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São Paulo, quinta-feira, 01 de maio de 2003

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"Os senhores e as senhoras são donos do jogo"

Leia a íntegra do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso:
 
"Excelentíssimo sr. deputado João Paulo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, Excelentíssimo sr. José Alencar, meu querido companheiro, vice-presidente da República, Excelentíssimo sr. senador José Sarney, presidente do Senado Federal, minha companheira Marisa, companheiros e companheiras parlamentares, ministros e ministras aqui presentes, meus amigos que compõem o Conselho de Desenvolvimento Social e Econômico.
João Paulo, apenas um pequeno reparo aqui. Essa proposta que eu vou entregar em suas mãos daqui a alguns segundos não é apenas uma proposta do governo federal. Essa proposta ela é do governador Paulo Souto, da Bahia, ela é da Rosinha Garotinho, governadora do Rio de Janeiro, ela é de José Reinaldo Tavares, governador do Estado do Maranhão, ela é do governador Simão Jatene, governador do Estado do Pará, ela é do Jarbas Vasconcelos, governador do Estado de Pernambuco, ela é do Geraldo Alckmin, governador do Estado de São Paulo, ela é do Aécio Neves da Cunha, governador do Estado de Minas Gerais, ela é do Marconi Ferreira Perillo Júnior, governador do Estado de Goiás, ela é do Blairo Maggi, governador do Estado do Mato Grosso do Sul, do Mato Grosso, desculpa, do Germano Rigotto, governador do Estado do Rio Grande do Sul, do Lúcio Gonçalo de Alcântara, governador do Estado do Ceará, do Cássio Cunha Lima, governador do Estado da Paraíba, do Paulo Hartung, governador do Estado do Espírito Santo, do Wellington Dias, governador do Estado do Piauí, da Wilma Maria de Faria, governadora do Estado do Rio Grande do Norte, do Luiz Henrique da Silveira, governador do Estado de Santa Catarina, do Ronaldo Lessa, governador do Estado de Alagoas, do João Alves, governador do Estado de Sergipe, do Eduardo Braga, governador do Estado do Amazonas, do Roberto Requião de Mello e Silva, governador do Estado do Paraná, do Jorge Vianna, governador do Estado do Acre, do José Orcírio dos Santos, governador do Estado do Mato Grosso do Sul, do Ivo Cassol, governador do Estado de Rondônia, do Marcelo Miranda, governador do Estado do Tocantins, do Waldez Góes, governador do Estado do Amapá, do Flamarion Portela, governador do Estado de Roraima, do governador Roriz, governador do Distrito Federal, dos prefeitos de capitais e, possivelmente, de milhões de brasileiros que eu não pude colocar o nome nesse papel.
Meus companheiros e companheiras, deputados e senadores aqui presentes, eu disse, logo que tomei posse, que nós íamos começar fazendo o necessário, depois iríamos fazer o possível e, se Deus nos permitir e todo mundo ajudar, poderemos fazer até o que parece impossível.
Essas reformas, com uma visão do presidente da República e dos governadores de Estados, na hora que entra no Congresso Nacional, na hora que ela entra na Câmara dos Deputados, os senhores e as senhoras são donos do jogo. A vocês cabe aqui, através das comissões, criar os espaços democráticos para a sociedade brasileira dizer o que pensa da reforma. E de vocês depende o resultado. Cada deputado aqui, independentemente da quantidade de votos ou do partido a que pertence, do governo ou da oposição, na hora de votar, o seu voto vale um voto. A única coisa que eu peço, e tenho certeza que assim será, é que o voto será um voto de confiança.
Um voto daqueles que acreditam que o Brasil precisa das reformas. Não apenas estas, presidente João Paulo, não apenas esta. Logo, logo, nós vamos discutir a reforma agrária aqui nesse Congresso Nacional, e o governo mandará uma proposta. Logo, logo, vamos discutir a reforma da estrutura sindical brasileira e, se depender do governo, mandaremos uma proposta. Logo, logo, vamos discutir as reformas na legislação trabalhista, e o governo não se negará a mandar uma proposta, até porque eu acho que todos nós, em algum momento da nossa história, já fizemos críticas a essa Casa. Mas, sem essa Casa, não existiria democracia no nosso país, e nós precisamos valorizá-la ao máximo.
Eu disse a você outro dia, presidente, que em quatro anos de mandato você jamais vai me ver na televisão, no rádio ou no jornal jogando a culpa de qualquer fracasso que eu tenha em cima do Congresso Nacional. Todos nós somos adultos, conquistamos a nossa maioridade, e cada um de nós tem que assumir a sua responsabilidade. A reforma não é para fazer favor para uns, não é para prejudicar outros. A reforma é para ver se nós conseguimos fazer que o nosso país deixe definitivamente de ser um país emergente, em vias do desenvolvimento, e passe a ser um país desenvolvido, um país que conquiste os espaços que já deveria ter conquistado nesse mundo globalizado.
Eu quero, meu companheiro João Paulo, meu presidente Sarney, companheiros da mesa, dizer a vocês que eu tenho quatro anos de mandato. Quatro anos é pouco, mas eu quero dizer a vocês que, nesses quatro anos, 24 horas por dia serão dedicadas para fazer aquilo que eu acredito. A tal da transposição das águas do rio São Francisco, que eu recusei debater durante tanto tempo, que, dependendo do Estado de que você fale, você apanha; dependendo do Estado de que você fale, você é aplaudido. Eu vou lhe confessar, eu não sei se do São Francisco ou de onde, mas vai haver a transposição das águas para o semi-árido nordestino.
Ninguém, ninguém que tem água em excesso pode negar que haja uma política de levar água para uma região sofrida durante tantos e tantos séculos. Ontem eu dizia para um governador de um Estado importante de nosso país que, se ele conhecesse o semi-árido nordestino, ele iria perceber que o pobre de seu Estado é classe média diante da miséria a que nós fomos submetidos durante tantos e tantos séculos nesse país.
Da mesma forma que eu quero realizar um sonho, não meu, um sonho de muitos de vocês aqui, que é a questão da Transnordestina, projeto tão sonhado por todo mundo e que nunca sai do papel. Da mesma forma, João Paulo, quero que você saiba que todas as reformas que nós vamos fazer por esse país serão encaminhadas de forma mais democrática para essa Casa. Eu quero dizer a você que essa Casa aqui tem o tempo que quiser para debater qualquer projeto. O tempo que quiser porque tem autonomia. Entretanto, se eu pudesse dar um conselho aos deputados e aos senadores, eu daria: se não votarmos esse ano, o ano que vem tem eleição para prefeito nesse país e todo mundo sabe que, em ano eleitoral, tudo fica muito mais difícil de ser votado. Até porque eu olho, pela fisionomia das pessoas, eu estou vendo muitos candidatos a prefeitos de cidades importantes aqui nessa Casa.
De qualquer forma, eu não tenho dúvida, pelo que conheço da história de muitos de vocês, de que essa Casa irá fazer aquilo que entender que seja melhor para o Brasil e acredito que todos nós devamos assumir a responsabilidade pelo Brasil que nós desejamos ter no futuro.
Não tem importância que um deputado seja de oposição, não tem importância que um deputado queira falar mal do governo, isso faz parte do jogo democrático. O que não vale, o que não vale em política, é a gente prejudicar 175 milhões de pessoas por conta de uma próxima eleição. Eu acho que cada um de nós tem que ter consciência e trabalhar com a consciência que a sorte está lançada. O povo espera de nós, de mim e de vocês. Eu só espero que cada um cumpra com os seus compromissos, que o Brasil estará melhor do que esteve até hoje.
Eu vou passar para as suas mãos agora, presidente João Paulo, a proposta que foi feita com muito carinho e amor porque, eu não sei se você sabe, eu ainda estou naquela fase de Lula paz e amor".


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