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RUMO ÀS ELEIÇÕES
Em fala a empresários, tucano defende reforma do sistema
Serra critica carga tributária
recorde de FHC e ataca Lula
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
José Serra, pré-candidato do governo à Presidência, declarou que
o Brasil teve, nos últimos dez
anos, o maior aumento da carga
tributária já sofrido por um país
do Ocidente em tempos de paz.
De acordo com ele, o aumento,
neste período, foi de dez pontos
do PIB. De 24% do PIB, a carga
tributária subiu para 34%.
"O governo tem uma visão lúcida sobre isso, apenas ouviu demais e começa a dar volta em interesses contraditórios", disse.
A afirmação do tucano foi feita
durante um discurso de 40 minutos para uma seleta platéia de cerca de 350 empresários, que pagaram R$ 2.500 por um jantar realizado na noite de anteontem em
São Paulo.
Entre os participantes do jantar,
estavam Antônio Ermírio de Moraes (Votorantim), Paulo Cunha
(Ultra), Pedro Moreira Salles
(Unibanco), Paulo Setúbal (Itaú),
Fernão Bracher (BBA), Eugênio
Staub (Gradiente) e Carlos Alberto Vieira (Safra), entre outros.
A declaração de Serra atinge diretamente o presidente Fernando
Henrique Cardoso, pois o maior
aumento das taxas tributárias
ocorreu durante sua gestão. Em
sete anos de governo, a carga tributária subiu cerca de oito pontos
percentuais.
Segundo o economista Raul Velloso, especialista em contas públicas, o governo FHC usou todos
os instrumentos que dispunha
para aumentar a carga tributária.
"O governo criou novos impostos, aumentou as alíquotas dos já
existentes e ainda mexeu na base
tributária", disse Velloso, que
lembrou que todas as decisões na
área tributária foram aprovadas
pelo Congresso. "Nos países democráticos é muito difícil se aumentar imposto em tempo de paz
como ocorreu no Brasil", disse.
Em seu discurso para os empresários, Serra defendeu uma mudança da estrutura tributária,
com o objetivo de incentivar o aumento das exportações, que devem "As exportações devem virar obsessão
nacional", afirmou.
Ao fazer a crítica ao aumento da
carga tributária, Serra atacou indiretamente a idéia defendida
dias antes pelo pré-candidato do
PT, Luiz Inácio Lula da Silva, de
criar alíquotas para o IR de 5% a
50%, num sistema de cobrança
progressivo. Atualmente, a alíquota mais alta é de 27,5%.
Serra disse que se isso fosse aplicado, iria criar uma confusão gigantesca no país e o resultado prática da medida seria pífio. Segundo ele, a nova alíquota iria aumentar em apenas R$ 1 bilhão a
R$ 2 bilhões a arrecadação tributária e iria gerar uma grande sonegação de impostos. "Não compensaria a confusão", afirmou.
Serra disse que o país está no
"rumo certo, mas é preciso avançar". "O que pretendemos é acelerar esse processo de mudança."
Apesar de ter sido aplaudido de
pé, o discurso não agradou totalmente aos empresários. Muitos
consideraram sua oratória longa e
sem um foco específico.
Nos 40 minutos, Serra falou sobre violência, democracia, tráfico
de armamentos e de drogas, sua
gestão no Ministério da Saúde e
economia, entre outros temas.
Por ter falado de muitos assuntos,
os empresários consideraram o
discurso disperso, apesar de concordarem com todas suas idéias.
Duas curiosidades ocorreram
no início do jantar. A primeira foi
quando o presidente do PSDB, José Aníbal, cometeu um ato falho
na apresentação de Serra à platéia.
No lugar de dizer que Serra não
era de conversas, mas sim de
ação, Aníbal disse que Serra não
era homem "de palavra".
Em seguida foi a vez de Serra.
Ao ser chamado a discursar, pediu alguns minutos para terminar
de comer o salmão servido como
entrada do jantar. "Eu consigo ser
lúcido quando estou cansado ou
com sono, mas com fome não",
justificou-se à platéia.
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