São Paulo, quarta-feira, 01 de maio de 2002

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RUMO ÀS ELEIÇÕES

Em fala a empresários, tucano defende reforma do sistema

Serra critica carga tributária recorde de FHC e ataca Lula

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

José Serra, pré-candidato do governo à Presidência, declarou que o Brasil teve, nos últimos dez anos, o maior aumento da carga tributária já sofrido por um país do Ocidente em tempos de paz. De acordo com ele, o aumento, neste período, foi de dez pontos do PIB. De 24% do PIB, a carga tributária subiu para 34%.
"O governo tem uma visão lúcida sobre isso, apenas ouviu demais e começa a dar volta em interesses contraditórios", disse.
A afirmação do tucano foi feita durante um discurso de 40 minutos para uma seleta platéia de cerca de 350 empresários, que pagaram R$ 2.500 por um jantar realizado na noite de anteontem em São Paulo.
Entre os participantes do jantar, estavam Antônio Ermírio de Moraes (Votorantim), Paulo Cunha (Ultra), Pedro Moreira Salles (Unibanco), Paulo Setúbal (Itaú), Fernão Bracher (BBA), Eugênio Staub (Gradiente) e Carlos Alberto Vieira (Safra), entre outros.
A declaração de Serra atinge diretamente o presidente Fernando Henrique Cardoso, pois o maior aumento das taxas tributárias ocorreu durante sua gestão. Em sete anos de governo, a carga tributária subiu cerca de oito pontos percentuais.
Segundo o economista Raul Velloso, especialista em contas públicas, o governo FHC usou todos os instrumentos que dispunha para aumentar a carga tributária.
"O governo criou novos impostos, aumentou as alíquotas dos já existentes e ainda mexeu na base tributária", disse Velloso, que lembrou que todas as decisões na área tributária foram aprovadas pelo Congresso. "Nos países democráticos é muito difícil se aumentar imposto em tempo de paz como ocorreu no Brasil", disse.
Em seu discurso para os empresários, Serra defendeu uma mudança da estrutura tributária, com o objetivo de incentivar o aumento das exportações, que devem "As exportações devem virar obsessão nacional", afirmou.
Ao fazer a crítica ao aumento da carga tributária, Serra atacou indiretamente a idéia defendida dias antes pelo pré-candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, de criar alíquotas para o IR de 5% a 50%, num sistema de cobrança progressivo. Atualmente, a alíquota mais alta é de 27,5%.
Serra disse que se isso fosse aplicado, iria criar uma confusão gigantesca no país e o resultado prática da medida seria pífio. Segundo ele, a nova alíquota iria aumentar em apenas R$ 1 bilhão a R$ 2 bilhões a arrecadação tributária e iria gerar uma grande sonegação de impostos. "Não compensaria a confusão", afirmou.
Serra disse que o país está no "rumo certo, mas é preciso avançar". "O que pretendemos é acelerar esse processo de mudança."
Apesar de ter sido aplaudido de pé, o discurso não agradou totalmente aos empresários. Muitos consideraram sua oratória longa e sem um foco específico.
Nos 40 minutos, Serra falou sobre violência, democracia, tráfico de armamentos e de drogas, sua gestão no Ministério da Saúde e economia, entre outros temas. Por ter falado de muitos assuntos, os empresários consideraram o discurso disperso, apesar de concordarem com todas suas idéias.
Duas curiosidades ocorreram no início do jantar. A primeira foi quando o presidente do PSDB, José Aníbal, cometeu um ato falho na apresentação de Serra à platéia. No lugar de dizer que Serra não era de conversas, mas sim de ação, Aníbal disse que Serra não era homem "de palavra".
Em seguida foi a vez de Serra. Ao ser chamado a discursar, pediu alguns minutos para terminar de comer o salmão servido como entrada do jantar. "Eu consigo ser lúcido quando estou cansado ou com sono, mas com fome não", justificou-se à platéia.


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