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JANIO DE FREITAS
Contra os cidadãos
Uma insignificância -é o
que parece ser a exigência,
decidida na Presidência da República, de que pesquisas do IBGE sejam entregues ao Planalto,
por intermédio do Ministério do
Planejamento, pelo menos 48
horas antes de serem distribuídas à imprensa.
Dois componentes negam a
insignificância da decisão. O
menos grave é o montante de ignorância que a constituiu. Pesquisas do IBGE e outros estudos
e documentos não chegam às redações com antecedência, muitas vezes de dias, por privilégio
dos jornalistas, mas por necessidade. Muito desse material é volumoso, com freqüência é complexo, exige tempo para ser desvendado e chegar à forma jornalística que o fará compreensível para a sociedade. Muito desse material inclui a advertência
"liberado para divulgação no
dia tal", ou algo assim, não sendo raro que determine até a hora. Como norma, os meios de comunicação respeitam os limites
fixados pela fonte do material.
A explicação do governo para
sua decisão contém fenômenos
de raciocínio. Por exemplo: "A
imprensa deve ter acesso aos dados no mesmo momento que o
restante da sociedade". Mas o
que dá à sociedade o acesso aos
dados é a imprensa, logo, não
há como chegarem dados à sociedade se a imprensa não os tiver antes. Será tão difícil ter essa
percepção antes de dizer obtusidades?
O outro componente da decisão é o seu sentido implícito. O
exame antecipado de material
que, em princípio, se destinaria
ao conveniente conhecimento
público, não pode ter outro propósito senão o de agir para influenciar nessa possibilidade de
conhecimento público. Seja manipulando-a para desviar as
atenções de certos aspectos e sobrevalorizar outros, seja limitando-a por deformações ou
cortes, seja impedindo-a.
Pouco importa qual dos propósitos tenha predominado na
decisão do governo: todos procedem, e exprimem, da mesma vocação de autoritarismo. A vocação que fez a expulsão de petistas discordantes de um ato governamental contrário ao sempre repudiado por Lula e pelo
PT. A da engolida expulsão do
correspondente de trapalhadas
Larry Rohter. A do Conselho Federal de Jornalismo. A da atual
ameaça ao deputado Virgílio
Guimarães, que ousa responder
a uma trapaça com sua candidatura avulsa à presidência da
Câmara. A de quem se julga
com direito de adotar a política
econômica repudiada pelos que
o elegeram. A lista pode vir do
começo do governo e ir longe.
Não é necessário. Para concluir, basta citar a coerência entre a nova decisão do governo
contra a liberdade de informação e duas precedentes obras,
pela internet, da mesma área de
Comunicação da Presidência: a
invenção de um discurso atribuído a um ministro e a censura
a trechos de um discurso do próprio Lula.
Não é uma insignificância a
decisão sobre IBGE e imprensa.
É de censura mesmo que se trata. E não pense, leitor, que censura é contra a imprensa. Censura é contra os cidadãos, contra a sociedade.
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