São Paulo, quarta-feira, 01 de maio de 2002

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JANIO DE FREITAS

O ataque suspeito

O ataque feito à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva pelas empresas americanas Morgan Stanley, Merrill Lynch e outras especialistas em jogadas na ciranda financeira, no mundo todo, ou é preparação de algum negócio especulativo com moedas ou ações, ou resulta de grotesca desinformação sobre o cenário atual da disputa sucessória no Brasil.
Em relação aos Estados Unidos, esse cenário remonta a meio século atrás, quando Juscelino e o general Juarez Távora disputaram, em 1955, uma eleição em que nenhum resultado deixaria felizes os agentes do capital americano e do governo idem. A derrubada e morte de Getúlio, no ano anterior, não o substituía por um americanófilo, como o FMI e o Departamento de Estado logo constatariam com a Operação Pan-americana lançada por Juscelino.
Na eleição seguinte os Estados Unidos e seus agentes continuaram sem chances, travada a disputa entre o general Lott, francamente nacionalista, e Jânio Quadros com suas demonstrações de preferência pela modalidade de nacionalismo terceiro-mundista do egípcio Nasser.
Seria exagerado dizer que algum dos citados era antiamericano. Mas os quatro tiveram, em diferentes graus, clara disposição de servir aos interesses da soberania brasileira quando os interesses privados ou oficiais dos Estados Unidos pretenderam o oposto.
Está mal informado, se não age de má-fé, quem atribui a José Serra a mesma atitude volúvel de Fernando Henrique Cardoso diante de interesses americanos, sejam os de natureza política (no governo Clinton) ou financeiros privados. Pelo menos até hoje, as idéias de Serra não são as de alguém que, na família Cardoso e entre os amigos mais próximos, até sete ou oito anos atrás seria chamado de entreguista, se escapasse de ser vendido. Depois, o vocabulário foi mudado, com as idéias, mas será tolo e injusto envolver nisso José Serra.
De Ciro Gomes nem seria preciso dizer que não deu, até agora, nenhum sinal que não fosse de privilégio absoluto à soberania do Estado brasileiro na política internacional, como em relação aos interesses privados estrangeiros ou domésticos.
A procedência brizolista de Anthony Garotinho e sua presença no PSB contêm uma sugestão, mas o governador e o candidato não proporcionaram mais que isso como definição de idéias.
As chances de felicidade da política americana e dos agentes da ciranda financeira internacional, na sucessão brasileira, não dependem só de Lula. E, se existem, são muito poucas. Para o bem de todos e felicidade geral da nação.



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