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SOMBRA NO PLANALTO
José Sarney e João Paulo Cunha fecham estratégia governista para abafar as CPIs que querem investigar o caso Waldomiro
Governo vê semana decisiva no Congresso
RANIER BRAGON
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os presidentes do Senado, José
Sarney (PMDB-AP), e da Câmara
dos Deputados, João Paulo Cunha (PT-SP), acertaram no final
de semana a estratégia governista
para enfrentar o caso Waldomiro
Diniz no Congresso: a avaliação é
que, se o Palácio do Planalto mantiver o controle da situação nesta
semana, considerada "crucial"
por eles, a crise, avaliada como
"minguante", estará praticamente contornada.
O que implodiria qualquer tentativa de controlar a situação seria
o surgimento de um fato novo,
outro escândalo. A preocupação
primeira de Sarney e João Paulo,
que almoçaram juntos anteontem
e conversaram ontem por telefone, é evitar a todo custo a instalação de CPIs no Senado para investigar ou o caso Waldomiro Diniz
ou as casas de bingo.
Há dois requerimentos na Casa
pedindo a instalação de CPIs. O
primeiro, do líder do PL, senador
Magno Malta (ES), conta com 33
assinaturas, das quais 11 são da
base aliada, sendo 7 de petistas. O
objetivo seria investigar a atividade dos bingos no país.
O governo avalia que a oposição
faria de tudo para direcionar o foco da investigação para Waldomiro Diniz, o ex-assessor do ministro José Dirceu (Casa Civil) flagrado pedindo doação de campanha
e propina a um empresário do jogo, em 2002, quando trabalhava
no governo Benedita da Silva
(PT), no Rio de Janeiro.
O outro requerimento, do
PSDB, quer investigar o caso específico de Waldomiro. Ele teria
24 assinaturas, 3 a menos do que o
necessário para a apresentação do
pedido de instalação, que é 27
(um terço da Casa).
Estratégia
A Folha apurou que a estratégia
acertada entre Sarney e João Paulo prevê uma mobilização dos
partidos da base aliada -PL e o
PMDB de Renan Calheiros (AL),
em especial- para evitar que o
requerimento do PSDB atinja o
número de assinaturas exigido.
No caso do requerimento do
PL, a idéia é forçar os aliados que
assinaram o pedido a retirar o nome. O vice-presidente José Alencar (PL), que deixou ontem o hospital onde foi operado da vesícula,
em São Paulo, entraria no circuito
para desarmar as resistências no
PL, seu partido.
Ao longo de sua história, o PT
sempre se posicionou a favor da
instalação de CPIs, como no caso
da compra de votos para a emenda de reeleição, em 1997, e depois
da divulgação do chamado grampo do BNDES, em 1998.
Sarney seria preservado ao máximo e só usaria os poderes inerentes ao seu cargo caso a pressão
falhasse. Nesse caso, ele argumentaria que não há "fato determinado" no pedido de investigação e
proporia à Mesa o arquivamento
do requerimento. O senador quer
afastar "a saída autoritária".
Nos contatos que mantiveram
no final de semana, Sarney e João
Paulo avaliaram ainda que os fatos surgidos até o momento não
atingem diretamente Dirceu e que
o possível depoimento de Waldomiro -que deve ocorrer amanhã- não deve comprometer
seus ex-chefes.
Trabalho
Com isso, a ordem é inchar o
Congresso de trabalho. Na Câmara, as artilharias governistas serão
concentradas na discussão da medida provisória que proíbe os bingos -o relator, do PT, deve sair
até quarta-feira-, na apreciação
de oito MPs que trancam a pauta
e na votação, após isso, do projeto
de Parcerias Público-Privadas.
No Senado, além da operação-abafa contra as CPIs, são prioridades as MPs do setor elétrico.
João Paulo e Sarney combinaram
ainda dar andamento às propostas de reforma política mesmo
sem consenso na base aliada.
Malta apresenta amanhã requerimento à Mesa para a instalação
da CPI dos bingos. Ele rebateu o
argumento de que o texto não trataria de um fato concreto e, portanto, seria inconstitucional.
De acordo com o requerimento,
a CPI vai investigar "a utilização
das casas de bingo para a prática
do crime de lavagem ou ocultação
de bens, direitos e valores como a
relação dessas casas e de empresas concessionárias".
Na defesa da CPI, Malta conta
com o apoio do líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM). "Se
isso acontecer [Mesa rejeitar o documento], reescrevemos o requerimento", disse o tucano.
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