São Paulo, domingo, 01 de janeiro de 2006

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JANIO DE FREITAS

Um bom ano

Mais do que nunca, as aparências estão criando enganos. A corrupção descoberta na aliança PT/Valério tem causado, ou aumentado muito, um desânimo devastador. Se o Brasil tem jeito ou não tem, ainda está por sabermos, e nada promete a resposta para breve, mas a atual crise não contribui para uma solução negativa desse suspense secular. Bem ao contrário.
Hoje entramos em ano eleitoral, com escolhas para a deteriorada Câmara, para o Senado sem adjetivos indispensáveis, para os governos estaduais menos ou mais discutíveis, e para a Presidência há tanto tempo à espera de um presidente, não só o ocupante do cargo. Basta pensar nas dimensões que hoje teria o sistema PT/Valério, para influir nas eleições, e imaginar do que a crise está livrando o país.
A rigor, nem se pode imaginar o estágio a que chegariam os tentáculos e o poder desse sistema de corrupção, se chegasse ao ano de decisões eleitorais plenamente instalado e experiente no uso dos cofres de ministérios, de estatais, de vários fundos de pensão, com apoio de bancos e outros interesses privados. Tudo o que se revelou até agora situa-se apenas em 2003 e 04, anos de introdução e familiarização dos novos poderosos com as possibilidades - no caso, sobretudo as piores - oferecidas por seus domínios. A eficácia plena do esquema destinava-se a 2006.
Meu distante companheiro de velhas redações, o hoje novelista de sucesso Aguinaldo Silva comunica aos noveleiros que o seu desalento com o Brasil da crise o faz mudar-se para Portugal. Decisão admirável. Não há o que criticar, e há muito a estimular, nos que decidam ir-se: o Brasil é muito cansativo. Mas que não se saia pela crise, que constitui um momento de reação e, por mínima que seja, de melhoria. Como ano da crise, 2005 foi muito melhor do que 2003 e 04, anos felizes da sociedade PT/ Valério. O que lembra uma dívida nacional que Antonio Palocci e seu pessoal, tão dedicados a alegrar os credores do Brasil, preferem ignorar.
A antipatia é veneno resistente. E cercou Roberto Jefferson pelo menos desde suas atitudes na defesa de Collor. Daí que não lhe seja reconhecido, na medida e do modo devidos, o mérito de explodir um sistema de gangsterismo político que nem se imagina aonde levaria a democracia iniciante e o próprio país. A aparência arrogante e audaciosa de Roberto Jefferson talvez não seja só aparência, pode justificar a antipatia que o cerca, mas não lhe retira a relevância inigualada no ano brasileiro de 2005. Prestou ao Brasil um serviço extraordinário.
Tudo isso para dizer que 2005 foi um bom ano, graças à crise e apesar do governo Lula. E, agradecido a quem veio até esta linha e suportou linhas de outros dias, desejar-lhe 2006 com Sorte, a que tudo decide.


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