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Para especialistas, programa tem
que evitar "efeito de substituição"
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Sindicalistas e especialistas em
trabalho e renda advertiram ontem da necessidade de monitoramento do programa Primeiro
Emprego, divulgado ontem pelo
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para que não ocorra o chamado "efeito de substituição" (troca
de um empregado adulto por um
jovem, pago com subsídio governamental).
"Os sindicatos devem fiscalizar
e denunciar o uso indevido dos
recursos", disse o presidente da
CUT (Central Única dos Trabalhadores) de São Paulo, Edílson
Paula de Oliveira, 39, que tem 300
sindicatos e 2,3 milhões de trabalhadores filiados.
"Só tenho receio dessa fragilidade [do programa]. Na intenção de
criar o primeiro emprego do jovem, ele pode estar "criando" o último emprego para o profissional", disse o primeiro-vice-presidente e coordenador do núcleo de
ação social da Fiesp (Federação
das Indústrias do Estado de São
Paulo), Carlos Roberto Liboni, 52.
Apesar das ressalvas, os representantes da CUT e da Fiesp definiram o programa como uma boa
iniciativa. O próprio Liboni disse
que abrirá vagas em sua empresa,
que emprega 1.100 pessoas em
Sertãozinho (SP), para jovens
atendidos pelo governo.
Oliveira e Liboni também concordam num ponto: o programa é
positivo, mas só o crescimento da
economia no país representará
solução para o desemprego.
O diretor técnico do Dieese, Sérgio Mendonça, 44, dá uma medida para esse crescimento reparador: no mínimo 4% ao ano (a previsão do governo para 2003 é de
1,5% do Produto Interno Bruto).
"Não tem mágica para isso. Apesar de expressivo, o programa é
pequeno para o tamanho do problema", disse Mendonça.
Segundo pesquisa da Fundação
Seade e do Dieese, do 1,95 milhão
de desempregados em São Paulo
em maio último, 32% tinham entre 18 e 24 anos.
O economista vê como fator positivo do programa a "quebra do
círculo vicioso" para o jovem que
não consegue emprego porque
não tem experiência e, exatamente por isso, nunca consegue tê-la.
O presidente do Fórum Nacional dos Secretários de Estado de
Trabalho, Edir Oliveira, 51, deputado federal pelo PTB do Rio
Grande do Sul, defende pisos regionalizados, e não valores únicos, como previsto no programa
de Lula. Mas sua proposta não foi
adotada pela União.
"Acho que R$ 200 podem não
ser tão atraentes para empresários do Sudeste e do Sul", disse
Oliveira. O governo gaúcho tem a
mais antiga experiência do gênero
entre os Estados. Atendeu 18 mil
jovens desde 1999. O valor pago
pelo governo durante seis meses
acompanha o piso de cada categoria. A média apurada em junho
de 2002 foi de R$ 242,48.
O secretário de Trabalho da Prefeitura de São Paulo, Marcio
Pochmann, 41, disse que mais importante que discutir o valor é garantir a vinculação do trabalho à
formação educacional, o que, segundo ele, o programa federal
contempla. Sobre o chamado
"efeito de substituição", Pochmann disse que "o risco existe, é
verdadeiro, mas a fiscalização pode ser feita pelo Ministério do
Trabalho e pelos sindicatos".
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