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ELIO GASPARI
Com as PPPs, Vanderlei ganha medalha de plástico
Pode-se entender melhor o
que vem a ser o projeto das
Parcerias Público-Privadas de
Lula comparando-o com o que
houve em Atenas. Um bom
exemplo é o caso do corredor
Vanderlei Cordeiro de Lima,
que arrebatou a história da maratona. É um ex-bóia-fria de 35
anos, patrocinado desde 1999
pelo grupo Pão de Açúcar. Deve
receber em torno de R$ 15 mil
mensais.
Quase todos os 10 mil atletas
de 240 países que foram a Atenas receberam alguma forma
de incentivo, do beijo da namorada ao contrato da Nike. É
possível que os jogos modernos
tenham sido disputados por
umas 150 mil pessoas. Houve
príncipes europeus e soldados
etíopes, milionários e miseráveis, fenômenos da natureza e
trapaceiros dopados. Jamais
houve um só caso em que um
atleta tenha competido sob a
proteção de uma cláusula compensatória para a hipótese da
sua desqualificação ou derrota.
E o que é que as PPPs que Lula quer têm a ver com isso? Ao
contrário do que sucede com os
atletas, elas pretendem remunerar o fracasso. Coisa assim: uma
empreiteira e o governo colocam-se de acordo quanto à necessidade de uma ponte entre
duas cidades. Estimam o custo
da obra e conseguem dinheiro
no consórcio BNDES-Fundos de
Pensão. Noves fora o risco desse
tipo de transação, tudo bem. O
empreiteiro e o governo acham
que deve ser construída a ponte,
assim como Vanderlei e seus
patrocinadores acharam que
ele deveria correr a maratona.
O empreiteiro, transformado
em concessionário da ponte, cobrará um pedágio a quem quiser atravessá-la. Admitindo-se
que ela foi projetada esperando
um movimento de 100 mil veículos por mês, se aparecerem
200 mil carros, o negócio será
ótimo, como foi ótima a idéia de
inscrever Vanderlei na maratona. Pelas leis do capitalismo,
nesse caso o empreiteiro/
concessionário/parceiro/amigo/companheiro fica com o lucro. Como o capitalismo não
chegou ao Brasil, se o movimento da ponte for decepcionante, e
os carros não chegarem a 50
mil, é a patuléia quem paga pelo fracasso, pois o governo assegura ao empreiteiro/companheiro um lucro mínimo equivalente ao movimento de 100
mil veículos.
O PPP transforma-se em Participação da Patuléia no Prejuízo. Algo como um atleta que
embarca para a Olimpíada para disputar duas provas, não
consegue classificação e embolsa um dinheiro porque sua parceria com o patrocinador prevê
a remuneração do fracasso.
Lula acha que está inovando,
quando apenas reedita astúcias
plutocráticas de latino-americanos. Há um ano, falando em
Nova York, ele anunciou: "Nós
vamos ampliar as nossas obras
de infra-estrutura; estamos trabalhando a integração física da
América do Sul. [...] Queremos
chamar o empresário que queira investir no Brasil, que queira
fazer parceria com o governo,
que queira fazer parceria com a
iniciativa privada brasileira ou
que queira trabalhar por concessão".
Em 1913, o presidente americano Woodrow Wilson disse o
seguinte: "Há uma peculiaridade na história dos Estados latino-americanos e eu estou certo
de que eles estão perfeitamente
conscientes dela. Na América
Latina você ouve falar em "concessões" para capitalistas estrangeiros. Você não ouve falar
em concessões para capitalistas
estrangeiros nos Estados Unidos. Aqui eles não recebem concessões. Eles são convidados para fazer investimentos. [...] É
um convite, não um privilégio".
Se ninguém cuidar, Lula cria
um comissariado de parcerias
para a concessão de medalhas
olímpicas. Por falta de recursos,
serão de plástico.
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