São Paulo, terça-feira, 01 de fevereiro de 2005

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INFORMAÇÃO OFICIAL

Para técnicos do IBGE, portaria começou após polêmica com Lula

Governo nega ato de censura e manipulação de pesquisas

BERTA MARCHIORI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

GABRIELA WOLTHERS
DA SUCURSAL DO RIO

O ministro interino do Planejamento, Nelson Machado, afirmou ontem que a discussão em torno da portaria que restringe a divulgação de pesquisas pelo IBGE é "um caso clássico de tempestade em copo d'água". Ele ainda contestou as acusações de que a medida visaria a censura e permitiria a manipulação dos dados.
O governo federal editou na última sexta uma portaria estabelecendo que o IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) terá de encaminhar o resultado das pesquisas estruturais ao Ministério do Planejamento 48 horas antes de sua divulgação. Fazem parte dessa restrição pesquisas como o Censo, a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) e a POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares)-
Desde então começaram as críticas, sobretudo da oposição, que acusa o governo de ter adotado a medida motivado pela polêmica ocorrida quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva contestou o resultado da POF divulgada em dezembro de 2004, que mostrou que há mais adultos com excesso do que com falta de peso.
Segundo o ministério e o IBGE, a nova portaria estendeu às pesquisas estruturais o procedimento adotado em relação às pesquisas conjunturais, como emprego e inflação. No caso das conjunturais, segundo a portaria de setembro de 2003, o IBGE tem prazo de 24 horas antes da divulgação para enviar os dados ao ministério.
"Essa discussão é um caso clássico de tempestade em copo d'água. Isso foi feito apenas para regularizar o fluxo de informações nas pesquisas estruturais", disse Machado, para quem a medida não altera nada, uma vez que esse procedimento já acontecia informalmente. O presidente do IBGE, Eduardo Pereira Nunes, confirmou que o ministério já recebia as informações das pesquisas estruturais com antecedência. Porém, segundo Nunes, "não havia uma regra escrita".
O ministro negou que a publicação da portaria tenha sido resultado de algum pedido vindo do Planalto após a polêmica em torno da POF. De acordo com Machado, a portaria teria sido solicitada pelo próprio presidente do IBGE.
Nunes confirmou a informação e também negou uma conexão entre a portaria e a Pesquisa de Orçamentos Familiares.
No entanto técnicos do IBGE, que pediram que seus nomes não fossem divulgados, afirmaram que a portaria começou, de fato, a ser planejada e redigida depois da divulgação da POF.
Sobre a acusação de que as informações poderiam ser manipuladas, Machado disse que não é possível alterar pesquisas complexas em 48 horas.
Como as chamadas pesquisas estruturais são mais abrangentes, a imprensa as recebe com antecedência, para ter tempo de destrinchar os dados, desde que se comprometa a não divulgar os resultados antes do prazo.
Segundo a assessoria do IBGE, o fato de a imprensa continuar a ter acesso aos dados antes da divulgação impossibilita a manipulação dos dados.
Afinal, bastará aos jornalistas compararem os dados que receberam com o que foi divulgado para notar mudanças.


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