São Paulo, segunda-feira, 01 de março de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SOMBRA NO PLANALTO

José Sarney e João Paulo Cunha fecham estratégia governista para abafar as CPIs que querem investigar o caso Waldomiro

Governo vê semana decisiva no Congresso

RANIER BRAGON
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os presidentes do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha (PT-SP), acertaram no final de semana a estratégia governista para enfrentar o caso Waldomiro Diniz no Congresso: a avaliação é que, se o Palácio do Planalto mantiver o controle da situação nesta semana, considerada "crucial" por eles, a crise, avaliada como "minguante", estará praticamente contornada.
O que implodiria qualquer tentativa de controlar a situação seria o surgimento de um fato novo, outro escândalo. A preocupação primeira de Sarney e João Paulo, que almoçaram juntos anteontem e conversaram ontem por telefone, é evitar a todo custo a instalação de CPIs no Senado para investigar ou o caso Waldomiro Diniz ou as casas de bingo.
Há dois requerimentos na Casa pedindo a instalação de CPIs. O primeiro, do líder do PL, senador Magno Malta (ES), conta com 33 assinaturas, das quais 11 são da base aliada, sendo 7 de petistas. O objetivo seria investigar a atividade dos bingos no país.
O governo avalia que a oposição faria de tudo para direcionar o foco da investigação para Waldomiro Diniz, o ex-assessor do ministro José Dirceu (Casa Civil) flagrado pedindo doação de campanha e propina a um empresário do jogo, em 2002, quando trabalhava no governo Benedita da Silva (PT), no Rio de Janeiro.
O outro requerimento, do PSDB, quer investigar o caso específico de Waldomiro. Ele teria 24 assinaturas, 3 a menos do que o necessário para a apresentação do pedido de instalação, que é 27 (um terço da Casa).

Estratégia
A Folha apurou que a estratégia acertada entre Sarney e João Paulo prevê uma mobilização dos partidos da base aliada -PL e o PMDB de Renan Calheiros (AL), em especial- para evitar que o requerimento do PSDB atinja o número de assinaturas exigido.
No caso do requerimento do PL, a idéia é forçar os aliados que assinaram o pedido a retirar o nome. O vice-presidente José Alencar (PL), que deixou ontem o hospital onde foi operado da vesícula, em São Paulo, entraria no circuito para desarmar as resistências no PL, seu partido.
Ao longo de sua história, o PT sempre se posicionou a favor da instalação de CPIs, como no caso da compra de votos para a emenda de reeleição, em 1997, e depois da divulgação do chamado grampo do BNDES, em 1998.
Sarney seria preservado ao máximo e só usaria os poderes inerentes ao seu cargo caso a pressão falhasse. Nesse caso, ele argumentaria que não há "fato determinado" no pedido de investigação e proporia à Mesa o arquivamento do requerimento. O senador quer afastar "a saída autoritária".
Nos contatos que mantiveram no final de semana, Sarney e João Paulo avaliaram ainda que os fatos surgidos até o momento não atingem diretamente Dirceu e que o possível depoimento de Waldomiro -que deve ocorrer amanhã- não deve comprometer seus ex-chefes.

Trabalho
Com isso, a ordem é inchar o Congresso de trabalho. Na Câmara, as artilharias governistas serão concentradas na discussão da medida provisória que proíbe os bingos -o relator, do PT, deve sair até quarta-feira-, na apreciação de oito MPs que trancam a pauta e na votação, após isso, do projeto de Parcerias Público-Privadas.
No Senado, além da operação-abafa contra as CPIs, são prioridades as MPs do setor elétrico. João Paulo e Sarney combinaram ainda dar andamento às propostas de reforma política mesmo sem consenso na base aliada.
Malta apresenta amanhã requerimento à Mesa para a instalação da CPI dos bingos. Ele rebateu o argumento de que o texto não trataria de um fato concreto e, portanto, seria inconstitucional.
De acordo com o requerimento, a CPI vai investigar "a utilização das casas de bingo para a prática do crime de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores como a relação dessas casas e de empresas concessionárias".
Na defesa da CPI, Malta conta com o apoio do líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM). "Se isso acontecer [Mesa rejeitar o documento], reescrevemos o requerimento", disse o tucano.



Texto Anterior: Outro lado: Para Planejamento, foi necessário manter austeridade
Próximo Texto: Miro acha reforma política "muito ruim"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.