São Paulo, quinta-feira, 01 de fevereiro de 2007

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Pelo controle da Câmara, PT e PMDB formam megabloco

Em composição inédita, partidos se unem em três frentes para a eleição de hoje

Grupo de Chinaglia acredita que nova formação pode levar seu candidato à vitória já no primeiro turno na disputa contra Aldo e Fruet


Leopoldo Silva/Folha Imagem
Deputados registram na secretaria-geral da Mesa da Câmara o bloco liderado por PT e PMDB


LETÍCIA SANDER
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na guerra de nervos em que se transformou a reta final da disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, os dois principais partidos da Casa, PT e PMDB, lideraram a formação de um inédito megabloco, reunindo 273 parlamentares -mais da metade da Casa-, para tentar controlar seis dos 11 cargos na Mesa Diretora, além de 11 das 20 comissões.
A eleição para a presidência e para os demais cargos da Mesa acontece hoje a partir das 15h. O chamado "bloco da recomposição" integra o PT e PMDB e também PSC, PTC, PT do B, PP, PR e PTB -as três últimas legendas tiveram parlamentares suspeitos de envolvimento no escândalo do mensalão.
Além do megabloco, foram compostas ontem outras duas frentes, criando um cenário nunca visto numa eleição da Câmara. O segundo bloco é integrado por PC do B, PSB, PDT, PAN e PMN, que tem 68 federais. A terceira frente, de oposição, tem PSDB, PFL e PPS, reunindo 153 parlamentares.
Os partidos se unem em blocos somente para aumentar o poder de barganha na definição dos cargos da Mesa Diretora. Isso ocorre porque o tamanho das bancadas - e dos blocos, no caso - é determinante na ordem de escolha dos cargos. Os maiores escolhem primeiro.
Porém, a aliança em blocos não garante transferência de votos na eleição dos 11 cargos da Mesa. Os candidatos apostam suas fichas nas chamadas "traições". O voto é secreto e, por isso, o deputado pode contrariar a orientação partidária.
Segundo os próprios integrantes dos partidos, os blocos não vão durar até o Carnaval. O reflexo da formação dos blocos na eleição para a presidência é duvidoso. O PFL, por exemplo, faz parte do bloco de oposição, mas mantém o apoio a Aldo.
O regimento interno permite que as frentes sejam dissolvidas a qualquer momento. Aliados de Arlindo Chinaglia (PT-SP), de todo modo, avaliam que a formação do megabloco deve ajudar a eleger o petista, talvez já no primeiro turno. Consideram que os deputados indecisos das legendas que integram esta formação tendem a escolher o petista.
Em busca de votos, o PT cedeu os cargos a que teria direito na Mesa aos aliados. Mas a operação tem riscos: se Chinaglia perder, o PT estará, novamente, fora da Mesa. Pela divisão acertada ontem, o PMDB ficará com duas vagas na Mesa, entre elas a primeira-secretaria, espécie de "prefeitura" da Câmara.
A primeira vice-presidência caberá ao PSDB. O PR ficará com a corregedoria, instância responsável pela investigação dos parlamentares. O PFL levará a quarta-secretaria. Restam ainda quatro suplências, que serão divididas, no voto, entre PTB, PDT, PPS e PT. O PT promete indicar uma mulher.
O líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), afirmou que o partido mantém o apoio a Aldo, apesar da decisão de integrar o bloco de oposição, encabeçado pelo PSDB do candidato Gustavo Fruet (PR). "O PT criou uma confusão na instituição e pela primeira vez deixa claro sua natureza e sua identidade", disse.
"Esse bloco é "overnight", aliás, todos são", reconheceu José Carlos Aleluia (PFL-BA).
A atração do PFL ao bloco teve apoio do governador paulista, José Serra (PSDB), preocupado com um eventual domínio de governistas na Câmara. Com o bloco, a oposição garante três vagas na Mesa. A "guerra de blocos" começou com movimentações de PDT, PSB e PC do B. Eles resolveram se juntar para tentar faturar mais espaço na Mesa. No entanto, foram "atropelados" por aliados de Chinaglia.
Nos bastidores, líderes reconhecem que a união em blocos obedece a uma função meramente fisiológica, se mantendo até a partilha de cargos.
"Como é próprio dos blocos, eles vão durar até o Carnaval", ironizou o deputado Chico Alencar (RJ). O seu PSOL não integra blocos, como o PV.
Aliados de Aldo negam o fisiologismo. "O bloco foi uma opção política, não foi casuísmo só para compor a Mesa", disse o vice-líder do governo, Beto Albuquerque (PSB-RS). "Eles [PC do B e PSB] formaram um bloco para dar um golpe. E a gente foi forçado a reagir", retrucou o líder do PP, Mário Negromonte (BA).


Colaborou ADRIANO CEOLIN, da Sucursal de Brasília

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