São Paulo, terça-feira, 01 de março de 2005

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QUESTÃO INDÍGENA

Os índios, de Campinápolis (MT), tinham menos de cinco anos; em Dourados (MS), ocorreram cinco mortes

Desnutrição também mata 5 crianças xavantes

Ademir Almeida/Folha Imagem
Família de índios em Dourados (MS), onde cinco crianças morreram desnutridas, recebem cesta básica que alimenta sete pessoas


HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

A Funasa (Fundação Nacional de Saúde) informou ontem que a desnutrição matou cinco crianças índias, menores de cinco anos, da etnia xavante, em Campinápolis (565 km de Cuiabá), Mato Grosso, de janeiro a fevereiro deste ano. O chefe do DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena), Paulo Félix, afirmou que provavelmente mais uma morte ocorreu, porém a Funasa não foi notificada.
Em Dourados (218 km de Campo Grande), Mato Grosso do Sul, também cinco crianças, das etnias guarani e caiuá, morreram por causa da desnutrição, quatro delas em fevereiro.
No sábado, morreu mais uma. A Funasa diz que a morte de Robson Garcia Fernandes, de dois anos e quatro meses, foi causada provavelmente por insuficiência renal. O capitão (líder máximo) da aldeia Bororó, o índio guarani Luciano Arévolo, 50, afirmou que o menino estava desnutrido.
"Aqui a gente não tem ajuda. Faltam remédios. Tem paciente internado no chão. Não tem carro [ambulância] para buscar o doente. Não está tendo comida para as crianças", disse ontem o índio xavante João Jorge Tserenhoto, 30, que mora na aldeia São Félix, em Campinápolis.
Tserenhoto afirmou que o filho Josimar, de dois anos e cinco meses, está desnutrido, mas não consegue atendimento no posto de saúde da cidade.
Edson Silva Beiriz, administrador regional da Funai (Fundação Nacional do Índio), relata que os índios não conseguem plantar nas aldeias por falta de apoio à agricultura indígena. Segundo ele, a Funai entrega sementes e adubos, mas em quantidade insuficiente. Em Campinápolis, informa Beiriz, existem 57 aldeias onde vivem 6.500 xavantes.
O coordenador regional da Funasa, Jossy Soares Santos da Silva, afirma que as plantações de soja "cercaram as aldeias" e os xavantes não contam mais com as florestas para caçar e pescar.
Silva diz que a Funasa tem programas de combate à desnutrição nas aldeias, mas esbarra na resistência dos índios. Desde 2001, segundo o coordenador, os xavantes tomaram e não devolveram sete carros de serviço da Funasa, sendo quatro ambulâncias.
A Funasa nega a falta de medicamentos e aponta os seguintes problemas: 1) alcoolismo entre os índios, 2) insistência no tratamento de saúde tradicional do pajé, o que agrava o estado das crianças, 3) mudança no hábito alimentar e abandono de roças comunitárias, 4) troca do leite materno por mamadeiras levando à diarréia e 5) o preconceito contra os índios na rede do SUS (Sistema Único de Saúde).

Armas
Os xavantes também enfrentam conflito pela posse da terra, o que agrava o quadro de saúde das crianças. Desde o fim de 2004, cerca de 450 índios convivem em uma mesma área com 300 posseiros em Alto Boa Vista (1.100 km de Cuiabá). Antes de os xavantes entrarem nessa propriedade, três crianças menores de dois anos morreram de problemas respiratórios no acampamento dos índios, então montado na BR-163.
Na semana passada, um grupo de índios encontrou homens armados na área, segundo a Funai. Os xavantes apreenderam sete espingardas, três revólveres calibre 38, uma pistola 765 e outra 45, e mais de 500 balas.


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